ENTREVISTA

Herdeira do lendário líder das Festas de Agosto fala sobre o evento deste ano

Entrevista com Luciene Pimenta Borges, professora e filha de Mestre Zanza

Adriana Queiroz
Publicado em 05/08/2022 às 22:48.
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

Nosso bate-papo de hoje é com a professora Luciene Pimenta Borges, de 57 anos, filha do mestre Zanza, falecido no ano passado.  

As Festas de Agosto voltam a ser realizadas nas ruas, após dois anos sem ocorrer devido à pandemia. Mas um pouco mais triste, sem Mestre Zanza. 

Quando criança, Luciene residiu com os pais na rua Pedro Cardoso, antiga rua Ceará, no bairro Morrinhos. Lá ficou até o dia do seu casamento, quando se mudou para São Paulo. É mãe de 3 filhos, que já participaram e ainda participam, de alguma forma, das Festas de Agosto.

Luciene também tem uma netinha, Júlia, de 5 anos, que saiu de princesa em seus dois primeiros anos de vida. No último ano em que houve as Festas de Agosto, desfilou como catopezinha. Neste ano, sairá de princesa novamente, e está muito animada. 
 
As Festas de Agosto estão chegando. O que você está fazendo na associação?
Assim como nos anos anteriores, tenho ajudado na confecção de penachos e capacetes. Meu pai sempre solicitava minha ajuda nesses preparativos. Continuo prestando esse apoio, agora junto ao meu irmão Júnio. 
 
Como está o coração, sem a presença do seu pai?
Com certeza será um ano em que viverei as Festas de Agosto de um jeito totalmente diferente. Não há como prever as emoções. É um misto de alegria e tristeza. Sinto a presença de pai no bater de cada tambor e pandeiro, no canto entoado pelos dançantes. As Festas de Agosto trazem a lembrança do olhar do meu pai, que brilhava por todos esses dias, de sua fala contagiante ao mencionar a alegria que as festas traziam para todo o povo de Montes Claros.   
 
Conte uma história dos catopês que lhe marcou.
Uma história marcante por ter sido um fato trágico e depois engraçado (risos). Certo ano, foi servido um almoço aos catopês, marujos e caboclinhos, em comemoração a um dos reinados e desfile ocorridos naquele dia. A comida, no entanto, causou um desarranjo intestinal em quase todos os integrantes dos ternos. Os hospitais ficaram sobrecarregados com tantos dançantes das festas folclóricas de agosto. Muitos ainda se lembram do piririri que tiveram naquele dia.  
 
Que mensagem você deixa para quem vive as festas com a mesma intensidade que vocês?
Nunca percam a fé. As Festas de Agosto trazem a alegria de um povo que acredita em Deus, em Nossa Senhora e nos santos. E é essa fé que nos impulsiona, que não nos deixa desistir diante das adversidades. O povo que dança e se alegra nas festas é o mesmo que sofre com as mazelas da vida, que entende ser pecador, e por isso se rende a misericórdia divina. As festas de agosto trazem essa sabedoria do povo humilde, que se alegra na presença de Deus, agradecendo e confiando nas graças que recebemos.
 
Como é a participação das mulheres nos catopês?
Elas participam somente no terno de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e na caboclada e não em todos os grupos. 
 
Mestre Zanza aceitava bem a participação das mulheres?
Pode ser que, no início ele tenha oferecido resistência, mas essa resistência foi quebrada. E o que se pode perceber, é que meu pai incentivava a participação das mulheres nos ternos. Elas ganharam força e conquistaram seu lugar com catopês.  

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