Georgino Neto tem dois livros publicados, de poemas e contos. O primeiro livro, de 2020, tem o título de “Poesia Ainda que à Tardinha”. O novo livro, com lançamento programado para o dia 17 de outubro, às 19h, no Sanchos Restaurante, chama-se “Outro Livro”, inspirado nas relações cotidianas que constrói ao longo do tempo. “As obras reúnem um conjunto de poemas e micro-contos, selecionados a partir de um projeto literário que possuo nas redes sociais, intitulado de “Tabacaria”, em homenagem ao espetacular poema de Fernando Pessoa”, diz.
Algum personagem do livro foi inspirado em sua vivência?
Eu diria que todo personagem carrega um pouco das vivências do escritor. Se não literalmente, ao menos no sentido de que quem escreve não o faz só com as mãos, mas especialmente com a cabeça e o coração, e, portanto, imprime sua marca particular nos sujeitos de sua escrita.
Quanto tempo levou para escrevê-lo?
O “Outro Livro” foi escrito em um período relativamente curto de tempo, haja vista que grande parte do material do livro já estava publicado, em pílulas, nas páginas da “Tabacaria”. Diria que o trabalho foi mais de seleção e reorganização dos textos (são 59 poemas e micro-contos), o que levou em torno de uns quatro meses. Quanto ao período da produção literária propriamente dita que forma o conjunto da obra, o tempo estimado foi de um ano.
Como é a sua rotina de trabalho com a escrita? Você estabelece metas para si? Você tem outras ocupações profissionais além da escrita?
A minha rotina de escrita é determinada pela minha rotina de trabalho fora da escrita. Ou seja, minha profissão de professor universitário acaba influenciando fortemente o ritmo da minha produção literária. Não é nada fácil conciliar estes dois mundos de interesses, pois tenho colocado o Georgino-escritor no mesmo patamar do Georgino-professor, o que forçosamente me exige o estabelecimento de metas para as escritas. No entanto, as metas do trabalho de professor, que pagam as contas do escritor, são por vezes cansativas e muitas, fazendo com que o fabrico literário fique à mercê deste tempo impreciso, imprevisto e, quase sempre, pouco.
Quais os desafios diários de um escritor?
Penso que o principal desafio do escritor é exatamente este de conciliar uma rotina profissional quase sempre atrelada em paralelo ao ofício da escrita. Pouquíssimos escritores no mundo conseguem viver exclusivamente da profissão de escritor, e ter que produzir concomitante a tantas outras demandas é realmente um enorme desafio.
Qual é o papel das redes sociais para o seu trabalho de escritor?
A Internet e as redes sociais ocasionaram uma verdadeira revolução na dinâmica da produção literária. A relação escritor-editora-público foi profundamente impactada por esta nova/outra realidade. No meu caso em particular, eu diria que a minha mola propulsora para alcance de público do que escrevo foi de fato o universo das redes sociais. Imagino que isto tenha acontecido com tantos outros escritores, que viam enorme dificuldade de publicizar seus trabalhos. Costumo dizer que sou muito mais lido no Facebook e Instagram do que nos meus livros físicos, em termos de alcance. No entanto, conservo ainda uma visão romantizada do livro físico, e confesso que tenho enorme dificuldade em ler numa tela de smartphone ou computador.
Como você vê o mercado editorial para os novos autores?
Acredito que nas últimas duas décadas, em especial, houve uma ruptura no modelo tradicional que ordenava o mercado editorial. As publicações independentes ganharam muita força, notadamente após o advento da Internet; os custos de publicação, com editoras de menor alcance distributivo e de divulgação, mas que satisfazem a necessidade da maior parte de quem produz literatura; e ainda subsídios de editais com fomento de recurso público, facilitaram sobremaneira o fluxo das publicações de livros no país. Antigamente era muito mais complicado (quase um desejo irrealizável para a maioria dos escritores) ter um exemplar publicado em mãos.
Como você se descobriu escritor?
Parando para pensar sobre esta pergunta, Drica: acho que sempre escrevi, mas só me descobri escritor de fato tardiamente, após a morte do meu pai (em 2018). Talvez pela percepção de estar sempre à sombra dele, que sempre admirei como genial escritor, o que me “travava” no sentido de acreditar que eu realmente pudesse ser também um escritor. Me lembro do episódio de um concurso de redação em uma escola pública, na 4ª série do antigo primário, em que, saindo vencedor, tive que escutar: “ah, mas também pudera, né? Foi o pai dele que escreveu”. Por essas e outras, me contive no inconsciente da crença de que era um escritor, até assumir definitivamente este entendimento.