Férias escolares são sinônimo de descanso e de brincadeiras. Esquecer, por alguns dias, das obrigações. Mas a fome não descansa. E nem dá descanso para quem a sente. Em Montes Claros, muitas famílias carentes têm vivido cenário desolador, sem ter o que comer. E lamentam o período sem aulas, pois é justamente quando vão à escola que os filhos conseguem se alimentar bem.
A fome dobrou nas famílias brasileiras com crianças menores de 10 anos. De acordo com levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) este ano, quatro entre entre dez famílias têm acesso pleno à alimentação. Por isto, a escola se torna tão importante para estes estudantes: fornece educação e alimentação.
De acordo com Pablo Alves, voluntário do projeto Cozinha Solidaria, da Arquidiocese de Montes Claros, essa realidade é um fato, já que muitas famílias carentes na cidade vivem um cenário de fome. E elas recorrem à escola para garantir a alimentação dos filhos. “Tivemos vários relatos de muitas crianças que passaram mal nas escolas, por falta de alimentação em casa. Não é raro os relatos que chegam para nós de um cenário de fome mesmo, que infelizmente, atinge as crianças, lamenta.
RESTAURANTE POPULAR
Pablo avalia que o estado deveria transformar locais como a Cozinha Solidária em política pública, não deixar que só os movimentos sociais procurassem combater a fome nas periferias. “A única política pública que existia no município, era o restaurante popular, e foi fechado em 2016”, lamenta
De acordo com Pablo Alves 103 famílias estão cadastradas na Cozinha Solidária. O número de pessoas alimentados pelo projeto varia de acordo com o núcleo familiar, podendo chegar a mais de 400.
“As doações não são suficientes para toda semana”, conta.
“São essas marmitas que ajudam a gente. Principalmente agora que estamos de férias. Tem dia que tem comida em casa. Ou tem e não é completa. A comida da Cozinha ajuda muito”, diz a estudante de 11 anos, Anna Carolina Santana Alves.
Para ela, a comida da escola (estadual) que ela estuda é muito boa. Contudo, ela acha que a cantina da escola podia ficar aberta nas férias, para poder continuar com a alimentação dos alunos.
“Nas férias a gente fica sem nada que a escola dá, mas é difícil ficar sem ela nas férias”, diz, desolada. Outra instituição que ajuda famílias carentes na cidade é o Instituto Castelinho. A coordenadora Iracema Ribeiro de Souza informa que a unidade existe desde 2019 e acolhe 690 famílias carentes da comunidade, no bairro Castelo Branco e mediação.
“Temos um projeto para envolver as crianças de segunda a sexta, e damos um lanche ou uma merenda pra alimentar elas”, conta Iracema.
Ela conta que tem semana que não tem alimentos, além dos doados pela Mesa Brasil, ou que não são suficientes para atender todas as famílias, e tem semana que na fila, volta muitas pessoas para casa sem conseguir nem um ovo. “Ultimamente as doações estão bem escassas”, informa.
Procurada, a prefeitura informou que não foi necessário promover nenhuma ação no departamento de alimentação para combater fome este ano, em razão da duração das férias - duas semanas. O retorno da aulas e a distribuição de merenda serão retomados na próxima segunda.
AJUDAS BEM-VINDA
Para quem puder e quiser ajuda, as doações para o Cozinha Solidária podem ser entregues na Rua Jandira Marques Tolentino 14, Região da Alterosa. Nas segundas, quartas e sextas-feiras. Para mais informações, os telefones de contato são 98405 8060 (Igor Silva) e 99226 2340 (Pablo Alves).
O Instituto Castelinho recebe doações por meio do PIX( CNPJ: 33764131/0001-02). Mais informações no telefone 38 99110 7178.