
Flores bem nutridas e, portanto, com maior durabilidade e beleza para encantar o consumidor. Mas, com um atrativo a mais –sem agrotóxico. É o que a professora e pesquisadora Elka Fabiana de Almeida, do campus Montes Claros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está conseguindo oferecer aos produtores e ao mercado.
Ela desenvolveu um método diferente do convencional para o cultivo de flores no Norte de Minas. O objetivo é substituir os defensivos químicos por adaptações no plantio, cuidados com irrigação e uso de substâncias naturais para garantir a “saúde” das flores.
“Já percebemos que é possível cultivar as flores reduzindo os defensivos químicos e até mesmo os excluindo, por meio de defensivos alternativos como extrato de café, bicarbonato de sódio, óleos essenciais na pós-colheita de rosas, por exemplo. Temos resultados também com orquídeas em consórcio com ervas aromáticas, porque a presença de outras espécies aumenta a diversificação na área e reduz o número de pragas”, explica a engenheira agrônoma e doutora em agronomia/floricultura e paisagismo.
O foco principal da pesquisa é estimular os produtores de Minas e também do Brasil a terem a certificação dos produtos por meio de um selo que irá diferenciar as flores produzidas convencionalmente das flores produzidas de forma orgânica ou agroecológica.
A pesquisa vem sendo desenvolvida em Montes Claros, Nova Porteirinha e São João del-Rei.
As flores são produtos valorizados pela beleza e não podem apresentar nenhum defeito na hora da comercialização. Dessa forma, os produtores precisam se empenhar para evitar que as pragas e doenças prejudiquem a qualidade do produto final. Em função disso, uma grande quantidade de agrotóxico é utilizada no cultivo.
CUIDADO AMPLO
A pesquisadora explica que para plantar flores de qualidade e sem agrotóxico, é necessário pensar desde a preparação do solo à escolha das mudas e ter um intenso monitoramento até a colheita.
Além de preservar o meio ambiente, pois o uso de agrotóxico contamina o solo e pode atingir o lençol freático, as flores orgânicas podem ser utilizadas para consumo humano e mantêm o ecossistema equilibrado.
Elka Fabiana pontua que no método desenvolvido são cultivadas plantas que fornecem alimentos e são abrigos para os inimigos naturais das pragas, os chamados “insetos do bem”. Eles se alimentam das pragas que geralmente atingem as flores, ajudando a eliminar o uso de agrotóxicos.
“O método para cultivar flores orgânicas é semelhante ao cultivo de outros produtos da horticultura. É necessário fazer o controle preventivo de pragas e doenças com produtos alternativos, como caldas preparadas na propriedade do produtor rural e utilização de boas práticas agrícolas. Além disso, é preciso utilizar mudas sadias e cuidar para que o solo seja fértil e forneça os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas”, explica Elka Fabiana.
As espécies mais sensíveis às pragas e doenças e que por isso necessitam de maior controle são as rosas e crisântemos.
“O método tem proporcionado resultados bastante favoráveis, principalmente neste momento em que as flores comestíveis estão em evidência, sendo utilizadas na culinária para adornar pratos e inovar os sabores”, destaca a pesquisadora.
Mercado novo e promissor
A pesquisa identificou que o Norte de Minas tem potencial para a produção de flores e plantas ornamentais, uma atividade ainda pouco explorada na região.
Em Montes Claros são cultivadas diversas flores de corte, como helicônia, bastão-do-imperador, gengibre ornamental, hortênsia, copo-de-leite, rosa, dentre outras. Essas flores são comercializadas principalmente de forma direta a decoradores e no Mercado Municipal.
Em Janaúba há cultivo de plantas suculentas, rosas-do-deserto e mudas para jardins.
Um grupo de mulheres em Capitão Eneias iniciou a produção de flores e plantas com incentivo da Emater e as vendas ocorrem em feiras.
EMPREGOS
No Brasil, a cadeia produtiva das flores movimenta, anualmente, R$ 10 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor).
A expectativa é a de que a expansão desse mercado produtor no Norte de Minas se torne um importante gerador de emprego e renda.
A região carece do incentivo para a produção de flores e plantas ornamentais de forma profissional e espera-se que as pesquisas realizadas na UFMG e as parcerias com os produtores possibilitem a expansão desse segmento.