
À frente do Pátio Flamenco, em Montes Claros, Elisa Pires compartilha os bastidores, inspirações e desafios da 9ª edição do festival, que neste ano traz o tema “Eu, caçador de mim!”., que será realizado entre os dias 9 e 13 de julho. A expectativa é grande, e o público já pode garantir seu lugar com a venda antecipada de ingressos.
Como surgiu a ideia de criar o Festival Flamenco de Montes Claros?
Desde 2003 participo de apresentações em Belo Horizonte, no início como aluna e posteriormente como professora, preparava meus alunos para os festivais das escolas onde trabalhei. Quando abri meu próprio espaço em BH, o Pátio Espanhol — gastronomia, cultura e escola de dança, comecei a produzir meus próprios festivais, criar espetáculos para minha companhia de dança, apresentei por diversas vezes no Festival Internacional de Flamenco de São José dos Campos–SP.
Participei também de várias campanhas de popularização do teatro e da dança de BH, de espetáculos em Festivais de Inverno em cidades como Ouro Preto, Sabará, Mariana e Congonhas. Enfim, até 2015 estava acostumada a estar nos palcos com muita constância. O palco e o público são um alimento riquíssimo para a alma do artista, então pensei: preciso proporcionar isso para meus alunos novos de Montes Claros. Foi onde, em 2016, produzi o 1º Festival Flamenco.
Qual foi o maior desafio para consolidar o festival até a sua 9ª edição?
Acredito que o maior desafio é a falta de estrutura e, com isso, o alto custo do evento. Precisamos de um palco adequado devido aos sapateados, um som profissional porque trabalhamos com música ao vivo e também uma boa iluminação, ou seja, para montar a estrutura tenho um custo altíssimo. Sempre corro atrás de patrocínio, mas cada ano está ficando mais difícil conseguir apoio cultural.
O que motivou o tema deste ano: “Eu, caçador de mim!”?
Eu caçador de mim foi o título dado ao espetáculo que tem como tema central o “Ressignifica a Vida”. Acredito que todos nós já passamos, estamos passando ou ainda passaremos momentos assim, de mudança, de perda afetiva ou perda por morte, enfim... Ressignificar a vida deixando as amarras do passado para seguir tendo uma vida feliz é algo muito próximo a todos nós.
Haverá participações de artistas de fora de Montes Claros? Ou são todos daqui?
Este ano, mais uma vez, irei trabalhar com músicos parceiros de São Paulo como Fernando de Marilia no cante flamenco e guitarra flamenca e Gustavo Rosa cajon e percussão. Uma novidade para este espetáculo é um coral formado por seis alunos de dança da escola Pátio que abrilhantará mais ainda as canções.
Qual a importância do flamenco na sua vida pessoal e profissional?
O flamenco é minha vida, o que me move. É o ar que respiro. Sou formada em psicologia e por seis anos exerci a psicologia clínica. Em paralelo, conheci e me apaixonei pela dança flamenca. Após alguns anos, fechei o meu consultório para viver de arte. Já são mais de 22 anos de amor, dedicação e muitas alegrias.
Tive a oportunidade de viajar para Espanha para aprofundar os estudos e vivenciar a arte flamenca por seis vezes (2008, 2011, 2012, 2013, 2017 e 2024), onde fiz aulas com grandes maestros em Sevilha. Também devo minha formação a grandes maestros do Brasil, os quais demonstro sempre todo seu respeito, carinho e gratidão.
De que forma o flamenco pode ser um caminho de autoconhecimento, como o tema sugere?
A dança flamenca trabalha a postura, a autoestima, empoderamento feminino e masculino. Muitos alunos chegam às primeiras aulas com problemas até de se olharem no espelho, não gostam do que veem, ou seja, não gostam de si. Então, uso muito o espelho para exercícios de consciência corporal, exercícios de olhar e com isso percebo claramente a postura das pessoas mudando aos poucos. São coisas que ensino em aulas, no tablado, mas tenho muitos relatos de mudança de postura perante a vida após iniciar as aulas de flamenco comigo.
Qual o impacto que o festival tem gerado na cidade ao longo dos anos?
O festival flamenco do Pátio já faz parte do calendário cultural da cidade. Ao longo de todo o ano, encontro com pessoas que já perguntam: quando será o próximo? Qual será o tema? Já existe uma expectativa para assistir aos shows. Isso nos deixa muito feliz e confiantes de que estamos desenvolvendo um bom trabalho.