Feijão Semeado: paz temporária em campo minado

Jornal O Norte
Publicado em 13/04/2006 às 10:34.Atualizado em 15/11/2021 às 08:33.

A presença maciça de policiais do 10º BPM de Montes Claros no aglomerado Conferência Cristo Rei, conhecido como Feijão Semeado, próximo ao Alto São João, trouxe tranqüilidade aos moradores que vivem em um campo minado, como se fosse numa arena de guerra. Isto é o que afirmam moradores do bairro, que são descritos nesta reportagem com nomes fictícios.






Mais um grupo de suspeitos é revistado no Feijão Semeado


na tarde de ontem
(foto: Girleno Alencar)



Com a operação Orla do Bosque, a polícia militar ocupou o aglomerado - considerado como uma zona quente de criminalidade, com grande concentração de autores de receptação, furto e roubo de veículos e a transeuntes, uso e tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo, entre outros crimes -, ao meio dia de terça-feira, 11, visando prevenir e reprimir a prática de delitos no local. Mais de 120 policiais do choque, canil e Moto Rotam, a pé e motorizados, se encontram nas ruas e becos do conjunto, efetuando buscas pessoais e em veículos.



Apesar de programada há alguns meses, a operação teve início terça-feira, após registro de que, durante a madrugada, pessoas do Feijão Semeado dispararam mais de 38 tiros de pistola 380 contra a residência da doméstica Noêmia Dezibere da Silva, 38 anos, minutos após a prisão de um suspeito de disputar o comando do tráfico no local. 



CLIMA DE GUERRA



A reportagem de O Norte esteve, na tarde de ontem, no local da operação, onde ouviu moradores que, por questão de segurança, tiveram seus nomes preservados. Eles afirmam viver em clima de guerra devido à disputa do comandado do tráfico de drogas, como afirma um deles:



- Estamos vivendo sob o medo de morrer a qualquer hora. Não dormimos mais. O clima é de guerra, de terror. Os bandidos estão querendo copiar o Rio de Janeiro, querem o comando do tráfico de drogas a qualquer preço. Temos medo do que pode acontecer.



O trabalhador Joaquim observa que, desde terça-feira, quando o local foi ocupado pela polícia militar, a população está mais tranqüila:



- Agora podemos dormir em paz, viver um pouco mais. É louvável este trabalho que está sendo realizado aqui e que deveria acontecer sempre. Porque, quando a polícia está aqui, os bandidos ficam escondidos. Mas, depois, eles fazem a festa, é tiro pra todo lado, brigas, motins. Nosso medo é depois que a polícia sair, precisamos de segurança para viver e criar nossos filhos.


 


PROBLEMAS DE FORA



O presidente da Associação dos moradores do Cristo Rei, Farley José de Souza (nome verdadeiro), informa que, muitas vezes, os motins registrados no local são provocados por bandidos de outros bairros:



- Sofremos muito com a discriminação da sociedade em relação ao nosso bairro, que é visto lá fora como ponto de tráfico de drogas, de marginalidade. Muitas vezes os problemas vêm de fora, quando bandidos de outros bairros vêm para cá para beber e acabam se alterando e provocando confusão, que em sua maioria acaba em tentativas ou homicídios.



Ainda segundo o presidente da associação, existe um grande fluxo de carros e motos no local devido ao comércio de drogas, que conseqüentemente traz grandes problemas para a população.



- Trabalhamos com a imparcialidade, não estamos aqui para defender nem bandido nem polícia, queremos que justiça seja feita porque não agüentamos mais viver neste campo minado, com medo de morrer ou perder alguém da família a qualquer momento – afirma Farley.



PREVENÇÃO



Sobre a ocupação da PM no aglomerado, Farley afirma que a população está agradecida pela iniciativa da operação surpresa, que trouxe 100% de paz aos moradores:



- É preciso começar urgentemente um trabalho de combate à criminalidade, voltado principalmente para a educação de nossas crianças, para que, num futuro próximo, não se tornem bandidos. Se a polícia efetuar ações rígidas como esta, com certeza a vida da população vai melhorar e teremos paz para criar nossos filhos.



O presidente da associação diz que já foram realizadas várias reuniões com autoridades policiais e lideranças da cidade, para a criação do Consep - Conselho de segurança pública do Cidade Cristo Rei, que tem como objetivo reduzir o índice de criminalidade no local e efetuar trabalhos sociais de prevenção ao uso e tráfico de drogas.

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