A riqueza e a beleza do sertão mineiro ganham vida através das cores, formas e sentimentos de artistas locais na exposição “Sertão — Campos Gerais”, promovida pela Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros. Em cartaz desde o dia 16 de maio, a mostra segue até o dia 30, no Centro Cultural Hermes de Paula, com visitação gratuita de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. São 14 artistas reunidos, que traduzem com sensibilidade e identidade as paisagens, símbolos e memórias do sertão.
Um dos participantes é o artista plástico, professor de Artes Visuais da Unimontes e arquiteto Hélio Brantes, que também integra a associação. Ele reflete sobre a profunda relação entre a arte e a identidade cultural do sertão mineiro:
“A cultura catrumana, do sertão mineiro, está presente desde suas origens, em registros artísticos nas paredes das cavernas, nos bordados, nas vestimentas dos cangaceiros, assim como nos chapéus, capacetes e instrumentos dos nossos catopês, marujos e caboclinhos. O fazer artístico faz parte das nossas primeiras manifestações visuais”, afirma Brantes.
Sobre os elementos da cultura sertaneja presentes em suas obras — como festas populares, religiosidade, cotidiano e natureza — Brantes conta que sua produção busca registrar, em telas e desenhos, a trajetória do homem contemporâneo, suas marcas e características.
“Procuro captar as expressões humanas no cotidiano de cada personagem retratado — mulheres, homens e crianças — em sua vida diária, nas festas e nos pequenos gestos do dia a dia”, revela.
A artista plástica Felicidade Patrocínio também destaca a importância de retratar o sertão nas artes visuais, citando Guimarães Rosa: “O Sertão é o mundo”.
“O sertão é de onde viemos, se não diretamente, ao menos pela ancestralidade. Podemos percorrer o mundo, nos fascinar com as luzes do neon e com a multiplicidade de imagens da contemporaneidade, mas se não nos lembrarmos de onde viemos, se não nutrirmos nossas raízes, corremos o risco de nos perder de nós mesmos. As artes plásticas são um grande canal de expressão do humano — elas nos fazem ver. São um meio para mostrar a beleza e a riqueza do sertão em cores e valores”, destaca.
Referência na cena artística local, Felicidade também entrelaça sua própria história com a cultura sertaneja:
“Minha ligação com o sertão começou ainda na infância, nas viagens com meu pai, nascido no coração do sertão norte-mineiro, e com minha mãe, professora que foi ensinar as letras e a vida na região. Montes Claros é essa terra que me formou, onde bebi pureza, alegria e valores. Mesmo com o crescimento urbano, ainda preserva o esteio da sua cultura, seus costumes e o folclore rico que nos orgulha”, afirma.
O artista Onofre Santos também reforça esse elo afetivo e ancestral com o sertão:
“O sertão mineiro está no sangue. É parte da minha história e da história dos meus pais. Talvez por isso eu tenha esse carinho tão grande pela nossa terra e pela nossa gente. Cada artista aqui carrega um sentimento único por aquilo que retrata, mas todos temos a mesma missão: preservar a essência do sertão — sua fé, seu trabalho, seu sofrimento, mas também sua alegria e sua força diante das lutas diárias. O sertanejo não abaixa a guarda. É um povo valente, que enfrenta as dificuldades com coragem e fé.”
Entre as obras em exibição, Onofre destaca a do artista Cleiton Oliveira, que o tocou especialmente:
“A obra dele retrata com sensibilidade o sertanejo resiliente, cheio de histórias, com o olhar firme e o coração esperançoso. No meu próprio trabalho, trago essa fé que sustenta nosso povo. O sertanejo acredita, reza e se fortalece a cada dia. É essa esperança que nos move.”
Osmar Oliva, vice-presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros, foi o responsável por inscrever a exposição na agenda do Centro Cultural Hermes de Paula. Segundo ele, a ideia de convidar os colegas artistas partiu do desejo de compartilhar o espaço coletivo:
“Resolvi compartilhar o meu espaço com outros artistas. O sertão mineiro é riquíssimo em cores, sabores e sensações, despertando o olhar artístico.”
Bordadeiro, Oliva revela seu foco temático e os materiais usados na obra que apresenta na exposição.
“Venho privilegiando a representação de pássaros e árvores do nosso cerrado. Nesta obra, usei chita floral bastante colorida e pintei com tinta acrílica os tucanos — símbolos também do nosso sertão e dos Campos Gerais”.