
Premiada com o Oscar de melhor atriz por “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), Diane Keaton faleceu em 11/10, aos 79 anos. Entre as homenagens, vem a oportunidade de relembrar e comentar sobre a trajetória de uma das grandes atrizes do cinema estadunidense. Keaton interpretou personagens marcantes em produções que definiram estilos e narrativas cinematográficas a partir de 1970: Kay Adams, a esposa de Michael Corleone, na trilogia “O Poderoso Chefão”; a intelectual Annie Hall no filme em que ganhou o Oscar; a revolucionária Louise Bryant na superprodução “Reds” (1981); Nina Banks, a mãe envolvida nas trapalhadas para organizar o casamento da filha em “O Pai da Noiva” (1991).
São mulheres que ocupam lugar importante na trama dos filmes e representam papéis sintonizados com o momento em que as obras foram realizadas. Personagens humanas dotadas de humor e inteligência, uma certa ingenuidade que será testada – e demolida – em muitas histórias levando à descoberta de uma força interior ou, infelizmente, uma aceitação doída de que alguns destinos são inevitáveis mesmo. Há um humor típico, que pode variar entre o excêntrico, o irônico e o humano, presente em boa parte das interpretações de Keaton; posteriormente, a atriz investe em personas dramáticas que enfrentam as barreias sociais e arriscam-se a fugir dos papéis tradicionalmente reservados às mulheres – pagando o preço pela resistência e ousadia.
Annie é irresistível com seu sorriso, os comentários irônicos e a paciência no relacionamento com o “neurótico” Alvy Singer. Já Kay está efetivamente apaixonada por Michael e vai observar, assustada e desiludida, a “queda do marido no abismo” para preservar a família e os negócios. Aqui estão duas personagens tão diversas unidas pelo talento de uma atriz capaz de envolver o público com o humanismo tão evidente de Annie e Kay.
Na filmografia diversificada de Diane Keaton, merece lembrança Theresa Dunn, protagonista de “À Procura de Mr. Goodbar” (1977). Professora dedicada de crianças surdas, Theresa leva uma vida dupla entre a rígida família católica e a ronda noturna por bares e relacionamentos casuais. Eis uma personagem que retrata as inquietações e desejos femininos da revolução social setentista atraindo a atenção do público, levando os(as) espectadores(as) numa jornada de descoberta, incômodo e destino anunciado. Com o destaque de “baseado em fatos reais”, é um filme para ser descoberto pelo tema abordado e pela maneira como executa esta abordagem (a dica é que, periodicamente, o filme aparece no Youtube, numa versão dublada que foi exibida no Corujão, da Rede Globo).
*Crítico de cinema, jornalista e colaborador do O Norte