Novas estruturas

Censo mostra mudanças em famílias e papel feminino no Brasil

Larissa Durães*
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 28/10/2024 às 19:00.
A gestora da Associação de Capadores 3R, Denise Marcelina Aguiar, de Montes Claros, defende que, em razão dos elevados custos de vida, a gestão financeira familiar deve ser compartilhada (arquivo pessoal)
A gestora da Associação de Capadores 3R, Denise Marcelina Aguiar, de Montes Claros, defende que, em razão dos elevados custos de vida, a gestão financeira familiar deve ser compartilhada (arquivo pessoal)

Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram uma mudança significativa na composição das unidades domésticas no Brasil. Os homens representam 50,9% dos responsáveis pelos domicílios, com cerca de 37 milhões, enquanto as mulheres somam 49,1%, totalizando 36 milhões. Esse avanço é evidente em comparação a 2010, quando 61,3% dos domicílios eram liderados por homens.

Gabriela Silva, funcionária de uma loja em Montes Claros que mora há 13 anos com sua filha, enfrenta dificuldades financeiras ao sustentar a casa sozinha, já que sua filha só começou a trabalhar recentemente como menor aprendiz. “Onde já se viu que pagar 30% de um salário mínimo como pensão, equivalendo a R$ 423, hoje, é suficiente para cobrir as necessidades de uma criança ou adolescente. Para mim, essa quantia e essa responsabilidade financeira não são equitativas após a separação”, relata.

O sociólogo Paulo Thiago Carvalho Ribeiro aponta que a mudança no IBGE, ao adotar o termo “pessoa responsável” por “chefe de família”, ajudou a reduzir o viés de gênero. “Esses dados mostram que o modelo tradicional de família (pai, mãe e filhos) já não é o único padrão dominante no país. A diversidade familiar atual, que inclui mais mães solo, casais sem filhos e uniões homoafetivas, rompe estereótipos e aumenta o protagonismo feminino”, destaca Ribeiro.

Ainda segundo o sociólogo, a transformação nas configurações familiares reflete uma evolução nas expectativas sociais sobre gênero e responsabilidades domésticas. “Essa tendência pode contribuir para uma distribuição mais equitativa das tarefas domésticas e enfraquecer a visão de que o trabalho no lar é exclusivamente feminino”, afirma. Ele também ressalta que essas alterações estão ligadas a aspectos econômicos e à crescente independência feminina, embora ainda existam desafios, como a desigualdade de gênero em salários e posições de poder.

Ribeiro acredita que a ampliação dos modelos familiares no Brasil pode, a longo prazo, ajudar a desconstruir papéis de gênero rígidos e incentivar uma maior flexibilidade nas dinâmicas familiares, promovendo uma evolução no papel dos homens e das mulheres nos lares brasileiros. 
 
NOVOS LARES
Outro dado relevante do Censo 2022 é o aumento expressivo de uniões homoafetivas. Em 2010, os domicílios formados por casais do mesmo sexo eram 59,9 mil; em 2022, esse número saltou para 391 mil, um crescimento de mais de seis vezes. O jornalista Wesley Gonçalves, que está em uma união homoafetiva há mais de quatro anos, afirma que a divisão de tarefas em casa é equilibrada, evitando sobrecarga. “Os dados do Censo demonstram que não estamos sozinhos. Não somos mais invisíveis perante a sociedade, como em outros tempos. Somos cidadãos, pagamos impostos e temos nossas obrigações perante as leis, e, como tal, devemos usufruir dos direitos e benefícios sociais”, destaca Gonçalves.

Em 2022, 57,5% das unidades domésticas incluíam uma pessoa responsável e seu cônjuge ou companheiro(a) de sexo oposto, representando uma queda em comparação a 2010, quando esse percentual era de 65,3%. Denise Marcelina Aguiar, gestora da Associação de Capadores 3R, em Montes Claros, acredita que, devido ao alto custo de vida, a responsabilidade financeira não deve recair apenas sobre um membro da família. Ela observa que o papel das mulheres como responsáveis pelo lar tem sido mais aceito e valorizado nos últimos anos. “Isso significa mais autonomia, o que pode deixar alguns homens se sentindo fragilizados”, acredita.

Aguiar conta que consegue equilibrar as atividades profissionais com a gestão da casa, na maioria pela participação ativa e acolhedora do marido nesse processo. “A compreensão mútua entre os parceiros é essencial para uma gestão eficiente do lar”, ressalta a gestora.

O Censo 2022 também revelou que, pela primeira vez, a proporção de pessoas pardas responsáveis por domicílios (43,8%) superou a de brancos (43,5%). Em 2010, os pardos representavam 40% e os brancos, 49,4%. A estrutura nuclear permanece a mais comum (64,1%), seguida pelas unidades unipessoais (18,9%), estendidas (15,4%) e compostas (1,5%). Em comparação a 2010, houve uma leve queda nas unidades nucleares e um aumento nas unipessoais, refletindo mudanças nas configurações familiares e o envelhecimento da população.

*Com informações da Agência Brasil

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