No local onde ficava a escultura (à esquerda), atualmente há um medalhão com um busto do artista e restos da base de ferragem que sustentava a homenagem a João Chaves. (Google Earth/Gustavo Xavier)
O atento transeunte que passar próximo à esquina da Avenida Mestra Fininha com a Rua Raul Corrêa, no bairro Funcionários, em Montes Claros, vai notar que a escultura de ferro dedicada ao músico João Chaves não está mais lá.
Construído em 1985 pela artista plástico Andrey Christoff, o monumento foi retirado da praça, onde também há um medalhão com o busto do artista.
A escultura celebra o centenário do seresteiro. O sumiço foi notado pela família e notificado às autoridades.
Neto do artista, Rafael Chaves, contou ao O Norte que “a escultura fora brutalmente serrada na base da ferragem que a sustentava, com o uso de uma serra elétrica” e “a base de fixação, em rocha calcária, foi também deteriorada, restando apenas resíduos de material rochoso, amontoados”.
Dono de comércio próximo, Gustavo Xavier contou que demorou a perceber o sumiço. Pensou que a escultura havia sido levada para restauração.
“Depois de algumas semanas, percebi que estava sem a base de ferro. Perguntei para meus funcionários o que poderia ter acontecido. Um deles me disse que havia sido levada em um caminhão. Pensei que fosse para reforma”, disse.
Gustavo foi procurado por Rafael. O neto do artista imaginou que o sistema de vigilância do comércio poderia dar alguma pista para o mistério do desaparecimento. Mas as imagens são armazenadas por até 90 dias. Depois deste período, a gravação é apagada por uma nova. Com isso, pode-se deduzir que a escultura foi retirada há bastante tempo.
Onde está a escultura?
Ainda de acordo com o neto do artista, foi realizado um contato com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, que informaram que a escultura não foi retirada por funcionários ou caminhão da Prefeitura.
“Disseram, ainda, que a referida escultura não se encontra em nenhum local ou depósito no Município, não sabendo de informações adicionais sobre o caso”, diz.
Rafael Chaves protocolou, no dia 4 de agosto, na Ouvidoria do Ministério Público de Minas Gerais uma representação junto à 7ª Promotoria de Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo, Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros. Procurado pelo O Norte, a entidade informou que já ter conhecimento do caso e disse que foi “instaurada a notícia de fato, número 0433.22.000820-8, para apurar possíveis ilícitos civis e criminais decorrentes da retirada de parte da escultura, localizada em praça”.
O Norte procurou a pre prefeitura de Montes Claros a respeito, mas não teve respostaaté o fechamento desta edição.
“O caso aqui denunciado, no nosso entendimento, fere os princípios legais da conservação do patrimônio público e da memória cultural e histórica de nossa cidade; além, é claro, do impacto emocional a todos os familiares, amigos e cidadãos amantes da arte e da cultura de Montes Claros” completa Rafael Chaves.
Sobre o artista
De acordo com o escritor e historiador, Wanderlino Arruda, João Chaves foi um cordelista, poeta, trovador, compositor, intérprete, seresteiro e músico.
Nascido em Montes Claros, no dia 22 de maio de 1885, data celebrada como o Dia Municipal do Seresteiro.
João Chaves tocava flauta, pistom e viola. É autor da música “O Bardo” e da moda “Amo-te muito”.