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Sábado,12 de Julho
entrevista

As várias faces do centenário Darcy Ribeiro

Exposição no Museu Regional representa toda a força, sabedoria e sensibilidade do educador, antropólogo, cientista social e escritor da terra

Adriana Queiroz
Publicado em 21/10/2022 às 21:17.

Celebrar Darcy Ribeiro em suas diversas feições: o etnólogo, o antropólogo, o educador, o cientista social e o escritor. Essa é a proposta da exposição “Viva, Darcy é uma Festa!”, com curadoria de Ivana Rebello, doutora em literaturas de língua portuguesa, e do professor Osmar Oliva.

Nesse bate-papo com O NORTE, Ivana ressalta que há muitos Darcy Ribeiro. “Ele multiplicou-se em todos os seus empreendimentos, deixando em tudo a marca de sua fecunda inteligência. Soube transformar sonhos em fazimentos”, afirma.

A abertura da exposição aconteceu na noite da última quinta-feira (20), no Museu Regional do Norte de Minas, no centro histórico de Montes Claros.
 
O que vocês prepararam para a mostra que celebra o centenário do médico, historiador, sociólogo, escritor e senador Darcy Ribeiro?
A exposição “Viva, Darcy é uma festa!” une o espírito revolucionário do filho de Montes Claros com a inquietude criativa da arte. O artista é um fazedor de esperanças e um porta-voz da indignação. Somente ele daria conta de expressar o fenômeno Darcy Ribeiro. Nessa exposição reunimos a potencialidade criativa de muitas mãos. Não é somente uma exposição para ser vista. Ela é um espaço que se abre, um instante entre o possível e o impossível, um desafio aos obstáculos e uma aposta no amanhã. Esse é o papel da arte. 
 
Darcy Ribeiro dedicou boa parte de sua vida ao estudo de índios de várias tribos do país, fundou o Museu do Índio, colaborou na criação do Parque Indígena do Xingu. Durante a exposição, o público conhecerá um pouco sobre essa vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena?
As obras expostas expressam essa faceta importantíssima do Darcy. Em diferentes linguagens e técnicas, os artistas expressam a visão de um Brasil sonhado por Ribeiro, em que a ideia de mestiçagem étnica e cultural é a base. As obras falam por si mesmas. Inútil seria tentar descrevê-las, pois a arte fala por si mesma. Ir a uma mostra artística é envolver-se com um conceito, que aglutina diferentes percepções, talentos e técnicas. Convido o público montes-clarense para ir ao Museu Regional. A exposição ficará aberta à visitação entre os dias 20 de outubro e 20 de novembro. A exposição está belíssima! Eis a relação dos artistas e obras: Quarup, Hélio Brantes; Cavaleiros anônimos na expansão da Nova Roma, Neto Macedo; Darcy Indignado, Heloísa Dumont; João Rodrigues; Carro de Boi, Mário Soares; Comoção, Juçara Nassau; O Povo Brasileiro, Cleiton Cruz; Utopia Brasileira, Márcia Prates; Viva, Darcy é uma festa, Osmar Oliva; Painel simbologia indígena brasileira – uma homenagem a Darcy Ribeiro, Felicidade Patrocínio; Alegoria, Gemma Fonseca; Darcy: urubus-Ka’por, Afonso Teixeira. 

Suas obras e a sua história de engajamento político ficam marcadas seja no pensamento social, nas pesquisas antropológicas, nas disputas políticas. O que vocês reuniram na mostra do centenário? Tem algo que o público pode encontrar na mostra sobre o exílio na ditadura?
É impossível separar um Darcy Ribeiro do outro. Em todos os lugares onde viveu, desde a Montes Claros de sua infância, no exílio, no Rio de Janeiro, em Brasília, na universidade que criou, a UNB, e na floresta, onde viveu com os indígenas, ele defendeu a causa dos pequenos e marginalizados. Como ele próprio expressa: “Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas”. Os artistas convidados para a mostra conhecem Darcy. Alguns, inclusive, o conheceram pessoalmente. Levaram para suas telas feições que transitam entre o homem, o montes-clarense e o cidadão do mundo. 
 
Há, na mostra, expressões do Darcy Ribeiro pesquisador e escritor? 
Sim, muito. O indígena, objeto de suas primeiras pesquisas, está, por exemplo, na tela de Afonso Teixeira, de Juçara Nassau, de Hélio Brantes e no painel de Felicidade Patrocínio. Márcia Prates e Cleilton Cruz trazem interpretações muito singulares de ‘Viva o Povo Brasileiro’ e ‘Utopia brasileira’, livros de Darcy. Os demais capturam feições de um Brasil crítico, como João Rodrigues e Heloísa Dumont. Osmar Oliva, Neto Macedo e Mário Soares trazem o espírito do homem nascido no interior, mas que se torna universal. Já Gemma Fonseca expressa a feição solar, vibrante e inquieta de Darcy Ribeiro. Cada uma expressa, a seu modo e com um estilo próprio, a riqueza e a potência criativa do pensamento de Ribeiro. 
 
São muitos Darcy, mas nessa mostra será possível conhecer o homem atrás do sociólogo, antropólogo, educador e político?
O fruto está dentro da casca, como nos lembra um célebre personagem machadiano. O homem inquieto e que se confessa ser de fazimentos está ali, capturado por cada um dos artistas. A exposição impacta pela força expressiva e pela sensibilidade em “traduzir” Darcy para o mundo. 
 
Qual das obras de Darcy você considera icônica? Qual a sua preferida?
Não há como ter preferência. Todas são geniais. São obras fortes, carregadas da impetuosidade e da inteligência de Darcy. Mas, sobretudo, são obras originais, feitas especialmente para celebrar o centenário de Darcy Ribeiro. Esse é a grande obra dessa exposição: a reunião de muitos talentos para celebrar outro talento. E é gente da terra mostrando a força pulsante de nossa criatividade e inteligência. E tudo isso me comove integralmente.

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