
Millena Mell Oliva, 23 anos, poeta e pedagoga, encontra na escrita um refúgio e uma filosofia. Em 2025, ela se dedica ao sarau, ao Jornal Gaveta e à educação infantil, áreas que abraça com paixão. “Nasci e cresci em Montes Claros, nesta terra solar que aquece corações. Considero o melhor lugar para viver e fazer poesia. Não é à toa que a cidade é palco para tantos artistas de qualidade”, diz.
Quando, como e por que começou a se interessar por literatura e poesia?
Logo que comecei a ser alfabetizada por mamãe, ganhei o meu primeiro diário. Foi assim, percebendo a poesia nos pequenos detalhes do mundo, os poemas começaram a me ocorrer. Quando os sentimentos não cabem, as palavras transbordam. Por isso, desde pequena acumulo poesia em rascunhos, rabiscos, blocos de notas, agendas e diários que coleciono. Meu gosto pela leitura se desenvolveu através da minha família. Quando pequena, esperava ansiosa pelas leituras antes de dormir que minha irmã fazia em voz alta, e pelas histórias tiradas da coleção Vagalume que minha mãe dava vida durante suas contações. Esse incentivo se estendeu à escola, e os professores de literatura e redação sempre me brilharam os olhos.
Como é essa história de que na adolescência, você começou a levar seus poemas para o mundo?
Participei de muitos saraus no colégio e do Psiu Poético. Em 2017, criei o meu perfil no Instagram, onde compartilho minhas aspirações artísticas. Foi pensando em um trocadilho sobre meu nome e ser poeta que surgiu meu pseudônimo, “umadoce_poeta”. O Instagram é essa grande vitrine onde podemos performar o lado bonito das coisas, e foi a partir dessas exposições do meu cotidiano que outras oportunidades surgiram.
Em 2019 você ganhou um espaço no Cultural Spirit. Como foi?
Sim, um evento da cultura geek. Com o apoio da minha família e amigos, construí a exposição dos meus poemas e pinturas em uma das salas do evento. Naquele momento, pude reafirmar minha paixão por declamar. Foi um dia inteiro de visitação, e todos que conheceram a exposição “Café com Poesia” viveram a experiência de tomar um café enquanto me ouviam recitar. Mais uma vez, me encontrava exposta ao mundo, com o que tenho de mais íntimo e cru ali, disponível para que os outros conhecessem. A diversidade de visitantes me projetou a outras oportunidades: convites para falar em escolas, noites poéticas em barzinhos da cidade, saraus de projetos populares como o Emancipa e o Projeto Jabs. Esse acolhimento cultivou em mim o hábito de abraçar os microfones disponíveis, ou projetar minha voz ao máximo em todos os lugares que vou.
E o Jornal Gaveta, como surgiu?
Surgiu dessa necessidade de eternizar as palavras no papel. Ecoar poemas engavetados é uma ocupação que desenvolvo de forma independente. Sua distribuição é gratuita, para todos que desejam se ocupar com poesia. Idealizei a Casa de Palavras para que meus escritos tivessem refúgio, e o Jornal Gaveta para que pudéssemos desengavetar e acomodar os excessos. A arte se efetiva através das trocas, e por isso, desde setembro de 2023, recebo poemas, prosas poéticas, contos, sugestões de obras, entre outras propostas literárias, pelo e-mail “jornalgaveta7@gmail.com”. Desde então, já foram mais de 30 edições. Distribuo a versão física em escolas, hospitais, no Museu Regional, no Centro Cultural e, principalmente, em casas aleatórias. As caixas de correio se tornaram uma porta de entrada para esse grande ato de liberdade. Também compartilho o Jornal Gaveta e os processos de criação através do perfil @jornalgveta.
A poesia vem ganhando novas formas e significados com a internet. Como é fazer poesia em um mundo tão imediatista e conectado?
Acho muito positiva a conexão e as ferramentas que a internet disponibiliza. Assim como tudo, devemos ter cuidado para utilizá-las de maneira saudável. O imediatismo é, de fato, um ponto a ser questionado. Particularmente, não me considero tão ativa nas redes sociais, mas ainda assim compartilho um pouco de tudo sobre mim e meus trabalhos. Acredito que devemos fazer as coisas sem nos apegar às paranoias de números e frequência que a internet nos impõe. Ao mesmo tempo, seria uma realização alcançar muitas pessoas nas redes, mas se eu tiver apenas um seguidor que leia meus poemas, já me deixa satisfeita.
Quem quiser acompanhar seu trabalho, onde procurar?
Para conhecer mais sobre o Jornal Gaveta, podem acessar o Instagram @jornalgaveta e o @umadoce_poeta.