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Sexta-Feira,4 de Julho

Arco do André, o sertão no limite

Mais novo atrativo do Parque Cavernas do Peruaçu exige preparo físico dos aventureiros

Manoel Freitas
Publicado em 16/04/2019 às 07:48.Atualizado em 05/09/2021 às 18:15.

Oito quilômetros de subidas e descidas íngremes em terrenos acidentados, em uma caminhada de oito horas de tirar o fôlego. Chegar ao topo do cânion principal do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em trajeto marcado por cavernas monumentais, é o desafio do mais novo atrativo da unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Extremo Norte de Minas.

Um desfiladeiro com área de 60 mil hectares no parque candidato a Patrimônio Mundial nas categorias Natural e Cultural é um convite a aventureiros de todo o planeta a irem além de suas possibilidades. É realmente estar no limite.

Dos 60 mil hectares desse fantástico mundo subterrâneo, constituído por 140 cavernas e mais de 80 sítios arqueológicos, o Arco do André, situado entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, é uma fissura natural resultante de constante erosão esculpida pelo rio Peruaçu ao longo dos milênios.

Um banquete completo para um público diferenciado que, além do gosto pela contemplação, tem que ter resistência física. O esforço na dura caminhada é recompensado ao final do trajeto que se inicia no Centro de Visitantes do Janelão, passa pela Lapa do Boquete, Mirante das Cinco Torres, Gruta dos Cascudos e Gruta dos Troncos. Todo o percurso é sinalizado, de modo a melhorar a qualidade da visitação.

A área mais primitiva do parque, com contato mais intenso com a natureza, principalmente a mata primária, praticamente intocada, em cujos paredões a água continua escavando um vale para baixo, foi aberta no ano passado, destinada a visitantes de bom condicionamento físico, capazes de caminhar por terrenos irregulares, pedregosos, com passagens sobre as rochas e espeleotemas que exigem técnica.

O passeio não é recomendado para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, crianças, idosos e gestantes, ou com algum problema de saúde incapacitante.
 
VISÃO ENCANTADORA
Em cenário que engloba características dos biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, no topo do Arco do André está o Mirante do Mundo Inteiro, uma visão que impressiona até os ambientalistas mais experimentados devido às dimensões da vala.

A visitação do vale cárstico, composto pelas pesadas trilhas na floresta, é feita orientando os turistas a adotar o passo curto na visita a sítios arqueológicos e cavernas distribuídas ao longo do trajeto, contemplando o conjunto de atrativos de modo a dosar as energias.

É comum alguns dos integrantes dos grupos – 20 pessoas é o limite de incursões diárias – desistirem de chegar ao final, sobretudo porque a mata fechada, os terrenos extremamente inclinados e a umidade do rio Peruaçu resultam em esforço físico extraordinário.

Em apenas um ponto uma grande escada auxilia os visitantes, mas a direção da unidade, mantida pelo Ministério do Meio Ambiente, entende que para serem mais atrativos ainda, os parques nacionais precisam, necessariamente, ter trilhas com grau elevado de dificuldade.

O roteiro, com o claro propósito mais aventureiro, possibilita ainda, em duas subidas e descidas em terrenos escarpados, o contato com centenas de espécies de plantas com grande potencial medicinal e alimentar, bem como com animais que só existem na região, muitos dos quais na lista de espécies da fauna ameaçadas de extinção.
 
PINTURA RUPESTRE
As belas paisagens são emolduradas pela arte rupestre pré-histórica, em sítios arqueológicos dotados de passarelas de proteção ao patrimônio milenar. Nos mirantes das Cinco Torres e do Mundo Inteiro, placas estrategicamente foram colocadas indicando possibilidade de riscos fatais nesse palco único, formado pela beleza das rochas carbonáticas de calcário e pelo rio Peruaçu, criando o espelho d’água com a cor de tom verde esmeralda, mais espetacular ainda quando recebe a luz mansa do fim de tarde.

Vale destacar que os recursos naturais do parque possibilitaram a produção de vários pigmentos e a realização de pinturas em alturas consideráveis, como na Lapa dos Desenhos, com diferentes estilos e técnicas.
 
VISITAÇÃO
O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu pode ser visitado o ano todo e possui duas estações bem definidas, com algumas nuances entre elas. De novembro a abril, época das chuvas, o verde é predominante. De maio a outubro, época da estiagem, a floresta perde grande parte da cobertura vegetal, possibilitando imagens com maior riqueza de detalhes da paisagem, que fica bastante acinzentada.

Todas as visitas devem ser previamente agendadas junto à gestão da Unidade, através do e-mail cavernas.peruacu@icmbio.gov.br, devendo encaminhar o formulário de solicitação de agendamento preenchido. Verificada a disponibilidade da data proposta, o interessado é informado da autorização.

‘Beleza de outro mundo’
“Trata-se de um dos sítios arqueológicos mais importantes da América Latina”, define a nova trilha a bióloga e condutora ambiental Débora Takaki. Ela argumenta que os guias há muito são preparados a, igualmente, “zelar pela segurança do visitante e proteção dos recursos naturais”. “Uma prática prazerosa, onde somos o elo de apresentação entre o visitante e os atrativos”.

Takaki lembra que a maioria dos condutores são moradores do entorno, uma forma de fortalecer o chamado Turismo de Base Comunitária (TBC).

Ela explica que o risco de vida precisa ser considerado nos locais indicados pelo ICMBio. “Você se sente nas alturas, mas todo cuidado é pouco”, prossegue, explicando que a trilha é considerada de elevado grau de dificuldade porque, em vários trechos, são poucas estruturas presentes para facilitar a passagem entre blocos abatidos, muitos dos quais vencidos somente com iluminação artificial.

“Além dos mirantes e do Arco, durante o percurso, o rio Peruaçu mostra sua porção mais bela, com tons azulados advindos do solo arenoso e das águas de suas veredas e nascentes”, ressalta.

O também condutor Adailton José de Santana Oliveira, o “Joe Caverna”, espeleólogo experiente, lembra que foi atraído para guia do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu porque desde os 12 anos visita a cavernas do Extremo Norte de Minas. “Nunca vi em um só lugar tanta beleza de outro mundo”.

O trabalho, segundo ele, possibilita o contato permanente com pessoas do mundo inteiro. “Razão pela qual a gente precisa se dedicar, preparar, estudar muito sobre as pesquisas desenvolvidas, porque muitas vezes o turista chega aqui mais informado sobre o parque do que a gente”.

Segundo Joe, cabe não apenas ao ICMBio, mas a todos os condutores, “zelarem por esse que já é um patrimônio da humanidade, para que seja apreciado pelas futuras gerações”.
 

(MANOEL FREITAS)

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