Mulheres se revoltam
com demora do júri
de engenheiro que
matou nutricionista
- Revolta e indignação. São palavras que definem nosso sentimento e nos faz lutar cada dia mais pela não violência à mulher, e para que a justiça seja feita aos criminosos envolvidos nesses crimes. Essas são palavras que definem nosso sentimento ao saber que o advogado de defesa do assassino confesso da nutricionista Elizabeth de Lourdes Trovão tentou adiar o julgamento pela sexta vez – declarou Eli Isabel Rodrigues Santana, integrante da União Popular das Mulheres de Montes Claros, que luta pelo fim da violência contra as mulheres e para que a justiça seja feita em crimes hediondos.
A declaração de Eli Isabel se refere ao pedido do advogado de defesa do engenheiro Fernando Lucas Osório Camargos, 46 anos, que matou a nutricionista Elizabeth Trovão com cinco facadas, no ano passado, Lúcio Adolfo da Silva, para que o julgamento marcado para a próxima segunda-feira, 11, seja adiado pela sexta vez.
ABSURDO
A representante da União Popular das Mulheres lembra que da última vez, na terça-feira dessa semana, o júri foi adiado por um motivo absurdo.
- A atitude de um senhor de 60 anos de idade, de extrair o dente ciso é no mínimo absurda. Não podemos provar nada, pois não estivemos com o advogado no dia em que foi adiado o julgamento, mas isso nos deixou completamente indignados, pois o júri já tinha sido adiado por quatro vezes. A extração do dente do advogado na mesma data do julgamento foi uma coincidência infeliz – disse Eli Isabel.
A defensor deixou um alerta para que as mulheres não desanimem diante de tais absurdos e que estarão ao lado da família de Elizabeth Trovão e de todas as mulheres que precisem de apoio para cobrar justiça de crimes como esse.
- Estaremos na segunda-feira de manhã apoiando a família de Elizabeth e chamando a atenção da população para a necessidade de nos unirmos para dar um fim nos crimes de violência contra a mulher. Os índices de crimes contra mulheres estão crescendo e não podemos ficar paradas diante de tais fatos. Assim como cobramos a justiça para o caso de Elizabeth, cobraremos a solução de outros crimes bárbaros – finalizou Eli Isabel.
SANTA INQUISIÇÃO
O advogado Antônio Adenilson disse a O Norte que é muito remota a hipótese de que Fernando Lucas saia impune do crime que cometeu.
Segundo o advogado, o réu confesso já está pagando parte do crime, pois está preso sob prisão preventiva, que tem sua origem nos tempos da Santa Inquisição espanhola.
- Naqueles tempos os hereges ou acusados de bruxaria eram preventivamente presos, e todas as tardes, os verdugos os açoitavam barbaramente, sob o fundamento de que aquilo era um adiantamento dos flagelos que os esperavam nas profundezas dos infernos para onde eles eram mandados. No caso do réu Fernando Lucas, preso em regime integralmente fechado, sem nenhuma regalia, ele já passou da fronteira dos infernos e já está barbaramente supliciado – disse o advogado.
JÚRI IMPLACÁVEL
Antônio Adenilson disse ainda que mais dias menos dias Fernando Lucas será julgado e não passará despercebido pelo júri implacável de Montes Claros.
- Quando ele for julgado, o tribunal do júri de Montes Claros, que é implacável em julgamentos de crimes hediondos, as possibilidades de ser absolvido são remotíssimas, porque o júri não perdoa crimes desta natureza – afirmou o advogado.
COROAR DA SERPENTE
- Nem mesmo a alegação de que estava dominado no fogo do ciúme diante de um coroar da serpente, e totalmente dominado por uma violentíssima emoção, por aquela mulher que povoava os seus sonhos, durante toda a sua juventude, nem mesmo isso, será suficiente para aplacar a pré-condenação de Fernando Lucas pelos jurados – conclui o advogado.
PEDIDO INDEFERIDO
O advogado Lúcio Adolfo alegou em seu requerimento que possui outro júri em Belo Horizonte - que acontecerá no dia 12, terça-feira, às 13h30min, e que a viagem até Montes Claros um dia antes ocasionaria seu desgaste físico e mental. No júri relatado pelo advogado de defesa de Fernando Lucas, será julgado o réu Marcos Paulo de Oliveira. Na defesa, Lúcio Adolfo e outros dois advogados: Renata Castelo Branco Coelho e Gardel Matoso de Oliveira.
O pedido para adiamento do julgamento foi indeferido pelo juiz da vara de execuções penais, Marcos Antônio Ferreira, que afirmou que a própria certidão judicial demonstra, claramente, que o acusado que será julgado em Belo Horizonte tem três advogados e, a remota possibilidade de um deles não poder comparecer ao julgamento, por ter outro júri no dia anterior, não se poderia argüir que aquele estivesse indefeso.
ALEGAÇÃO FRÁGIL
O juiz explica também que Montes Claros, embora distante 400 Km de Belo Horizonte, é dotada de sistema de transporte público ligando as duas cidades, seja rodoviário, com a viagem durando cerca de cinco horas ou aéreo, com viagem de apenas 50 minutos, o que, por si só, desqualifica a alegação de dificuldade de locomoção.
O julgamento de Fernando Lucas acontece nessa segunda-feira, 11, no Fórum Gonçalves Chaves às 8 horas.