Um dos vieses e funções que a fotografia permite, o fotojornalismo, nasceu no século XIX. Então, em 1880, acontecia a magia, quando o Jornal Daily, em Nova Iorque, colocou em prática a veiculação de imagens. Mas a expressão foi concebida somente nas primeiras décadas do século XX, em especial pelas revistas ilustradas, que mesclavam os textos costumeiros com fotos, cujo ponto alto ocorreu na Alemanha, na década de 30.
Nascia, desse modo, a relação texto e imagem, a capacidade de resumir a realidade em fotografias. Isso, porque só é possível acreditar em um fato se ele for retratado, capturado. Pode-se dizer, sem medo de errar, que essa modalidade da fotografia conta histórias através das imagens, trazendo à tona o fato e a face dos personagens, de modo a permitir o enlace entre a notícia e a fotografia, a quem compete impactar a informação.
Nas batalhas militares, hábito que teve início em 1854 com a Guerra da Criméia, e mesmo no dia a dia violento das grandes cidades, o fotojornalismo se revestiu de maior significado, porque, de um modo ou de outro, o profissional também está na linha de fogo.
Foi para entender melhor esse universo da imagem, que O NORTE ouviu Elpídio Rocha, que coordenou o Curso de Comunicação da Funorte e os jornalista e fotógrafos George Nande; e Solon Queiroz, artistas das lentes.
Com a palavra, o mestre!
Como coordenador do curso de jornalismo da FUNORTE, o jornalista e professor Elpídio Rocha disse que o tema sempre mereceu atenção. “Porque vivemos numa sociedade cada vez mais imagética, em que o visual, as imagens, têm uma presença marcante e crescente, na qual a fotografia tem um papel forte na coleta, registro, preservação e divulgação dos fatos e dos personagens/protagonistas desses acontecimentos”, explica.
No seu modo de entender, com a “criação” da mídia impressa, o “próximo” passo é a captação da imagem por meio das experiências fotográficas, estabelecendo a partir disso, a fotografia como o registro visual mais rápido e preciso que o desenho. Elpídio enfatiza que a fotografia “fala” com a junção de estética e veracidade, ao captar a imagem momentânea para transmitir alguma mensagem e preservar o que aconteceu, por isso, enxerga “a fotografia como arte e mídia que traz conhecimento, catarse e informação ao público”.
Outra observação feita por Rocha, é de que “antes o fotojornalismo era analógico, e, atualmente, as câmeras digitais permitem a rapidez no registro e a maior quantidade de fotosparaaseleção”. Mais do que a questão tecnológica, Rocha acredita que “o verdadeiro fotojornalismo está na capacidade de registrar o fato com um “olhar jornalístico. A evolução tecnológica é importante porque facilita o acesso aos equipamentos e, muitas vezes, reduz o custo. Porém, o equipamento tem que ser utilizado com a perspectiva do olhar e do conhecimento treinados do profissional”.
O recorte da fração de segundo
Com exposições em várias partes do Brasil e do mundo, Solon Queiroz foi um dos pioneiros do fotojornalismo no Norte de Minas, com sua visão privilegiada, olhar que nada deixa escapar. Em sua caminhada, publicações em revistas, como a Veja, na atualidade Revista Tempo; e em jornais, Hoje em Dia e Estado de Minas. “A fotografia tem a máxima de valer por mil palavras, e muitas vezes já traduz o imaginário, o contexto, então é isso que torna tão nobre assim o fotojornalismo, a força de resumir ao máximo o fato em imagem”, diz Solon Queiroz, opinando que “ainda assim o leitor tem a liberdade da interpretação, mas com a cultura, o conhecimento que o fotógrafo tem, é claro que ele faz um recorte daquela fração de segundo, de modo que eu diria que a fotografia nos dias atuais fala quase tudo.”
Em sua caminhada, destaque para o retrato das Festas de Agosto, o que faz há 20 anos com muito gosto, porque primeiro fotografa com os olhos, para depois fazer uso do equipamento, Solon revela que “a fotografia fez com que eu refinasse o olhar, porque o fato pede respeito enorme para ser retratado, por ser uma ponte para a comunicação, porque uma boa imagem reclama por todos a leitura do texto, ou seja, ela é uma porta, uma janela para a reportagem”. (MF)
O retrato da entranha do mundo
A história do jornalista e fotógrafo George Nande se confunde com a própria história do jornalismo norte-mineiro. Muito jovem, começou a trabalhar no Jornal do Norte em 1979. Em 1984, entrou para a equipe do Diário de Montes Claros, e, em 2005, para o Jornal de Notícias, onde ocupou vários cargos até chegar à editoria-chefe.
Nande é um “apaixonado por imagem, por fotografia, porque fotojornalista tem o poder de retratar as entranhas do mundo, ou seja, ele não só registra, como eterniza”, salienta ele, que afirma se emocionar quando um acontecimento importante é registrado pela fotografia. “porque as imagens em vídeo têm peso, mas a fotografia, aos meus olhos, tem mais força ainda, congela aquele exato instante com absoluta precisão”
No seu ponto de vista, “não é à toa que o mundo e a própria imprensa cederam aos encantos do fotojornalismo, muitas vezes ocupando praticamente toda a primeira página, em face à sua importância, seu poder de traduzir o momento, o fato”.
“Recordo-me, como se fosse hoje, quando o fotojornalismo passou a ganhar corpo em Montes Claros, todos nós na redação ansiosos porque a imagem estava sendo preparada no laboratório, tudo de modo analógico. Dava um friorzinho na barriga. Ali, acontecia a mágica: no papel branco, de repente brotava a fotografia, que depois pendurávamos no varal para secar, para em seguida se eternizar”, relembra com emoção Georde Nande. (MF)
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