entrevista

A primeira de muitas outras

Na “Semana da Mulher”, advogada fala sobre suas experiências, avanços femininos e como chegou ao cargo de presidente da ACI

Publicado em 06/03/2023 às 21:00.
Gislayne é a primeira mulher a presidir a ACI

Gislayne é a primeira mulher a presidir a ACI

Na próxima quarta-feira (8) será comemorado o Dia Internacional das Mulheres e, para celebrar a data, O Norte realiza uma entrevista especial com a presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Montes (ACI), a advogada Gislayne Lopes Pinheiro. Primeira mulher a presidir a instituição, Gislayne é casada há 22 anos, tem um filho de 16 e se sente impulsionada a viver um dia de cada vez, consciente de suas possibilidades e limitações, mas disposta a evoluir sempre. 

Confira a entrevista:

Cada vez mais as mulheres avançam por setores profissionais que, antes, eram majoritariamente masculinos. Como é para você ocupar o cargo de presidente da ACI?
A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Montes Claros é uma entidade cuja criação remonta ao ano de 1949, ou seja, há 73 anos representa a classe empresarial da nossa cidade, nos seguimentos de comércio, indústria e serviços e desde a sua criação veio sendo presidida por homens.

Deste modo, ocupar a presidência desta entidade, depois de decorrida quase oito décadas, nos permite viver um momento singular, não apenas pela quebra de paradigmas, mas, sobretudo pela responsabilidade que isto implica, cabendo-nos dar seguimento ao trabalho daqueles que nos precederam, à altura do que a entidade representa. 

Acha que ao assumir a presidência da ACI você vai influenciar outras mulheres a não se intimidarem na busca por postos de diretoria em suas entidades/empresas?
Sem dúvida que, para nós mulheres, sobressair-se em cargos de liderança não é muito comum, de modo que o exemplo de outras mulheres abre espaço para que a competência feminina seja reavaliada. Porém, não há dúvidas de que cabe a cada uma de nós, mostrar o seu valor e fazer prevalecer a sua competência para atuar, em qualquer seguimento, especialmente no âmbito corporativo.

Como presidente da ACI, quais são seus maiores desafios?
As associações de classe de forma geral são desafiadas a buscar foco para as demandas dos seus associados, especialmente por parte do poder público, criando mecanismos que auxiliem as empresas a desenvolver seus objetivos sociais de forma mais efetiva, sem entraves ou embaraços. O setor produtivo ainda é o mais sobrecarregado do ponto de vista fiscal e tributário, além de ser obrigado a cumprir inúmeros protocolos e seguir à risca a legislação ambiental. Além disso, compete-nos criar oportunidades de capacitação do empresariado e com isso ampliar possibilidades de fazer negócios, como acontece anualmente na Feira Nacional da Indústria, Comércio e Serviços (Fenics). Quanto aos desafios, são estes inumeráveis, mas no meu entender, são também pontos de partida para uma atuação eficiente. 

O fato de ser mulher já a fez sofrer algum tipo de preconceito na sua profissão?
O meio jurídico, mesmo antes de a mulher conquistar espaço na sociedade, proporcionou à figura feminina exercer cargos sem qualquer distinção dos homens, já que a presença de advogadas, juízas, delegadas, promotoras de justiça, desembargadoras, ministras dos tribunais superiores e outros sempre foi uma situação comum, trazendo uma respeitabilidade para as profissões relacionadas, felizmente. Eu, particularmente, nunca fui alvo de preconceito, assédio ou assemelhados; pelo contrário, sempre fui absolutamente respeitada e referendada pelos colegas de profissão, alunos e clientes.

Como avalia o papel da mulher na sociedade contemporânea?
A mulher contemporânea ocupa um espaço nunca dantes imaginado ou sonhado por aquelas que lutaram incansavelmente pela igualdade de gênero e de oportunidades, e traz consigo uma força impulsionada pela própria sociedade, que não mais enxerga a mulher como uma minoria, segredada e tolhida dos seus direitos. Apesar de ainda existir forte posicionamento machista, comportamentos misóginos e relações abusivas, tais práticas nunca foram tão combatidas e já se percebe um início de mudança no comportamento social, sobretudo das novas gerações, sendo este o único caminho para vencer a desigualdade, o preconceito e a violência contra a mulher.

Como mulher, qual foi o grande desafio para a sua vida pessoal?
Sem dúvida, meu grande desafio, foi a conquista da minha independência financeira através da profissão que escolhi e, a partir daí, ganhar independência em todos os sentidos, porque o primeiro passo para a mulher ou qualquer pessoa ser dona do próprio nariz, andar com as próprias pernas e conquistar o respeito dos seus pares é pagando as suas próprias contas. 

Outro grande desafio é conciliar os vários papéis que precisamos exercer como mãe, esposa, dona de casa, profissional, filha, amiga, enfim; andamos em uma corda bamba equilibrando bolinhas, mas com treino e perseverança, podemos aprender facilmente, aproveitando nossos dons, sensibilidade e aptidão.

O dia 8 de março foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), como o Dia Internacional das Mulheres. O que torna essa data especial para as mulheres, na sua opinião?
O Dia Internacional da Mulher tem por escopo chamar a atenção da sociedade para a causa da mulher, que infelizmente ainda sofre com a falta de oportunidades, salários mais baixos, jugo dos companheiros e maridos, além da própria incapacidade de superação – outro ponto que precisa ser alvo de muito trabalho. A força da mulher está nela mesma e em mais ninguém!

Para o mercado de trabalho de forma geral, que conselho daria para que as mulheres possam contribuir para um mercado com oportunidades iguais?
O primeiro passo para se inserir no mercado de trabalho e como muito bem dito no mercado de oportunidades, a pessoa/mulher, deve se capacitar verdadeiramente, tornar-se uma profissional de excelência, entregar um trabalho de qualidade e assim conquistar respeito na sua área de atuação. Outro ponto importante é investir na sua própria qualidade de vida, resgate de auto estima, relações de qualidade, espiritualizada, visando manter uma saúde mental e emocional equilibradas.

Não podemos dar aquilo que não temos e a própria fisiologia feminina colabora para comportamentos mais instáveis que os homens; então evitar comportamentos autodestrutivos, que tendem a nos afastar dos nossos objetivos.

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