Filósofos da natureza

A importância da ciência para a humanidade compreender a natureza

Manoel Freitas
Publicado em 26/05/2023 às 20:00.
Presença de sítios arqueológicos em veredas de Botumirim reforçam que território foi ocupado por ancestrais (Fredson Nunes)

Presença de sítios arqueológicos em veredas de Botumirim reforçam que território foi ocupado por ancestrais (Fredson Nunes)

A ciência é tão importante para o planeta, que tão logo o pensamento científico surgiu na Grécia Antiga aproximadamente no século VI a.C., os pesquisadores foram chamados de “Filósofos da Natureza”. E nem poderia ser de outra forma, posto que - naquela época como nos dias atuais - a pesquisa dia a dia se consolida como poderosa ferramenta para a concepção do conhecimento verdadeiro, ou seja, aquele que permite a humanidade compreender um pouco mais sobre a natureza.

Mais ainda, além de importante, a produção de ciência no Brasil dá sucessivas provas de resiliência. É que, a despeito dos esforços da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), enfrenta mais obstáculos do que financiamentos e valorização dos profissionais que atuam em frentes distintas, sem os quais seria impossível produzir descobertas de grande relevância, capazes de preservar o planeta. 

Tema tão relevante que O NORTE reuniu três personagens distintos e movidos pela mesma paixão, a pesquisa científica, para exemplificar de que modo se move para conservação da biodiversidade brasileira. Palavra dada no abre alas ao curador botânico do Instituto Cultural de Inhotim, em Brumadinho, o engenheiro agrônomo Juliano Borin, há 12 anos o responsável por esse que é o maior museu a céu aberto do mundo, bem como notável exemplo de recuperação ambiental. 

De forma que assim caminha a ciência, reclamando que o Brasil, o país mais biodiverso do planeta, estude e conheça as espécies em seu território. A vida agradece, porque o conhecimento só é gerado quando são criadas oportunidades de pesquisa.  
 
“A TERRA É MAIS ÁGUA, MAS ONDE A GENTE RESIDE MESMO É VERDE”
Vice-presidente da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, o engenheiro agrônomo Juliano Borin, curador botânico de Inhotim, fez palestra em Montes Claros. Cientista com mestrado em Ciências Florestais pela Universidade Bangor no Reino Unido, contou como a paixão pela natureza o transformou em jardineiro, “porque, na verdade, todos somos jardineiros em uma bolinha vagando pelo espaço, cheia de água, mais habitamos o verde, daí a necessidade de a ciência nos ajuda a cuidar de nossa casa, do planeta”.

“Trabalho há quase doze anos em Inhotim, que - graças ao conhecimento -é um lugar mágico, que encanta, que emociona, tem gente que chora, e olha que virou jardim botânico em 2010”, explica o curador, revelando que um dos segredos desse que é considerado o maior museu a céu aberto do mundo “é preservar a natureza que o envolve, o que só se faz com ciência e amor”. 

Argumentou que Inhotim ganhou projeção internacional porque também promove com outros jardins botânicos a doação e a troca de espécies, “não envolve dinheiro, mas conhecimento e paixão”. Revelou que mantém mais de 500 jardineiros em Brumadinho “e contratamos imediatamente todos aqueles candidatos que dizem falar com as plantas”. 

Em Montes Claros, Juliano Borin, há três anos, é o responsável pelos jardins da Novo Nordisk, da Dinamarca. “Tem alguns milhares de reais investidos e os resultados não foram imediatos, mas hoje o jardim é uma pintura, e o segredo é esse: perseverança, técnica e acreditar na ciência”, finaliza o curador botânico. 

Uma das aves mais raras do mundo tem novo gênero

Também subindo montanha com pesquisadores, pegadas que a ciência deixa na areia em sua caminhada para proteger uma das aves mais raras do planeta, a Rolinha-do-Planalto (Columbina cyanopis), O NORTE teve o privilégio de acompanhar na Reserva Natural que a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE) mantém em Botumirim, o biólogo, ornitólogo e pesquisador Pedro Henrique Vogeley de Cerqueira, da Universidade de Brasília. 

A jornada faz parte de seu mestrado em Ciências Ambientais. E é desafiadora: de acordo com informações divulgadas em São Paulo nos dias 19, 20 e 21 de maio, no Avistar Brasil, maior evento de observação de aves do país, a espécie conta com apenas 15 indivíduos, ou seja, precisa da ciência, sob pena ser extinta muito brevemente.

E deu no que deu: a pesquisa, com amostra de DNA, revelou ser uma ave de gênero único no mundo. 

“Ela não era o que achávamos até então, mas, sim, o que se presumia desde o Século XIX, ou seja, que é uma espécie única, diferente de outras espécies de rolinhas; não é do gênero columbina, precisa de um gênero só para ela. Então, não é mais Columbina cyanopis, e, sim Oxypelia cyanopis, o que significa que temos que preservá-la mais ainda, porque sua perda significaria a perda de uma linhagem única (e antiga) no planeta, pelo que se sabe datada de 9,7 milhões de ano, ancestral”, celebrou o cientista, lembrando que os estudos estão sendo feitos em parceria com a SAVE. 

Veredas do Espinhaço são temas de mestrado

O NORTE acompanhou no início de maio, em Botumirim, na Serra do Espinhaço, parte do trabalho de campo do cientista Fredson Nunes, na verdade o cerne de sua dissertação de mestrado em Geografia pela Unimontes. 

“Vou comprovar que as veredas são unidades de exceção à grande regra local e regional, porque as veredas do Espinhaço têm um composto paisagístico diferenciado, então o estudo vai comprovar que elas têm comportamento diferente das demais”, explica Fredson. 

“E como vou comprovar isso?”, indaga, respondendo em seguida “através da Geomorfologia, ou seja, a forma da vereda, onde ela está situada, à geologia e à paisagem como um todo, especialmente àquelas situadas no Parque Estadual de Botumirim”. Segundo o pesquisador, “os sítios arqueológicos próximos dessas veredas comprovam que esses espaços já foram utilizados desde à antiguidade”. 

E explica: “você tem água, abrigo, comida, ou seja, as veredas como paisagens de exceção foram utilizadas, habitadas, desde à primitividade justamente por serem diferenciadas”. 

Pondera que “a forma, a geologia das veredas é a mesma, mas a singularidade das veredas da Cordilheira do Espinhaço é seu composto paisagístico, porque se você fragmenta a paisagem para analisar, percebe-se de modo muito claro que é diferente das demais, haja vista a umidade, a neblina que desce nas veredas de Botumirim, por exemplo, não ocorre nas demais”. E de algumas veredas em contato entre duas litologias diferentes.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por