Um adolescente foi morto a pauladas após roubar um celular no fim de semana em Montes Claros. Sete homens, pelo menos dois deles menores de idade, participaram do linchamento no bairro Recanto das Águas – todos com passagem pela polícia. Violência que remete aos tempos de barbárie em que a justiça era feita com as próprias mãos.
Para especialista, o descrédito do poder Judiciário e dos órgãos de segurança leva à criação de “justiceiros” que, na tentativa de punir, acabam cometendo outro crime. O adolescente não foi identificado e o corpo está no IML.
Casos como este são mais comuns do que se possa imaginar no país. O Brasil tem pelo menos um caso de linchamento por dia, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
A morte do jovem teve grande repercussão nas redes sociais. Algumas pessoas criticaram a ação dos homens, mas outras apoiaram.
O professor de antropologia da Unimontes, Gy Reis Gomes Brito, compara esse cenário à época da República Velha, há 200 anos.
“Comparo como épocas de barbárie. Isso não é uma sociedade de cultura e sim, de natureza em que a selvageria predomina. A justiça pelas próprias mãos reflete a ausência e a precarização do Estado, pois na falta dele, essas questões começam a aparecer”, pontua.
O professor retratou na tese de doutorado intitulada “Violência nas relações interpessoais no Norte de Minas no período de 1889 a 1930” essa questão da justiça pelas próprias mãos que, na época, não era crime. A pesquisa será transformada em livro.
“Em 3 mil processos crimes da época, 90% foram considerados impulsivos. Contudo, era outro período cultural, na época era comum esse tipo de ato. Hoje, o que temos é uma sociedade com a família fragilizada, com os valores desfeitos e pessoas desacreditadas”.
O CRIME
Segundo o boletim de ocorrência, o adolescente ainda tentou se esconder dos homens. Ele se trancou por horas no banheiro do estabelecimento onde o crime aconteceu, até que os agressores saíram e aguardaram em uma emboscada.
No boletim ainda consta que a dona do mercadinho chamou a polícia para informar que o rapaz estava sendo ameaçado.
Com um pedaço de pau e golpes, o adolescente foi agredido até a morte. A reportagem de O NORTE tentou conversar com os moradores do Recanto das Águas e bairros adjacentes, porém, eles prefiram, por motivo de segurança, não comentar o assunto.
A Delegacia de Homicídios ouviu os suspeitos, que foram liberados. Um inquérito foi instaurado para averiguar os fatos. O corpo do adolescente está no IML de Montes Claros. Trata-se de um jovem negro de estatura mediana, sem características específicas que poderiam ajudar na identificação.