Aumenta o número de alcoólatras em Moc

Jornal O Norte
05/01/2006 às 12:46.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:27

Gissele Niza


Repórter


onorte@onorte.net

Que bebida alcoólica em excesso pode acabar em vários problemas familiares, entre amigos e vizinhos, além de ser responsável pela maioria dos acidentes de trânsito todo mundo sabe. Mas o que muitos não sabem é que estes problemas podem ser irreversíveis, como separações, agressões físicas, acidentes com vítimas fatais e até homicídios.

Dados da Organização não-governamental Alcoólatras anôminos de Montes Claros revelam que após a passagem das festas de final de ano a procura por ajuda cresceu em 40%. Para o membro do AA, Adilson Rocha, este número é muito preocupante.

- Muitas pessoas têm vergonha de procurar ajuda, mas se esquecem que às vezes quando está alcoolizado comete crimes que depois sequer lembra que praticou. Normalmente quem é alcoólatra nunca assume, inventa a desculpa que bebe socialmente, e é aí onde mora o perigo - informa Adilson.

O membro do AA explica que o alcoolismo não é um vício - é uma doença, e precisa ser tratada constantemente para evitar que leve a pessoa ao fundo do poço e com ela seus familiares e amigos.

SEPARAÇÕES

Outro dado preocupante revelado pelo AA é que 90% das separações entre casais estão relacionados ao alcoolismo.

- Quando está alcoolizada muitas vezes a pessoa parte para agressão e esquece de que é um pai ou mãe de família, que deve zelar pelos filhos - completou Adilson.

As brigas entre pais e filhos e violência nas ruas também são conseqüências do alcoolismo. Segundo Adilson a maioria das pessoas que procuram o AA já enfrentou problemas como este. Ele faz um alerta.

- Quanto mais cedo a pessoa procurar ajuda, menos problemas ele enfrentará, pois a bebida toma conta da pessoa e vai aos poucos levando para o fundo do poço.

AGRESSÕES

As maiores vítimas dos problemas oriundos do alcoolismo são as mulheres. Diariamente são registradas dezenas de ocorrências de desentendimentos de casais por causa da bebida. Em alguns casos a vida familiar se torna um pesadelo.

Moradora do bairro Nova Morada de Montes Claros, que a reportagem identifica apenas como Maria, nome fictício para preservá-la, relata que a bebida acabou com sua vida e destruiu sua família.

- Vivia em um inferno, meu marido já amanhecia com um copo de cachaça na mão. Bebia dia e noite e quando chegava em casa, transtornado, arrumava qualquer desculpa e começava me espancar. No outro dia era a mesma coisa, eu vivia escondida e com medo até da sombra. Sem falar do sofrimento de ver meus filhos assistir às cenas de agressão - relatou a doméstica.

Segundo Maria, o seu esposo nunca aceitou procurar ajuda e a ameaça quando ela fala que vai embora com os filhos.

- Meus três filhos pedem para ele procurar ajuda, mas é a mesma coisa de xingá-lo. Ele fala que não é alcoólatra e nunca assume as agressões. Quando penso em ir embora ele me ameaça e fala que a minha vida é ao lado dele - afirmou.

CIÚME

Dados da Delegacia da mulher de Montes Claros revelam que 90% dos registros de agressão acontecem devido à bebida e ao ciúme. Segundo a delegada Maria de Lourdes, da Delegacia da mulher, a maioria das agressões acontece entre amasios por conseqüência da bebida alcoólica.

- A falta de base familiar nestas casas onde crianças crescem vendo os pais maltratarem as mães, humilhá-las é o principal motivo das separações. As pessoas precisam procurar tratamento e colocar Deus em suas vidas para que a família viva em harmonia - aconselhou a Delegada.

SOFRIMENTO DE UM PAI

Outra alerta do membro do AA é que, ao contrário do que muitos pensam a demanda de mulheres alcoólatras é maior do que de homens.

- Para a sociedade a maioria dos alcoólatras é formada por homens, pela cultura e tradição, mas esta mentalidade esta totalmente errada: assim como o índice de homens alcoólatras vem crescendo, o índice de mulheres que enfrentam o mesmo problema também - informou Adilson.

O sofrimento pela perda da mulher, vítima do álcool também se abateu sobre Manoel (nome fictício) quando presenciou o álcool destruir sua família.

- Só quem passa por isso é que sabe o que é um pai ver os filhos serem espancados e humilhados por uma mãe alcoólatra. Vivi com minha esposa durante 15 anos até que ela faleceu. Todo o dia era a mesma história, saia para beber e deixava as crianças em casa, quando chegava as espancava sem dó. Para mim não existe dor maior nesta vida quando lembro dos dias em que chegava do trabalho e meus filhos estavam chorando, todos machucados - relatou Manoel.

DEMANDA

Segundo o membro do AA com a proximidade do carnaval o índice de procura pela entidade deve dobrar.

- O índice de álcool consumido nesta época do ano é muito grande, o que conseqüentemente aumenta a procura pelo tratamento. O que os alcoólatras precisão é de apoio familiar para se curar e viver bem - finalizou Adilson. 

Não só os alcoólatras participam das reuniões do AA - toda a população é convidada a conhecer o trabalho realizado por um grupo de amigos que tem como objetivo ajudá-los a se curar desta doença.

Todas as semanas acontecem reuniões nos 18 grupos do AA de Montes Claros, os interessados devem entrar em contato pelo telefone 3221-4199 para se informar do grupo mais próximo a sua residência.

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