
Calcula-se que, no mundo, entre 6 milhões a 8 milhões de pessoas estão infectadas pelo parasita Trypanossoma cruzi e sete em cada dez pessoas que têm a Doença de Chagas não sabem que estão infectadas. Esse fenômeno, alertado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é consequência da ausência de sintomas clínicos da enfermidade.
O Norte de Minas é considerado uma região endêmica para a doença, que tem o mesmo cenário na América Latina.
Nesta quinta-feira foi celebrado o Dia Mundial de Combate à Doença de Chagas. A data tem como proposta conscientizar a população sobre os riscos da doença e como ela pode matar de forma silenciosa.
O Ministério da Saúde iniciou uma campanha de esclarecimento sobre a enfermidade. Em Montes Claros, ações de combate à doença também são constantemente realizadas pela Superintendência Regional de Saúde (SRS).
A infecção, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida pelo barbeiro, foi detectada, em 2021, de forma crônica, em 565 pessoas na área de abrangência da SRS de Montes Claros, segundo dados do Sistema de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
Outros dois casos são de pacientes com a doença na fase aguda. Em 2022 já foram notificados 108 novos casos.
VISITAS
A caça ao barbeiro é fundamental para barrar o aumento de casos de Chagas no Norte de Minas. Em 2021 e no primeiro trimestre deste ano, as equipes da SRS visitaram 39 municípios para identificar a existência do inseto em residências.
Nessas ocasiões, foram distribuídos 34.280 comprimidos de Benzonidazol, medicamento utilizado no tratamento da doença e que apresenta melhor tolerância e menos efeitos colaterais nos pacientes.
A coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS, Agna Menezes, ressalta a importância da continuidade das ações, uma vez que Minas é considerado área de alto risco e apresenta o terceiro maior coeficiente médio de mortalidade – 5,75 por 100 mil habitantes.
A Superintendência Regional de Saúde atua em parceria com a Fiocruz na realização de palestras e implementação dos projetos Integra Chagas e Cuidar Chagas para a eliminação da transmissão congênita da doença (de mãe para filho durante a gestação).
ERRADICAÇÃO
A mortalidade de pessoas na faixa dos 50 anos por Doença de Chagas era comum há décadas, lembra o médico Humberto Plínio Ribeiro. Segundo ele, o Norte de Minas, até então predominantemente rural, era foco do barbeiro, que se abrigava principalmente nas casas de pau a pique.
“Os sintomas podem levar de 20 a 30 anos para aparecer. Muitas vezes, a pessoa morria ‘de repente’, como se dizia naquela época, e não sabia que tinha a doença, contraída na infância”, explica o médico.
Filho do deputado Plínio Ribeiro, Humberto conta que o pai, quando parlamentar, fez um trabalho que se estendeu a todo o Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha.
“Ele viabilizou recursos para que o Departamento Nacional de Endemias (Deneru) executasse a borrifação. Era o que havia na ocasião e funcionou muito bem. Conseguiu-se a extinção do barbeiro”, afirma. No entanto, após tantos anos, ainda não se chegou à cura no país.
Postos de vigilância
Nos 54 municípios que integram a Regional de Saúde de Montes Claros, a Fiocruz está trabalhando na reativação de Postos de Informação de Triatomíneos (PIT), locais selecionados pelos municípios para receber o inseto transmissor. Em Pirapora, a Secretaria Municipal de Saúde está em vias de concretizar a ação. “Temos no município um PIT e vamos ampliar esses pontos, a partir de junho, para a zona rural, onde teremos 15 postos”, diz o secretário Rafael Lana. Nesses postos são apresentados os barbeiros capturados e eles são encaminhados para análise que detecta que estão contaminados ou não.
Em coração de Jesus, a Secretaria de Saúde desenvolve um trabalho de intervenção em comunidades com potencial de foco do barbeiro. “O serviço de Zoonoses trabalha nessas comunidades e também na área urbana, na identificação e eliminação do hospedeiro. Temos uma equipe exclusiva para isso”, explica Guilherme Leal, secretário Municipal de Saúde. Ele afirma ainda que a cidade dispõe de um programa de melhoria habitacional fornecido pela Funasa. “Há a entrega de novas moradias para pessoas que não possuíam casa de alvenaria”.