Alta nos casos de Covid, aumento de demanda por problemas respiratórios, além de outras enfermidades, e as unidades de saúde de Montes Claros entram em colapso. Desde o domingo a cidade vem registrando superlotação nos hospitais e os moradores amargam longas esperas por atendimentos, internações e realização de exames.
Desde o fim de semana a Santa Casa suspendeu o atendimento de pacientes com síndrome gripal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e na tarde de segunda-feira a medida foi estendida aos convênios e consultas particulares.
De acordo com a assessoria do hospital, há 42 pacientes internados no pronto-socorro SUS e outros 15 no bloco cirúrgico em consequên-cia da falta de vagas em enfermaria e/ou terapia intensiva.
Para evitar que o quadro fique ainda mais crítico, a Santa Casa decidiu atender somente casos em que é referência exclusiva na rede de urgência/emergência pelo sistema público, como neurocirúrgico, AVC agudo, traumas oftalmo-lógicos, queimados, grandes traumas e situações de emergência.
No caso de pacientes com suspeita ou confirmação de Covid, a orientação é procurar outros hospitais do município, segundo a nota divulgada pela Santa Casa.
REVOLTA
A cabeleireira Marli Pereira Santos deixou o serviço para levar o pai ao pronto-socorro da Santa Casa na manhã desta terça-feira (14) e ficou revoltada com a falta de atendimento. “Idoso, 72 anos e simplesmente me dizem que não tem vaga. O caso dele é de internação. Tem ponte de safena, início de pneumonia, bronquite. Está tomando a medicação, mas não resolve nada. Nos disseram que, para tomar oxigênio, ele vai ter que ir à UPA”, diz Marli, indignada.
“A saúde de Montes Claros está um desastre e, infelizmente, o prefeito fica arrumando praças, ruas e esquece de investir na saúde. As pessoas estão morrendo porque não tem vaga nos hospitais”, afirma a cabeleireira.
A frustração também tomou conta do casal Patrícia Santos e Marcelo Alves, que chegou à Santa Casa por volta do meio-dia em busca de atendimento para a filha Anabel mas encontrou o serviço suspenso. Eles já haviam procurado a UPA Chiquinho Guimarães, mas lá não conseguiram atendimento para a pequena.
“Eu mudei de Salinas para Montes Claros em busca de oportunidades também no atendimento de saúde, mas acho que está pior. Se estivesse lá, já teria sido atendida. Aqui está muito precário”, lamenta a mãe.
Pacientes que estiveram na UPA Chiquinho Guimarães relatam que houve tumulto na unidade, pois o atendimento pediátrico foi encerrado ainda com muitas mães na fila de espera. Camila Cristina Carvalho mora no bairro São José, na região oposta ao Chiquinho Guimarães. Chegou à UPA por volta das 8h com a filha Ana Júlia e foi atendida cerca de quatro horas depois. “Muita gente voltou sem atendimento, porque encerraram as fichas”.
A reportagem entrou em contato com o município, mas até o fechamento da edição a assessoria de comunicação da prefeitura não deu retorno sobre a situação.
Macas nos corredores
No Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF) os leitos clínicos, cirúrgicos, de maternidade, obstétricos e de terapia intensiva não Covid chegaram à capacidade máxima e o atendimento foi suspenso.
A capacidade instalada da unidade é de 21 leitos no pronto-socorro, mas, nesta terça-feira, o número chegava a 34, 27 internados em corredores e sete em observação.
A situação de ocupação se repete no Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro, que recentemente inaugurou leitos de pediatria e todos já estão ocupados.
“Estamos com taxa de ocupação muito alta também e com o pronto-atendimento cheio. Temos dez leitos de UTI pediátrica SUS, mas estamos com 11 crianças internadas. Estamos fazendo o máximo para contribuir com a rede nesse momento de superlotação”, disse Ana Paula Nascimento, diretora do HC.
Ela ressalta que as bronquiolites são os casos predominantes e acredita que isso pode ser atribuído à mudança de clima e baixas temperaturas registradas nos últimos dias.
Responsável pelo setor de regulação do HC, Samuel Lima diz que o gargalo do serviço é a pediatria. “Com relação às UTIs adulto ainda temos dez vagas, quatro na clínica médica, 18 na maternidade. No pronto-socorro temos seis pacientes aguardando atendimento e vagas na clínica médica, caso necessitem de internação. É um dia após o outro”, diz. (M.V.)
Na UPA, pacientes esperaram por horas e muitas mães voltaram para casa sem atendimento para os filhos. (Márcia Vieira )
“Estamos chegando da UPA. Só havia atendimento para nós dois, não tinha pediatra para ela. Disseram para a gente vir à Santa Casa, mas aqui também não está atendendo” - Patrícia Santos e Marcelo Alves com a filha Anabel. (Márcia Vieira)
“Idoso, 72 anos e simplesmente me dizem que não tem vaga. O caso dele é de internação. Tem ponte de safena, bronquite, pneumonia. Está tomando a medicação, mas não resolve nada” - Marli Pereira Santos e o pai, Arlindo. (Márcia Vieira)