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Terça-Feira,26 de Novembro
Saúde

Norte de Minas na luta contra Chagas

Espinosa e Porteirinha participam de projeto pioneiro para diagnóstico molecular da doença

Da Redação
Publicado em 09/02/2023 às 00:28.

Especialistas participaram de reuniões com lideranças e profissionais de saúde de Espinosa (KEITY EMANUELLE SOUSA)

Espinosa e Porteirinha são os dois primeiros municípios do país a receber, nesta semana, equipes técnicas de profissionais da Secretaria de Estado de Minas Gerais (SES-MG), do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para implementar o Projeto Integra Chagas Brasil.

Os dois municípios, jurisdicionados à Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS), foram incluídos entre as cinco primeiras localidades do país para a execução do projeto estratégico, que tem o objetivo de ampliar o acesso da população à detecção e tratamento da doença de Chagas – crônica nos serviços de atenção primária à saúde. 

Para isso, será utilizado em caráter pioneiro no país de um teste diagnóstico molecular (Kit NAT Chagas) desenvolvido pela Fiocruz e aprovado no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Projeto Integra Chagas é coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. 

Na última terça-feira (7), técnicos da SES-MG, do Ministério da Saúde e da Fiocruz participaram de reuniões com lideranças e profissionais de saúde de Espinosa, quando detalharam as ações que serão executadas com a participação de instituições sediadas no município. 

Na quarta e quinta-feira (8 e 9), os encontros são em Porteirinha. A previsão é de que o Projeto Integra Chagas seja implementado no Norte de Minas até julho de 2024. 

ATENÇÃO ESPECIAL NA REGIÃO 
A superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques avalia que “a inserção de municípios do Norte de Minas no grupo prioritário para a intensificação das ações de diagnóstico rápido da doença de chagas constitui iniciativa importante, pelo fato de se tratar de um dos principais agravos de saúde ainda predominantes na região e que precisa ter uma atenção especial por parte do poder público”.

Atualmente a confirmação laboratorial da doença de Chagas é feita por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito Trypanosoma cruzi em amostras de sangue. 

“Em comparação, o teste molecular é mais sensível, pois consegue identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra, o que não é possível no exame parasitológico”, observa Constança Felícia Britto, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas da Fiocruz.
 
AMOSTRAS DE SANGUE
A identificação do Trypanosoma cruzi com o Kit NAT Chagas também é feita a partir de amostras de sangue. O procedimento demora de quatro a cinco horas e pode ser executado em qualquer laboratório equipado para aplicar a metodologia PCR. 

“Esperamos que o Kit NAT Chagas possa aumentar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento das pessoas com doença de Chagas, que são negligenciadas e têm dificuldade de acesso à saúde”, pontua Constança Britto.  

Problema negligenciado

A coordenadora de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde de MOC, Agna Soares da Silva Menezes explica que, assim como outras doenças negligenciadas, Chagas está associada a condições de vida de vulnerabilidade.

A doença é transmitida por insetos triatomíneos, os populares barbeiros.

“Trata-se de uma das doenças tropicais negligenciadas mais silenciadas. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio”, diz.

Diante da grandeza dos números, a doença precisa de permanente atenção por parte do poder público.

Estimativa da Fundação Oswaldo Cruz aponta que aproximadamente 12 mil pessoas morrem anualmente por causa de Chagas no mundo – cerca de 8 mil são bebês que se infectaram durante a gravidez ou no parto.

Dados do Ministério da Saúde dão conta de que, em 2010, mais de 34 mil gestantes tiveram diagnóstico de infecção – quase 600 crianças nasceram com infecção congênita. 

A Fiocruz aponta que são inúmeras as barreiras existentes para o acesso da população a diagnósticos e tratamento da doença de Chagas, a maior delas, a educação. 

Apenas 1% ou menos daqueles que poderiam se beneficiar obtendo a cura da doença tem real acesso ao tratamento. Em geral, os diagnósticos ocorrem na fase tardia, quando já há comprometimento crônico e complicações, com grave prejuízo às pessoas, além de elevado custo ao sistema de saúde.

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