
A situação crítica do sistema de saúde em Montes Claros, ainda mais evidente com a pandemia e com maior destaque para a pediatria, foi tema de audiência pública na Câmara de Vereadores nesta quinta-feira. Apesar da gravidade da situação, que expõe mães e crianças há horas de espera por atendimento, nenhuma solução imediata foi apresentada na reunião.
A audiência reuniu representantes de vários setores envolvidos e, mais uma vez, a remuneração dos pediatras e a estrutura de trabalho oferecida foram colocados como o grande entrave para que o município e as instituições consigam contratar esses profissionais.
Com a demanda cada dia mais alta, em função de uma nova onda da Covid-19 e do surto de gripe no município e região, a superlotação nos hospitais da cidade é inevitável.
Cenário que tem gerado muitas denúncias e reclamações, principalmente de mães angustiadas com as péssimas condições para atendimento dos filhos.
“Como mãe, tudo que envolve os nossos filhos nos aflige, nos afeta. Diariamente recebemos relatos de descasos dos atendimentos nos hospitais, seja pelo SUS ou por convênios, o que tem nos deixado muito preocupadas”, afirma a representante do grupo “Mães Unidas de MOC”, Deijane Graciele Ferreira Coelho.
Para ela, é inconcebível a população estar exposta a uma situação tão precária na saúde. “Em uma situação de pandemia como a que estamos vivendo, nossos filhos não terem acesso a esse tipo de atendimento realmente nos causa muita revolta e preocupação”, afirma.
A secretária Municipal de Saúde, Dulce Pimenta, que participou da audiência, disse que não houve uma redução de pediatras na cidade. “O que acontece é que a quantidade de pediatras disponíveis para atender a rede SUS no país é insuficiente. A pandemia e o surto de gripe demandaram mais ainda do serviço de pediatria e, com isso, esse problema foi explicitado”, explica a gestora.
NEGOCIAÇÃO
Para a diretora administrativa do Hospital Alpheu de Quadros, Maria Socorro de Carvalho Silveira, a situação da saúde pública de Montes Claros é preocupante, principalmente, no que diz respeito à pediatria. Ela afirma que o boom que aconteceu na demanda já era esperado em função da pandemia, e que o setor até se saiu bem.
“Agora, a questão da pediatria passa por negociação. Os entes envolvidos têm que sentar para negociar e, nesse caso, um perde um pouquinho, outro perde outro pouquinho, e nenhum pode pensar em apenas ganhar”, acredita.
Se isso não ocorrer, o quadro atual pode até se agravar. “Temos portas de entradas de urgências e emergências fechadas. Se agrava um quadro, eu preciso ter para onde mandar a criança. Isso nos preocupa, porque o primeiro atendimento a gente faz, mas para onde mandar?”, questiona.
PROFISSIONAIS
Se os pais têm enfrentado uma maratona para conseguir atendimento para os filhos, a situação não é diferente do outro lado. “Estamos enfrentando há anos a sobrecarga de trabalho. São plantões exaustivos, onde a gente atende uma quantidade grande de crianças”, afirma a pediatra neonatologista Cindi Machado Melo Rodrigues.
Ela ressalta que essa situação extrema foi o que levou os pediatras a decidirem por deixar algumas unidades de saúde, afetando o atendimento. “Com isso, o pediatra decidiu reduzir a jornada de trabalho, decidiu escolher os lugares onde ele consegue ter um suporte maior para o paciente”, explica.
A audiência foi proposta pela vereadora Professora Iara Pimentel (PT), que tenta unir esforços para encontrar uma saída para o problema. “Estamos aqui hoje (ontem) pelo clamor da população, para que a gente possa enfrentar com muita seriedade essa questão da saúde no município”.