Ane Caroline Queiroz Alves toma cerca de 25 remédios para combater o Lúpus (Arquivo pessoal)
Fevereiro é o mês escolhido para conscientização sobre algumas doenças autoimunes, incluindo o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), o tipo mais comum da doença, que afeta cerca de 65 mil pessoas no Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia. As mulheres entre 20 e 40 anos são as mais afetadas pela doença, mas o “inimigo” pode se manifestar mais cedo.
Foi assim com Ane Caroline Queiroz Alves, que, com apenas 18 anos de idade sofreu com insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória, insuficiência renal, uma forte anemia e chegou a ficar internada três meses consecutivos. Entre idas e vindas ao hospital recebeu um diagnóstico de sopro no coração e indicação para cirurgia. Mas um dos médicos sugeriu a repetição de um exame capaz de detectar a presença de doença autoimune e o resultado veio positivo para Lúpus.
“Tomava morfina, porque sentia muitas dores e apesar das várias doses durante o dia, as dores não melhoravam”, relata a paciente. Confirmado o diagnóstico de lúpus, veio um segundo, de fibromialgia. E na esteira um outro problema, desta vez na esfera financeira. Os remédios indicados, cerca de 25 medicações diferentes, não são distribuídos pelo SUS e equivalem a um custo de R$ 9 mil. Entrou em cena o músico Isaque Emanuel, amigo de Ane, que fez uma campanha em prol do tratamento e levantou o recurso para a compra dos remédios.
“Fiquei muito feliz, ele conseguiu arrecadar em um prazo curto e o uso dos medicamentos fez diminuir a dor, o inchaço, e abriu uma possibilidade de fazer alguma coisa para ter uma renda”, diz. Impedida de ter um emprego fixo em virtude da doença, começou a revender lingerie, trabalho que traz flexibilidade e não exige tanto esforço físico. A campanha repercutiu e sensibilizou uma reumatologista, que passou a acompanhar o caso de Ane Caroline sem cobrar pelas consultas.
Thiago Henrique Xavier Guimarães, reumatologista do Hospital das Clinicas Mário Ribeiro (HC) destaca que são diversas as manifestações causadas pelo Lúpus e elas podem variar de leves a moderadas, até o comprometimento grave de órgãos vitais com ameaça à vida. Segundo o médico, o desenvolvimento da doença acontece quando o sistema imunológico do paciente passa a atacar o seu próprio organismo, gerando um grave processo inflamatório nos órgãos acometidos. “A doença costuma acometer as articulações causando inflamação e dor articular; Os músculos, causando dores musculares; A pele, causando lesões típicas da doença como a popularmente conhecida lesão em asa de borboleta em face; Lesões fotossensíveis, além de processos inflamatórios graves na pele”, diz o médico pontuando que a doença pode ainda se estender ao coração, pulmões, cérebro e rins, provocando nefrite.
As causas para o Lúpus, conforme Thiago, são a somatória de fatores genéticos, ambientais e hormonais, que interagem para o seu desenvolvimento, especialmente em quem nasce com a predisposição genética. Nesse caso a exposição excessiva a radiação solar, ao tabagismo ou infecções virais e bacterianas, e estresse físico ou emocional, são situações de risco para o LES, que não tem cura, mas pode ser tratado para possibilitar melhora na qualidade de vida do paciente.
Para ele, o tratamento do LES evoluiu de maneira significativa nas últimas décadas e trouxe um arsenal de medicamentos com alta eficácia no controle da doença. “A estratégia terapêutica será traçada pelo reumatologista conforme as manifestações da doença, sempre com o objetivo de buscar a remissão, com a melhora dos sinais e sintomas e melhora da qualidade de vida”, explica.
O médico ressalta que é importante buscar um reumatologista assim que surgirem os primeiros sintomas. “Dores articulares e musculares persistentes, lesões de pele, febre, emagrecimento, desânimo, mal-estar, principalmente quando associados a alterações nos exames de sangue e/ou urina, são indicativos do lúpus”, afirma.
O diagnóstico é realizado quando estes sinais e sintomas da doença são associados às alterações clássicas vistas nos exames laboratoriais, como a presença do Fator Anti Celular (FAN) e a positividade para autoanticorpos causadores do Lúpus, de acordo com o especialista.
VACINAÇÃO
Pacientes do lúpus precisam redobrar a atenção em relação à vacinação. As vacinas de vírus vivo são contraindicadas para pacientes em tratamento com medicamentos imunossupressores. Já as vacinas de vírus inativado, como as da gripe, hepatite B, dentre outras, são recomendadas nessa situação.