
Uma bebê de 1 ano e 11 meses morreu, na última semana (7), em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, após contrair leishmaniose. A menina era natural de Rio Pardo de Minas, no Norte do Estado e, segundo a mãe, contraiu a doença na cidade natal.
Ela contou aos médicos que a criança apresentou febre por três semanas, acompanhada de dor abdominal. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Patos de Minas, a equipe médica identificou também manchas pelo corpo da criança.
Segundo a Prefeitura de Patos de Minas, o bebê deu entrada na UPA no dia 29 de junho, depois de ser atendida na Clínica de Especialidades. De lá, ela foi encaminhada para o pronto-atendimento para internação e investigação de diagnóstico, já com suspeita de leishmaniose.
No dia 30 de junho, exames da criança constataram anemia, leucopenia e plaquetopenia. Nessa data, ainda na UPA, foi colhido material para confirmar a suspeita de leishmaniose. O resultado positivo foi conhecido apenas no dia 6 deste mês.
Ainda no dia 30, diante do quadro clínico da paciente, a equipe médica da UPA identificou a necessidade urgente de transfusão de sangue. Segundo a prefeitura, a UPA entrou em contato com a central de regulação para transferir a criança para o Hospital Regional Antônio Dias (HRAD), unidade da rede estadual, em Patos de Minas. No entanto, o hospital alegou que não tinha como receber o bebê por falta de pediatra.
A menina retornou para a UPA. Segundo a secretaria, embora não seja hospital e não tenha estrutura para realizar transfusão de sangue, a unidade , com acompanhamento de um pediatra, realizou o procedimento.
Somente no dia 2 deste mês, o HRAD recebeu a criança. Depois, foi transferida para a UTI de um hospital particular via SUS mas, em razão da gravidade do quadro, não resistiu e faleceu no dia 7.
CONTAMINAÇÃO
Segundo relatos da mãe, afirma a nota da Prefeitura de Patos de Minas, a criança contraiu leishmaniose em Rio Pardo de Minas e começou a apresentar os primeiros sintomas três dias após terem se mudado para uma fazenda próxima ao distrito de Santana de Patos.
Minas registrou, neste ano, 97 casos e dez mortes em decorrência da leishmaniose visceral. Um levantamento da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), divulgado nesta quinta-feira (14), mostra que a doença é endêmica no Estado e tem, no Norte de Minas, uma importante área de contaminação.
As condições climáticas da região – calor intenso e tempo seco na maior parte do ano – são consideradas favoráveis para a proliferação do mosquito-palha, vetor da doença.
No Norte de Minas, a leishmaniose é descrita desde a década de 1940. A partir dos anos 1980 a doença se expandiu para o ambiente urbano, sendo transmitida por meio de cães infectados pelo vetor Lutzomyia longipalpise, conhecido popularmente como mosquito-palha, tatuquiras, birigui, dentre outros.
O infectologista Estevão Urbano explica que a contaminação do ser humano ocorre através da picada do mosquito. “Os mosquitos que transmitem a leishmaniose têm como reservatório natural animais domésticos e silvestres. A transmissão para o ser humano acontece quando o mosquito pica um animal contaminado e, em seguida, pica a pessoa”, esclarece.
O especialista afirma ainda que existem dois tipos de leishmaniose: a cutânea e a visceral. A leishmaniose cutânea caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo. Algum tempo após a contaminação podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta.
Já a leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, que ataca vários órgãos internos, principalmente o fígado, a medula óssea e o baço. Esse tipo de leishmaniose acomete principalmente crianças de até 10 anos.
Apesar da gravidade da doença, Urbano explica que a leishmaniose tem tratamento efetivo. “São drogas específicas para tratar leishmaniose e podem variar de acordo com a gravidade do paciente. Na maioria dos casos, elas funcionam e dão bons resultados, principalmente em pacientes com leishmaniose visceral”.
De acordo com o infectologista, a melhor prevenção contra a doença é evitar o contato com animais contaminados, silvestres ou domésticos. O especialista alerta que, em grandes centros urbanos, é comum ter casos de leishmaniose em cães e gatos. No passado era comum sacrificar os animais mas, atualmente, com o avanço da medicina veterinária, é possível tratar o animal e ter controle do agente infeccioso.