
A Unimontes, por meio do Laboratório de Inteligência Computacional Aplicada (LICA), desenvolve o Projeto Ovitrack, tecnologia que usa inteligência artificial para monitorar e combater o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. A iniciativa tem parceria da Secretaria Municipal de Saúde e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), com resultados positivos já nos primeiros testes.
Segundo o coordenador do LICA, professor Allysson Steve Lacerda, o projeto nasceu da colaboração com um ex-aluno da universidade e responde a uma demanda urgente do município. “Montes Claros possui cerca de 540 armadilhas instaladas em residências, onde as fêmeas do mosquito depositam ovos. Antes, a contagem era feita manualmente, o que demandava tempo e estava sujeito a erros. Vimos a possibilidade de automatizar e acelerar esse processo com o uso da inteligência artificial”.
O protótipo foi aprimorado por alunos de pós-graduação em Modelagem Computacional, que adaptaram o equipamento com um microscópio portátil para realizar a leitura das amostras. “Além da leitura e contagem dos ovos, desenvolvemos uma plataforma de visualização que permite às secretarias de saúde tomarem decisões mais rápidas e assertivas, como definir os locais prioritários para aplicação do fumacê”, explicou o professor.
Atualmente em fase de aperfeiçoamento, o sistema já atinge 95% de precisão na identificação dos ovos. “Estamos avançando na criação de mapas que mostram as regiões mais críticas, o que facilita a gestão do controle do vetor. A ideia é que seja uma tecnologia acessível, com uso de equipamentos de baixo custo, podendo ser expandida para qualquer município”, destacou Lacerda.
A expectativa é que o painel esteja pronto para uso em cerca de seis meses. “Acreditamos que, nesse prazo, o sistema estará efetivamente disponível, podendo até mesmo integrar notificações de casos confirmados, tornando a plataforma ainda mais prática e eficiente”, completou.
Para o secretário municipal de Saúde, Eduardo Luiz da Silva, o Ovitrack representa um avanço estratégico no enfrentamento à doença. “Hoje, a contagem manual das armadilhas pode levar até quatro dias. Com o novo dispositivo, será possível realizar esse trabalho em apenas um dia, garantindo respostas mais rápidas para as ações contra o Aedes aegypti”.
Ele reforçou a importância dos dados coletados para orientar o combate ao mosquito. “Com informações reais e confiáveis, conseguimos direcionar operações de pente-fino, que envolvem a Secretaria de Saúde, o Exército e outros parceiros, para eliminar focos e criadouros. No ano passado, tivemos cerca de 35 mil notificações e quase 19 mil casos confirmados. Este ano, foram apenas três mil notificações e 270 casos positivos. Foi um avanço significativo, mesmo com o método manual. Com o Ovitrack, poderemos agir com ainda mais eficiência”, afirmou.
Apesar dos progressos, Silva reforçou que o sucesso no combate ao mosquito depende também da participação da comunidade. “O trabalho da universidade e do município é essencial, mas a população precisa se conscientizar de que também é um grande aliado. Só assim conseguiremos, de forma efetiva, evitar a proliferação do Aedes aegypti em todo o município”, afirmou.