As informações indicam que os adolescentes de dez a 14 anos são os mais afetados este ano, enquanto as crianças menores de cinco anos têm as maiores taxas de mortalidade, seguidas pelas de cinco a nove anos (FREEPIK)
Segundo um levantamento conduzido pela Fiocruz/Unifase por meio do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), em 2024, a dengue tem impactado de forma mais severa crianças com até cinco anos de idade.
Os dados mostram que adolescentes entre dez e 14 anos apresentam o maior número de casos registrados este ano, enquanto crianças com menos de cinco anos exibem as maiores taxas de letalidade, seguidas pelas de cinco a nove anos. O Observa Infância analisou os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde (MS) das primeiras dez semanas epidemio-lógicas de 2024 (até 9 de março).
Ao todo, foram registrados 52 óbitos - 16 deles já confirmados e 36 em investigação - por dengue em crianças com menos de 14 anos no período. Deste total, 44,2% das vítimas tinham menos de cinco anos, enquanto a faixa de cinco a nove anos representou 32,7% dos óbitos e a faixa de dez a 14 anos correspondeu a 23,1% das mortes, demonstrando uma gradativa diminuição da proporção de óbitos com o aumento da idade.
O médico pediatra Carlos Lopo explica que os sintomas iniciais da dengue são bastante semelhantes tanto em adultos quanto em crianças. Por exemplo, febre acompanhada de dor de cabeça, dor nos olhos, dor no corpo, dor nas articulações e, por vezes, aparecimento de manchas vermelhas. “Os sintomas mais graves costumam aparecer próximo do terceiro dia da doença, como os sangramentos, dor na barriga, vômitos, falta de ar, ou sonolência excessiva”, diz.
“Esta doença também é pior nos extremos de idade. As crianças, principalmente as menores de cinco anos, tem maior potencial de gravidade devido maior fragilidade nas veias, e pela Dengue ser muitas vezes confundida com outras viroses que são comuns durante a infância. Os idosos ter maior risco devido à grande quantidade de doenças que precisam de remédios que atrapalham a coagulação”, acrescenta o médico.
O médico também destaca a não recomendação do uso de inseticidas (venenos) em ambientes com crianças. Em relação aos repelentes, os mais indicados são aqueles que contêm Icaridina em sua composição. Ele sugere esses repelentes por serem os únicos recomendados para bebês, além de possuírem uma duração mais longa e serem eficazes contra carrapatos. O médico ressalta a importância de não esquecermos de usar repelentes mesmo quando já estamos com dengue, pois é crucial evitar que o vírus chegue aos mosquitos não infectados, reduzindo assim a chance de disseminação da doença.
“A dengue mata, mas seus mecanismos que geram a morte ocorrem por atrapalhar nossa coagulação, facilitando sangramentos, e por gerar a saída de plasma (líquidos do sangue) de dentro das veias, facilitando a desidratação grave. Assim, o melhor remédio para a doença é descansar e se hidratar muito. Não deixe de consultar com seu médico, pois muitos dos pacientes com dengue (crianças ou adultos ou idosos) podem precisar fazer algum exame para avaliar a coagulação”, completa o médico.
VIGILÂNCIA INTENSIFICADA
Nívea Isabel, mãe do Brian de três anos, conta que a preocupação é muito grande. “Não tem sido fácil conviver com esse surto de dengue que está em todos os lugares. Meu filho já teve uma vez e foi uma fase muito tensa e difícil. Tenho procurado de todas as formas proteger o meu filho para não adoecer de novo e usado todos os métodos de prevenção como o uso do repelente e cuidando para que não tenha foco do mosquito em casa. As crianças sofrem mais que os adultos e quando muito pequenas as vezes não conseguem expressar o que realmente estão sentindo”, conta.
A mãe do Brian também enfatiza que se todos cumprirem com sua parte, todos estarão mais protegidos: “os focos estão em todo lugar e falta consciência das pessoas em não juntar entulho, deixar quintais e lotes limpos. Tem sido um terror conviver com essa preocupação de proteger os nossos filhos e quem já pegou dengue sabe o quanto é dolorido e difícil a recuperação”.