No dia 12 de maio, celebra-se o Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia, uma doença crônica que impacta aproximadamente 3% dos brasileiros, predominantemente mulheres. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), entre 70% a 90% dos diagnosticados são do sexo feminino, embora homens, idosos, adolescentes e crianças também possam ser afetados. A data foi oficializada pela Lei 14.233/21.
O reumatologista Thiago Henrique Guimarães, membro titular da SBR, destaca que até esse momento, não há nenhuma pesquisa que vislumbre uma possível cura para a doença. “A perspectiva que existe é a busca pelo controle. Uma doença não ter cura não significa que ela não tenha tratamento. É possível dar ao paciente a condição de ter sua dor aliviada e os sintomas bem controlados”, afirma.
Contudo, o médico adverte que o controle da fibromialgia está diretamente ligado ao acesso ao tratamento, e uma das barreiras é a indisponibilidade, pelo SUS, do medicamento de primeira linha indicado para o caso. “Esse medicamento é um modulador da dor e não tem outro com o mesmo efeito. Tem paciente que não responde ao segundo medicamento, que é o que está disponível. Essa é uma limitação”, diz. O reumatologista acrescenta que o tratamento medicamentoso isolado não é suficiente para tratar a dor e os pacientes precisam ter acesso à reabilitação, às terapias multidisciplinares, envolvendo hidroginástica, academia, pilates, exercícios aeróbicos inclusive ao ar livre, acupuntura, fisioterapia, terapias cognitivo-comportamentais e acompanhamento psicológico. “Tudo isso, no conceito de reabilitação em dor, deveria ser oferecido ao paciente para que ele tenha uma melhora no quadro e uma vida próxima do normal”, explica. Nesse contexto, o médico avalia que grupos de apoio são importantes para sensibilizar as autoridades a buscar formas de melhorar esse acesso do paciente aos tratamentos.
DIAGNÓSTICO E SINTOMAS
O principal sintoma, segundo Thiago, é a dor difusa e persistente, que não alivia com qualquer medicação, associada à fadiga intensa, sono não reparador, quando o paciente dorme mal e tem sensação de acordar cansado, como se não tivesse dormido, rigidez nas articulações, alterações cognitivas chamadas fibrofog, dificuldade de atenção e concentração nas atividades do dia-a-dia, esquecimentos frequentes, transtornos do humor, transtornos ansiosos e irritabilidade. “A dor crônica, quando vem associada a um ou mais dessas manifestações, é um sinal de alerta e o paciente deve procurar ajuda. E mesmo que apresente só a dor, deve buscar o médico”, recomenda.
Para o diagnóstico da fibromialgia, não existem ainda exames laboratoriais. O reumatologista acentua que a medicina trabalha com critérios universais estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia, que consideram as manifestações clássicas da doença. Quanto às causas, ainda não foram fechadas, mas há estudos bem fundamentados que buscam os fatores causais. “O principal mecanismo que leva à manifestação da dor é o que chamamos de sensibilização central. Uma vez desregulada, têm início os disparos dolorosos”, disse. Fatores de risco genéticos, ambientais e emocionais, como sobrecarga, stress, perdas e traumas físicos, são desencadeadores da doença, conforme Thiago.
DOR E PRECONCEITO
A nutricionista Helen Christian tem o esposo e dois filhos autistas. Ela conta que teve que abandonar o trabalho há cinco anos, pois não dava conta de tudo. Nessa jornada, a dor maior vem da fibromialgia, que a impede de fazer tudo que a mente organiza. Dor que dificulta até um trabalho simples em casa. Nesse momento de conscientização, Helen, vice-presidente do grupo FibroMoc, reformula junto às autoridades municipais o pedido para o tratamento multidisciplinar ser disponibilizado de maneira ágil e eficaz. “Ainda acham que a fibromialgia é invenção. A fila do SUS está impossível. Há pessoas que aguardam há dois anos por um especialista. O remédio não é ofertado e, quando a gente precisa fazer economia, é no remédio que a gente corta e deixa de comprar. Eles precisam entender que a dor é real e a gente precisa de ajuda”, conclui.