(Márcia Vieira)
A movimentação ao longo de todo o dia e noite da última quinta-feira (15) na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Chiquinho Guimarães, em Montes Claros, evidenciou os problemas enfrentados pela população ao buscar atendimento na rede pública de saúde do município.
Um dos casos envolveu uma idosa de 89 anos, acompanhada pela filha e pelo neto, que chegou à UPA. Não havia assentos disponíveis, e outra pessoa cedeu seu lugar à paciente, que, no entanto, não foi atendida imediatamente.
Ao serem questionados sobre a prioridade para idosos, os funcionários afirmaram que seguiam o Protocolo de Manchester e não poderiam colocar idosos na frente das crianças. Porém, o sistema que utiliza cores para indicar gravidade e prazo de atendimento, não é respeitado. A pulseira amarela aponta que o caso é de urgência e o atendimento deve ser feito em no máximo 60 minutos, mas no caso da dona F.L. já ultrapassava as duas horas a partir do momento em que a pulseira foi colocada. Para chegar a sala de triagem foi carregada pelos familiares. Não havia cadeira de rodas disponível. As únicas quatro cadeiras estavam ocupadas por pacientes que também aguardavam a sua vez e não apresentavam condições de locomoção.
“Minha avó, com 89 anos de idade, sofreu um corte intenso no braço direito, resultando em um longo inchaço roxo. Ela está com uma pulseira amarela e já aguarda há mais de 2h sem atendimento. Não é apenas ela, há pacientes aguardando por mais de 5h ou 6h”, disse S. L. , neto da idosa que só conseguiu ser atendida por volta das 22h.
FALTA DE HUMANIDADE
A dona de casa M.S.F., residente no Bairro Santa Rita, iniciou a busca por atendimento para a filha de 38 anos às 6h da manhã. Com suspeita de dengue, dirigiu-se ao posto de saúde, sendo encaminhada posteriormente a um hospital e, deste, para a UPA, onde chegou por volta das 10h da manhã com encaminhamento de urgência, após sofrer um desmaio. Somente entre 16h30 e 17h é que a filha foi colocada em uma sala para receber soro e permanecer em observação — “Não tem água para beber, não tem ventilação e o calor está insuportável, não tem cadeira para todos e eles pedem a gente para levantar e dar lugar a outros. Estamos sem comer desde cedo e nessa espera absurda. Não tem lado humano aqui. O interesse deles é o que prevalece”, reclama a dona de casa.
A equipe de limpeza trabalhava incansavelmente para remover manchas de sangue e vômito do chão da UPA, uma vez que muitas pessoas passaram mal no local. Mesmo assim, alguns pacientes arriscaram deitar no chão durante a espera. Uma mulher desmaiou no banheiro e foi encontrada no chão minutos depois por outra pessoa que tentou utilizar o sanitário. Somente então ela foi colocada em uma maca e encaminhada para receber atendimento.
A reportagem enumerou as reclamações dos usuários e formalizou à prefeitura um pedido de resposta às situações, mas até o fechamento da edição não houve retorno.