Saúde

Campanhas mostram a discrepância entre ações contra álcool e cigarro

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 02/02/2024 às 20:42.
Especialistas enfatizam a importância de atribuir igual destaque às campanhas relacionadas ao álcool e ao cigarro, pois ambos representam sérios riscos à saúde (Freepik)

Especialistas enfatizam a importância de atribuir igual destaque às campanhas relacionadas ao álcool e ao cigarro, pois ambos representam sérios riscos à saúde (Freepik)

À medida que o Carnaval se aproxima, é essencial recordar que tanto o tabagismo quanto o consumo excessivo de álcool constituem ameaças à saúde, podendo acarretar problemas graves. 

No Brasil, a ausência de campanhas abrangentes contra o consumo de álcool contrasta com as iniciativas antitabaco. Recentemente, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) lançou a cartilha “Controle de Produtos Derivados do Tabaco” para orientar os comerciantes sobre as responsabilidades legais na venda desses produtos, abordando regulamentações como a proibição de venda a menores de 18 anos e o uso de dispositivos eletrônicos para fumar. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, estima-se que 13,19% da população mineira, equivalente a 2.709.898 pessoas, são fumantes.

Enquanto a publicidade de produtos fumígenos foi totalmente proibida, limitando-se à exposição nos pontos de venda, as restrições publicitárias para o álcool no Brasil são praticamente inexistentes. 

“As políticas de prevenção têm que ser muito mais extensas, porque dizer: ‘se beber não dirija’, eu já estou admitindo que a pessoa pode beber, ela só não pode beber e dirigir na sequência. Então, o ponto chave é, se existisse mais seriedade dos órgãos públicos responsáveis, essas campanhas vinculando futebol a álcool, ao churrasquinho do final de semana, ao carnaval, a tudo deveria ser mais regulamentado como aconteceu com o cigarro”, analisa o psiquiatra, Túlio Antônio Moreira, em relação as campanhas governamentais sobre consumo de álcool.

Para a faxineira Rosilene Alves, de 31 anos, a vida não foi fácil devido à presença de vários alcoólatras em sua família — “Minha mãe bebeu a vida toda. Sofri. Meu sobrinho, minha irmã teve que expulsar de casa e perambulou pelas ruas da cidade como louco. Sem tirar outros da família, que se envolveram com álcool e ainda hoje sofrem as consequências como separação, brigas, confusões na família. Eu graças a Deus, Ele me poupou, era pra ter sido doente como minha mãe, porque ela bebia mesmo estando gravida de mim”, relata. 

Em contato, SES-MG informou que, por meio da Diretoria de Promoção da Saúde, tem apoiado os municípios e fomentado ações de prevenção ao uso abusivo do álcool, por meio da Política Estadual de Promoção da Saúde (Poeps) e do Programa Saúde na Escola (PSE).

Destaca também a redução do consumo de álcool como prioridade na Poeps, incentivando ações municipais com política de incentivos financeiros. Em 2023, os municípios mineiros realizaram 13.477 ações de prevenção contra substâncias tóxicas. Quanto ao PSE, foram 4.085 ações em 553 municípios em 2023, abrangendo álcool, tabaco, crack e outras drogas. No entanto, não abordaram proibições ou exposições contra o álcool, especialmente entre os jovens, e suas consequências associadas ao câncer e outras fatalidades.
 
OUTROS RISCOS
Dentista especializada em pacientes oncológicos, Cristina Paixão, concorda com a mobilização da SES contra o tabaco devido à sua associação com câncer de cabeça e pescoço — “Acaba com a qualidade de vida das pessoas, traz a doença para ela e para a vida dos familiares dela, a pessoa não trabalha, a família fica desprovida de recursos por causa da doença, acarreta um valor financeiro muito alto para o setor público por causa do tratamento, tem muitas mortes”, explica; ressaltando que a combinação de álcool com tabaco amplia sete vezes o potencial de transformar uma lesão em câncer.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) lançou uma campanha virtual destacando os riscos do consumo de álcool e drogas durante o Carnaval. A iniciativa fornece orientações cruciais sobre problemas relacionados ao álcool e alerta para comportamentos indesejados agravados pelo uso de substâncias lícitas e ilícitas. 

Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) revelam que o álcool contribui para 36,7% das mortes por acidentes de trânsito no Brasil, totalizando 1,3 milhão de mortes anuais segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Para Moreira, a ausência de proibição efetiva à propagação do álcool no Brasil se deve à sua forte ligação cultural com festas e emoções positivas. Ele destaca a falta de compreensão dos órgãos públicos quanto às consequências sociais e de saúde, especialmente para aqueles que metabolizam o álcool mais lentamente, podendo desenvolver transtornos mentais — “Por exemplo, como ansiedade ou depressão, além dos danos indiretos, como acidentes de trânsito evitáveis”, completa. 

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