
A estratégia de soltar mosquitos geneticamente modificados com a bactéria Wolbachia pode reduzir os casos de dengue em até 70%. A queda na incidência da doença foi atestada em um estudo publicado na revista científica The Lancet por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Pelo método, os ovos são “contaminados” com a bactéria, encontrada em 70% dos insetos, como moscas e pernilongos.
A Wolbachia atua como uma espécie de vacina para o Aedes aegypti, impedindo que o vírus se multiplique no organismo do mosquito, que deixa de transmitir.
O projeto já está em andamento em Belo Horizonte, que já registrou mais de mil casos de dengue neste ano. Agentes de saúde da capital soltam os mosquitos “turbinados” em diferentes regiões.
Além da dengue, a tática também reduz a incidência da chikungunya em 60%, segundo os pesquisadores de Cambridge. “Nossos resultados oferecem mais evidências de que wMel (mosquitos com Wolbachia) podem reduzir consideravelmente o peso para o sistema público de saúde de diferentes arboviroses (doenças) em uma mesma comunidade”, diz o artigo.
O trabalho mostra resultados obtidos no Rio de Janeiro. A pesquisa foi feita em parceria com o World Mosquito Program (WMP/Brasil), iniciativa que, no Brasil, é conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Entre 29 de agosto de 2017 e 27 de dezembro de 2019, 67 milhões de mosquitos foram liberados em cinco áreas da zona norte do Rio.
MOSQUITOS LIBERADOS
Segundo a Fiocruz, as atividades do programa foram expandidas em agosto de 2017 por causa da epidemia de zika. As liberações ocorreram em uma área de 86,8 km2 com cerca de 890 mil habitantes, e foram feitas em cinco zonas.
Até dezembro de 2019, 29 meses após o início das liberações, a Wolbachia apresentou prevalência entre 27% e 60% na população de mosquitos analisada. Um efeito protetor para a população foi observado mesmo em áreas em que a prevalência da bactéria foi mais baixa (10%).
Já para locais em que a prevalência de wMel foi superior a 60%, a proteção chegou a 76%, o que é comparável aos resultados publicados anteriormente (utilizando métodos diferentes) do município vizinho de Niterói e da Indonésia.
A fundação acrescenta que, em 2021, dados que mostraram a eficácia da proteção garantida pela Wolbachia foram divulgados pelo WMP/Brasil, apontando uma redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção.
*Com informações da Agência Brasil