Sem solução imediata

Audiência pública debate abertura de leitos pediátricos em MOC

Márcia Vieira
marciavieirayellow@yahoo.com.br
Publicado em 13/05/2024 às 19:00.
Reunião na Câmara Municipal de Montes Claros contou com a participação de pais e mães aflitos com a situação pediátrica na cidade (MÁRCIA VIEIRA)

Reunião na Câmara Municipal de Montes Claros contou com a participação de pais e mães aflitos com a situação pediátrica na cidade (MÁRCIA VIEIRA)

Nessa segunda-feira (13), a crise na saúde pediátrica em Montes Claros que assusta a população ganhou um novo capítulo com a realização de audiência pública na Câmara Municipal. Pais e mães lotaram o local em busca de uma solução. Mayra Alves da Silva, moradora do bairro Clarice Athayde e mãe de Maria Vitória, de sete anos, relatou o drama vivido em consequência dessa situação. Em dezembro de 2023, a filha teve uma convulsão, engasgou e o quadro resultou em pneumonia. Ela demorou a conseguir uma ambulância, que só veio com a intervenção da polícia, e conseguiu levá-la à Santa Casa. 

“Ela foi intubada e eles mandaram para o Mário Ribeiro, porque não havia leito para a minha filha. Lá ela foi atendida. Tenho medo que ela tenha novamente alguma necessidade e não encontre leito, vendo essa situação que está acontecendo na cidade”, disse. 

Como explicação para a situação, a Secretaria Municipal de Saúde apresentou gráfico informando que houve investimento nos hospitais e que para a ampliação de leitos é necessária a autorização do Ministério da Saúde. A secretária municipal de saúde, Dulce Pimenta, afirmou haver pediatras atendendo ininterruptamente na UPA Chiquinho Guimarães, entretanto uma inspeção do Conselho Tutelar detectou que nas segundas e sábados, de 19h às 7h da manhã, não há este profissional à disposição. “Quem atende é um clínico geral, incoerente com o que foi falado aqui. E se existe atendimento nas UBSs, que a secretaria nos informe oficialmente quais bairros, para informarmos a população”, disse o conselheiro Luciano Santos. 

Para Letícia Novato, representante das mães na reunião, é preciso tratar a situação a partir dos seres humanos envolvidos e não com gráficos e números. Ela reiterou a necessidade de atendimento permanente e lamentou que o poder público se movimente apenas quando há a constatação de uma morte. “Eu, como muitas mães, estou cansada, desiludida. Mas meu filho é um sobrevivente nessa crise. E as mães cujos filhos não sobreviveram estão destruídas. Precisamos de uma movimentação real”, afirmou. 
 
MÃO DE OBRA
Outra alegação do poder público é a falta de mão de obra. A justificativa é contestada pelo pediatra Itagiba de Castro Filho, representante do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG), que acredita ser necessário informar à sociedade que não há falta de mão de obra.

“Temos pediatras em número suficiente, mas acontece que na rede pública ele é mal valorizado, ele é mal remunerado, tem sobrecarga de trabalho, é obrigado a dar plantões subsequentes. Então, o que a gente vê hoje é a desvalorização do pediatra na rede pública e também nos planos de saúde, mas especialmente na rede pública”, disse. 
 
EMERGÊNCIA 
No último dia 6 de maio, o Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro da Silveira (HCMR) apresentou uma solução e abriu novos leitos de pediatria que foram imediatamente ocupados. Cindy Machado, coordenadora do setor no HCMR, pontua que o problema é recorrente e a cada ano as enfermidades exigem concentrar esforços para evitar o colapso. Segundo Cindy, desde a sua implantação, há dois anos, a UTI recebeu 700 crianças. “Se em dois anos recebemos 700 crianças, um ano sem UTI, imagina quantas crianças ficaram desassistidas. Esses leitos não podem ser em caráter provisório. Funcionamos com ocupação acima de 100% todo ano. Quando chega o outono, é previsto que esse aumento ultrapasse os 200% de ocupação. Precisamos manter esses leitos funcionantes, tanto no HC quanto nos demais hospitais”, sugere.

Nesta segunda-feira, a Santa Casa e o Hospital Universitário se comprometeram a entregar, respectivamente, dez e sete leitos pediátricos à população. Somados aos 40 leitos do Mário Ribeiro, são 57 leitos. Daniel Dias, propositor da audiência, destacou que encaminhamentos serão feitos pós-audiência e a fiscalização constante tende a ser uma das soluções para evitar que a situação se repita.
 
ENTENDA O CASO
A situação do atendimento pediátrico em Montes Claros atingiu seu ápice de emergência com a morte de uma criança, transferida em estado grave do Hospital Municipal Alpheu de Quadros para outra unidade. Em resposta, a administração municipal agiu emitindo um decreto que suspendia o atendimento a pacientes de outras localidades, atribuindo a sobrecarga do sistema ao elevado número de casos de síndrome respiratória aguda em crianças. Na ocasião, a prefeitura disse que havia contratado um número significativo de leitos no hospital Santa Casa, mas o contrato não foi cumprido.

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