‘Malhação’ contra o câncer de mama

Estudo revela que uma a cada 10 mortes pelo tumor poderia ser evitada com a prática regular de exercícios

Alice Veloso*
O Norte - Montes Claros
31/10/2018 às 06:20.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:31
 (ARQUIVO PESSOAL)

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O Outubro Rosa, movimento mundial de prevenção do câncer de mama, termina hoje, mas a prática de hábitos saudáveis e a mamografia devem fazer parte da agenda durante todo o ano. Praticar exercícios físicos regulares é uma das medidas de prevenção, como prova o artigo científico publicado pela revista Nature, com a participação do Ministério da Saúde.

A pesquisa revela que uma cada dez mortes em decorrência do câncer de mama (cerca de 12% dos casos) poderia ter sido evitada no Brasil com a prática regular de atividade física.

Intitulado “Mortalidade e anos de vida perdidos por câncer de mama atribuíveis à inatividade física na população feminina brasileira (1990–2015)”, o artigo revela que 2.075 mortes poderiam não ter ocorrido em 2015 se as pacientes caminhassem 30 minutos ao dia cinco vezes por semana.

Um dos fatores que causam o câncer de mama, conforme o estudo, é o excesso de es-trogênio. A prática da atividade física contribui para a redução do estradiol e o aumento da globulina de ligação a hormônios sexuais. Dessa forma, ocorre a diminuição de circulantes inflamatórios e aumentam as substâncias anti-inflamatórias no organismo.

A pesquisa também chama atenção para o impacto de outros fatores de risco para a doença, como o consumo de álcool, alto índice de massa corporal e dieta rica em açúcar _ 6,5% dos óbitos são atribuídos a esses hábitos.

A oncologista Priscila Miranda, de Montes Claros, confirma a importância da prática de exercícios tanto para a prevenção quanto no processo de tratamento. No entanto, ela lembra que a doença é causada por vários fatores.

“O sedentarismo somado à obesidade aumenta o processo inflamatório, e com isso a pessoa tem um risco maior. Porém, não é somente o sedentarismo que causa o câncer”, afirma.

A oncologista lembra que existem fatores de risco que não são modificáveis, como o sexo, a idade ou uma alteração genética, entretanto o exercício físico auxilia no tratamento, tanto em relação a questões físicas quanto psicológicas.

“O não sedentarismo muda na adesão ao tratamento, aumenta o metabolismo e até na maneira como a mulher lida com esse momento, ela pode ganhar autoestima, se amar mais, então isso ajuda no processo para recuperar a saúde”, destaca.

A estudante de psicologia Vilma Cássia Pereira dos Reis, de 46 anos, diagnosticada com o câncer de mama em 2009 e hoje recuperada, após tratamento, confirma os benefícios dos exercícios. “Fazia caminhadas leves e esse exercício me ajudou muito no controle emocional e na decisão de tomar posse da cura. Aliei os exercícios à alimentação saudável, que também é importante”.

Fundadora do Projeto Vida, voltado para a prática de exercícios das pacientes com câncer, a educadora física Claudiana Donato Bauman vai além ao exaltar a importância de se exercitar. “Acredito que 30% dos casos da doença poderiam ser evitados com um estilo de vida ativo. O sedentarismo está diretamente ligado ao desenvolvimento do câncer de mama. Além disso, a prática de exercícios pode diminuir os efeitos colaterais da quimioterapia”, observa.

A aposentada Maria Eustáquia Alves da Silva, de 58 anos, adotou a prática de exercícios na rotina diária depois de ser diagnostica com câncer de mama em 2002. Hoje curada, faz caminhada, zumba e atividades aeróbicas.

“Eu acredito que não mudaria meu tratamento, mas tenho certeza que após esse momento, é essencial para diminuir a possibilidade de ter novamente”, relata a aposentada, que completa ainda que o exercício físico é essencial para manter o nível de colesterol, e para ajudar na elasticidade física dos membros.

“Muitas vezes, nós perdemos um pouco a movimentação dos braços devido à cirurgia. O exercício ajuda a melhorar a mobilidade”, conclui Maria Eustáquia.

Vilma ressalta ainda a importância da alimentação saudável e do exame de mamografia para o diagnóstico precoce, que aumenta as chances de cura. Em Montes Claros, segundo dados do Hospital Dilson Godinho, referência em tratamento de câncer no Norte de Minas, cerca de 40 mulheres passam pelo tratamento de quimioterapia na unidade. Destas, 80% são pacientes com câncer de mama.
* Sob supervisão da editora Janaína Fonseca

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