
Um estudo chinês publicado pela revista Nature Medicine indicou que os níveis de anticorpos encontrados em pacientes recuperados da Covid-19 diminuem de dois a três meses após a infecção. A pesquisa, que levanta dúvida sobre a duração da “imunidade” - ainda há discussões científicas sobre essa blindagem - em relação ao novo coronavírus, foi feita com 37 pacientes sintomáticos e 37 assintomáticos.
O estudo ainda é preliminar, mas já levanta uma importante questão sobre o sonhado “passaporte da imunidade”, ou seja, um documento que indicaria se a pessoa já possui anticorpos suficientes no organismo para combater o vírus e, assim, poder voltar normalmente ao trabalho.
Os chineses observaram que, em mais de 70% dos pacientes avaliados, houve declínio acentuado nos anticorpos após 90 dias.
O trabalho verificou que a maioria dos pacientes produziu anticorpos para o novo coronavírus, especificamente IgG e IgM, sendo que estes últimos têm uma menor duração. Já o igG, detectado de maneira mais tardia nos exames, é mais duradouro. Verificou-se a produção de anticorpos nos dois grupos estudados, mas a presença de anticorpos foi mais ampla entre os sintomáticos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia feito um alerta de que não é possível, ainda, afirmar que as pessoas que tiveram contato com o vírus estariam imunes e não teriam uma reinfecção.
De acordo com o médico Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o estudo é preliminar e não é possível saber ainda se isso interfere em uma possível “imunidade de rebanho” - quando boa parte da população já teve contato com um vírus e está imunizada, o impedindo de circular.
Mas, diz o especialista, o dado deixa claro que todas as pessoas que já ficaram doentes devem manter os cuidados - distanciamento social, higieni-zação das mãos e uso das máscaras se precisar ir à rua- para não correrem o risco de uma reinfecção.
CONTRAPONTO
O infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás destaca haver uma estimativa de que a pessoa que teve contato com o vírus tenha imunidade por pelo menos um ano.
Segundo ele, pessoas acometidas por outras síndromes respiratórias, como a SARS, de 2003, e MERS, em 2012, mantiveram os anticorpos por muito tempo. Isso porque a resposta imune celular parece ser muito importante contra os coronavírus humanos, e não só a resposta mediada por anticorpos. “O título de anticorpo pode cair, como mostra essa pesquisa feita com casos pouco sintomáticos ou assintomáticos, mas assim que o organismo entrar em contato com qualquer epítopo (espículas) do vírus, haverá ativação das células de memória, e o titulo de anticorpo subirá rapidamente”, explicou.