Fertilidade prejudicada

Pesquisa evidencia que obesidade também afeta saúde reprodutiva feminina

Flávia Ivo
Hoje em Dia - Belo Horizonte
24/10/2018 às 08:19.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:23

Engana-se quem pensa que somente diabetes, hipertensão e doenças coronarianas estão associadas à obesidade. A fertilidade também pode ser severamente afetada pelo excesso de peso. É o que mostrou uma pesquisa publicada recentemente pelo Journal of The North American Menopause Society. O estudo evidenciou que, à medida em que o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta, são observados distúrbios férteis, menstruais e ovulatórios.

“As pessoas só vinculam a obesidade às doenças cardiovasculares e ao diabetes, mas há ligação com os cânceres de endométrio, mama, fígado, ovários e outros, além de provocar a anovulação (quando os ovários não liberam um óvulo durante um ciclo menstrual) crônica, por exemplo”, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas (SBEM-MG), Beatriz Soares.

Assinado por cientistas iranianos, o levantamento reuniu trabalhos que analisaram mais de 4 mil mulheres de IMC acima de 25 e 30 Kg/m² e mostrou que os hormônios do sistema de reprodução são significativamente menores nessa população.

Esses, chamados de marcadores da fertilidade, são dois: FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e LH (Hormônio Luteinizante).

“São registrados em todas as mulheres desde a primeira menstruação, normalmente aos 13, 14 anos, até os 50, com a chegada da menopausa. A partir dos 40, já há uma diminuição deles. São substâncias produzidas na hipófi-se e responsáveis pela ativação dos ovários. Nas mulheres obesas, com IMC acima de 30 Kg/m², esse mecanismo fica falho”, detalha o ginecologista Márcio Coslovsky, membro das sociedades Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE).
 
GESTAÇÃO
Essa desordem hormonal, que provoca queda na reserva ovariana, explicaria, de alguma forma, uma dificuldade para engravidar, relata o ginecologista Gustavo Safe.

“Ovários de pacientes obesas produzem mais hormônios masculinos causando anovulação hiperandrogênica (distúrbio endócrino gerado pelo excesso de andrógenos, como a testosterona). Além disso, a qualidade do óvulo também é prejudicada”, descreve o médico.

Uma mulher que está bem acima do peso considerado saudável poderá ter uma gestação com complicações, sendo classificada como de risco.

“A obesidade é uma doença que gera impacto em diversos contextos. É possível que pacientes nessa condição engravidem sem problemas. Mas, podem vir a ter enfermidades associadas como as cardíacas e o diabetes”, coloca Safe.

Para as com idade fértil e obesas que estão na tentativa de ter filhos, a indicação é a mudança do estilo de vida para provocar a perda de peso e do percentual de gordura –o mais relevante.

“Para aquelas que tentam, sem sucesso, há mais de um ano, devem procurar um médico para a estimulação dos ovários ou mesmo a reprodução assistida”, diz o ginecologista Márcio Coslovsky.


Reduzir gordura ajuda a normalizar ovulação
No último 11 de outubro foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Obesidade. A data chama a atenção para o crescimento dos casos da doença no Brasil e para o fato de que o país é o mais sedentário da América Latina. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 18,9% da população brasileira está obesa, sendo um milhão de novos casos a cada ano.

A constatação leva à reflexão de que estar saudável é ter equilíbrio, destaca o ginecologista Gustavo Safe. “Qualquer desequilíbrio atrapalha a saúde, inclusive a reprodutiva. A dificuldade de ovulação está presente em mulheres com alta porcentagem de gordura. Mesmo sem perder peso, é importante mudar hábitos para reduzir a gordura e ter benefícios como ovular normal e naturalmente. Este é o primeiro passo”, diz o especialista.

Mesmo com o ciclo estável, a mulher obesa pode não estar ovulando, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas, Beatriz Soares. “A gente parte do pressuposto que sim, há ovulação. Mas, é uma cascata de eventos. Com a obesidade, aumenta a quantidade de insulina e a secreção de testosterona (hormônio masculino), o que atrapalha todo o processo”, relata.

A médica coloca que o profissional mais indicado para atuar no cerne da obesidade junto à paciente é o endocrinologista. “Há casos em que a redução de 10% a 15% do peso já pode resultar no retorno da questão ovulatória. É importante ressaltar que dietas da moda não têm fatores que a medicina preconiza. Assim, a avaliação endocrinológica é a indicada”, acredita.

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