Estresse infantil: mudanças impostas pela pandemia podem desencadear transtornos nas crianças

Luisana Gontijo
Hoje em Dia - Belo Horizonte
10/11/2020 às 00:44.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:00
 (MAURICIO VIEIRA)

(MAURICIO VIEIRA)

Isolamento social, falta de convivência com colegas e horas na frente da TV, celular, tablete ou computador. Crianças e adolescentes têm sido afetados em cheio pela pandemia de Covid-19. As mudanças exigidas para se protegerem, no entanto, podem desencadear estresse, ansiedade e até depressão.

Pais devem ficar atentos aos sinais para buscar ajuda na hora certa. Porém, nada de desespero. Com o devido acompanhamento e pequenas mudanças na nova rotina é possível prevenir a situação.

Não há dados sobre o salto nos atendimentos aos jovens nos últimos meses, mas o aumento dos casos é relatado por quem trabalha na área. No consultório da pediatra Marcela Borges Vianello ou no pronto-atendimento do Hospital São Camilo, em BH, cresceu muito a busca por socorro de quem está com dores de cabeça, dificuldade para dormir e depressão. 

“O que as crianças mais têm sentido falta é da socialização. A gente não faz a mínima ideia de como essa geração vai ser afetada. O que isso tudo vai abalar na cabecinha deles”, pondera a pediatra Patrícia Brandão, que atende em consultório e no Hospital Universitário da UFJF, em Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Um agravante, reforçam os especialistas, é o uso exagerado dos eletrônicos. O contato com a tela pode alterar a produção de melatonina, prejudicando o sono. 

“O celular é o pior porque é pequeno e fica muito próximo. Mas a alteração do sono independe do aparelho”, afirma Patrícia Brandão, recomendando que, quando liberados pelos pais, os equipamentos sejam evitados pelo menos duas horas antes de dormir.
 
MUDANÇAS
A administradora Luciana Márcia de Souza Mota adaptou a rotina da filha de 9 anos, Mariana – paciente de Marcela Vianello –, quando a menina passou a mostrar sinais de insatisfação. “Ela não entendia porque a rotina havia ido por água a baixo, a gente não saía. Não encontrar os amigos incomodou”.

Luciana conseguiu inserir atividades como andar de bicicleta e de patins na garagem, e encontros cuidadosos com a melhor amiga e alguns familiares. 

A pediatra Marcela Vianello diz que tem encorajado pais a permitir encontros dos filhos com parentes que estejam se protegendo da Covid-19 e não pertençam a grupo de risco, e até com amigos.

Outro pediatra que atua no Hospital São Camilo, Cláudio Geraldo Ferreira Pinto defende, inclusive, que os netos voltem a dar “abraços gostosos” nos avós, respeitando o uso de máscara e a higienização das mãos.

SAIBA MAIS
No começo desta pandemia, recorda a pediatra Patrícia Brandão, não havia uma ideia de quanto tempo duraria. De repente, já se passaram oito meses, as crianças nascidas em março estão engatinhando e sentando. 

“Olha quanta coisa essa criança perdeu. As mães costumam relatar que, quando um bebê de um ano sai de casa, para atividades como a consulta médica mensal, ele tem medo de qualquer barulho e até de pessoas com máscara, porque em casa as pessoas não usam máscara”.
 
Ela reforça que, com a taxa de infectados pela Covid-19 ainda alta, é importante manter o cuidado com as crianças, para que não se contaminem, evitar aglomeração. 
 
O contato com a natureza é uma importante atividade para diminuir o estresse da meninada, ensina a pediatra. “De uma hora para outra, as crianças ficaram presas em casa, isoladas do mundo, não põem o pé no chão, não têm contato com a natureza, não pegam na terra, nas folhas”.

Patrícia Brandão reforça o coro em alerta aos pais para que tentem tirar as crianças da frente da TV, do tablete, do computador e do celular. Ela recomenda que, para as crianças maiores, é importante regular o tempo diante das telas. Já para as abaixo de 2 anos, se possível, a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza: nada de tela
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