De março a novembro, Covid-19 já vitimou mais mineiros do que os homicídios

Renata Galdino
Hoje em Dia - Belo Horizonte
23/12/2020 às 07:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:23
 (Arte HD)

(Arte HD)

Em menos de nove meses, a Covid-19 já matou quatro vezes mais que os homicídios registrados de janeiro a novembro deste ano em Minas Gerais. No período, enquanto 2.323 pessoas foram assassinadas, outras 10.041 morreram em decorrência da doença causada pelo novo coronavírus, até o último dia 30. Desde então, às estatísticas somaram-se mais 968 óbitos de pacientes que foram infectados. 

Especialistas alertam que os números confirmam o quanto a enfermidade surgida no fim de 2019, na China, é letal. Também reforçam a necessidade da manutenção das medidas preventivas, em especial nos próximos dias, quando muitas famílias devem se reunir para celebrar o Natal e o Réveillon.

Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano explica que, em um grupo de cem pessoas, de 15 a 20 delas, em média, vão desenvolver a forma mais grave da Covid. De cinco a dez devem demandar internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

“E isso acontece, principalmente, entre idosos, obesos, hipertensos, diabéticos, pessoas que tenham doenças autoimunes, porque a defesa orgânica desses indivíduos está um pouco abaixo da ideal para combater o vírus”, frisa o especialista. 
 
INFLAMAÇÃO SISTÊMICA
Ainda conforme o médico, que atua no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, o vírus ataca vários órgãos. “Inflama, por exemplo, os pulmões, o intestino, o fígado, os rins e o próprio cérebro. Essa inflamação sistêmica, principalmente do pulmão, dificulta o funcionamento dos órgãos e as pessoas morrem por disfunção orgânica, ou seja, o paciente não conseguiu trocar o oxigênio por gás carbônico”.

Esse quadro se dá pela entrada direta do vírus nesses órgãos. Depois, o próprio organismo tentando eliminar o “invasor”, pode causar uma resposta inflamatória alta que, ao invés de ajudar, causa mais danos aos órgãos. 

“Se essa resposta for exagerada, o tiro sai pela culatra, atrapalha, não deixando os órgãos funcionarem bem”, complementa Estevão Urbano.

Um dos grandes desafios para se evitar mortes em decorrência do novo coronavírus, principalmente de quem já está hospitalizado, é a falta de um medicamento que tenha se mostrado efetivo de fato. “Nada que ainda se pode ter comprovado pela literatura”, destaca o infectologista. 
 
CRIMINALIDADE
Os homicídios registrados de janeiro a novembro deste ano tiveram queda de 5,8% se comparado ao mesmo período de 2019, conforme os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Apesar da quarentena ter impactado na redução de outros crimes violentos, como furtos, no caso dos assassinatos a diminuição decorre do trabalho integrado entre as forças policiais.

“A luta por espaços de controle pelo crime organizado, na prática do narcotráfico, não respeitou o isolamento social. Então, nessa prática, não houve qualquer alteração, mesmo assim o homicídio caiu”, disse o titular da pasta, general Mario Lucio Alves de Araujo.

Festas de fim de ano preocupam médicos
Em meio à pandemia do novo coronavírus, sem ainda uma vacina para conter as infecções, a ordem é preservar vidas. Porém, com a proximidade das festas de fim de ano, a preocupação dos especialistas é com o aumento das infecções.

“O isolamento está mais prolongado do que as pessoas gostariam, está todo mundo cansado, mas o vírus não se cansou da gente. Temos que ter paciência para atravessar os próximos meses, pois será complicado em termos de transmissão. Esse fim de ano requer cuidados. Não podemos fazer festas grandes, não podemos nos aglomerar, temos que evitar locais fechados”, alerta a infectologista Cláudia Murta, da Santa Casa BH.

A psiquiatra Jaqueline Bifano reconhece que o Natal é uma data significativa e muitas pessoas querem, sim, confraternizar com pessoas que são especiais. Ela relembra, no entanto, que 2020 é um ano atípico. “Fomos privados de muitas coisas, do contato social, e vamos ter um Natal diferente”, diz.

Porém, a especialista ressalta que o isolamento social preconizado pelas autoridades sanitárias também é uma forma de amor e proteção. 

“Não quer dizer que se não passar o Natal presencial, junto àquela pessoa, estará longe dessa pessoa. A gente pode estar longe fisicamente, mas pode fazer uma chamada de vídeo, uma festividade nas comunidades da internet. Este ano, o contato terá que ser virtual como uma medida protetiva e uma forma de amor”, orienta a psiquiatra.

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