Centenas de profissionais da saúde já contraíram Covid-19 no Norte de Minas

Christine Antonini
O NORTE
31/07/2020 às 02:05.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:10
 (divulgação)

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Centenas de profissionais da saúde já testaram positivo para o novo coronavírus no Norte de Minas. É difícil dizer exatamente quantos já foram contaminados em toda a região, que soma 89 cidades, mas só em Montes Claros e mais seis municípios que enviaram dados após demanda de O NORTE, são pelo menos 232 profissionais – a maioria auxiliares e técnicos de enfermagem que atuam em hospitais – afetados pela Covid-19 até esta quarta-feira (29).

Os profissionais da saúde estão entre os grupos mais vulneráveis às consequências emocionais e psicológicas da pandemia. Eles encaram rotinas exaustivas, com foco na dedicação aos cuidados com os pacientes infectados. 

Na região, dentre os municípios que enviaram os relatórios epidemiológicos, Montes Claros foi o que apresentou o maior número de infectados: são 127 confirmações. Em seguida vêm Montalvânia (40) e Manga (39). 

“Fui testado positivo no último dia 10 e recebi alta no último sábado. Já estou trabalhando normalmente. O medo sempre existe em qualquer lugar que vamos, porém, no setor hospitalar, aumenta mais. Eu não trabalho direto com os contaminados, mas vivo cercado deles”, afirma um servidor que trabalha em Mirabela e que pediu para que não fosse identificado. 

Em Montes Claros, com todos os hospitais habilitados para receber pacientes com coronavírus, sendo três deles referência para este tipo de atendimento, o número de enfermeiros, técnicos, médicos e auxiliares de limpeza é grande.
 
SOBRECARGA
Alguns trabalhadores alegam que a sobrecarga de trabalho e a exposição ao risco de contaminação poderiam ser minimizadas caso o Hospital de Campanha – previsto para ser instalado na UPA do Chiquinho Guimarães – estivesse ativo. O local possui toda estrutura para receber pacientes de Covid-19, mas está de portas fechadas e com equipamentos encaixotados ou cobertos por lonas.

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG aponta que a sobrecarga de serviço e a lotação das unidades de atendimento são os principais critérios para a crescente contaminação dos profissionais da área da saúde.

Montalvânia e Manga, por exemplo, são cidades pequenas, localizadas no extremo Norte de Minas, e possuem apenas um hospital cada. 

“Temos todos os equipamentos de prevenção ao coronavírus. Porém, é muita gente ao mesmo tempo. Ainda há aqueles que não sabemos que possuem o vírus. As pessoas nos tratam como heróis, mas não se colocam no nosso lugar. Eu não peguei o vírus, mas sei que a qualquer momento vou ser contaminado. No posto de saúde onde trabalho, cinco pessoas contraíram o coronavírus”, relata o enfermeiro de um posto de saúde de Montes Claros. Ele ainda pontua que o medo maior é o de transmitir para a irmã que mora com ele e está grávida de quatro meses. 

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SEE-MG), o boletim completo com o número de profissionais de saúde infectados pelo novo coronavírus em todas as cidades do Norte de Minas será divulgado no dia 8 de agosto. 

Teste só para um terço da linha de frente
Apenas um em cada três profissionais de saúde do país foi testado para Covid-19, de acordo com levantamento divulgado ontem pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Embora as categorias da área estejam expostas, diariamente, a um alto risco de contágio da doença, somente metade dos funcionários recebeu equipamentos de proteção individual (EPIs) para desenvolver suas atividades no mês passado.

Os EPIs faltaram, sobretudo, entre agentes comunitários de saúde e os agentes de endemia. Em junho, apenas 32% deles receberam esse tipo de item, por iniciativa dos respectivos empregadores. O índice está somente um pouco acima do registrado em abril, de 19,65%.

Os apontamentos foram elaborados com base em uma segunda devolutiva do estudo A Pandemia de Covid-19 e os Profissionais de Saúde Pública no Brasil. O levantamento ouviu 2.138 profissionais da saúde pública, de todos os níveis de atenção e regiões do país, entre os dias 15 de junho e 1º de julho.

A amostragem é composta por 40% de agentes comunitários e agentes de controle de endemia, 20,8% de profissionais de enfermagem, 14,7% de médicos e 23,8% de outros profissionais do segmento.

Pelas respostas enviadas através de formulário, constata-se que os trabalhadores que tiveram treinamento para aperfeiçoar o atendimento durante a crise sanitária são minoria, a exemplo do que ocorreu em relação à testagem. 

A proporção dos profissionais que tiveram acesso a uma capacitação específica sobre atendimento durante a pandemia subiu de 21,91% para 32,2%, entre abril e junho. No cômputo, foram considerados médicos e técnicos de enfermagem.
 
CUIDADO AMPLIADO NO MÁRIO RIBEIRO
No Norte de Minas, uma das unidades de saúde referência para o tratamento do novo coronavírus é o Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro da Silveira (HC), que diariamente tem reforçado o cuidado com os funcionários. Em toda área hospitalar foram disponibilizados frascos com álcool em gel e foi criada uma ala somente para tratamento de Covid-19.

“Fizemos a separação de alas de paciente positivo para Covid-19 dos demais para evitar a contaminação. Temos enfermaria somente para pacientes suspeitos e confirmados. Os profissionais que trabalham nessa ala não podem transitar nas demais. Dentro da área Covid, os colaboradores recebem alimentação, entrega de uniformes, e contam com vestiários para que eles possam tomar banho antes de voltar para casa, evitando a contaminação dos demais membros da família”, explica a responsável pelo setor de Controle de Infecção Hospitalar do HC, Suzane Oliveira.

No HC, só podem entrar na ala de tratamento do coronavírus funcionários que estiverem devidamente paramentados. O hospital também fez vários treinamentos para ensinar ao colaborador como utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) sem se contaminar. 

Projeto prevê indenização de R$ 50 mil
A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que concede uma indenização de até R$ 50 mil a profissionais da área da saúde que tenham ficado incapacitados após contraírem o coronavírus, por atuarem na linha de frente de combate à pandemia.

O texto (PL 1.826/2020) também prevê a indenização de R$ 50 mil aos dependentes dos profissionais que tenham morrido ou que venham a falecer pela doença, também por estarem na linha de frente.

O texto, já aprovado pelo Senado, ainda deve ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. 
 
CARTILHA
O governo de Minas divulgou uma cartilha com o protocolo de prevenção ao coronavírus que deve ser seguido por todos profissionais de saúde. Também devem seguir a orientação agentes de serviços gerais de limpeza e de manutenção, porteiros, seguranças e outros profissionais que atuam no ambiente hospitalar e de saúde. 

A cartilha possui uma série de recomendações, dentre elas: usar máscaras de proteção respiratória (respirador particulado) com eficácia mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3µ (tipo N95, PFF2ouequivalente) – é vedada o uso de máscara de tecido; higiene das mãos com água e sabão mesmo sem a presença de sujidade visível ou fricção com preparação alcoólica na ausência de sujidade; gorro, óculos de proteção ou protetor facial, capote descartável e luvas de procedimento cirúrgico. (C.A.)

C.A. com Agência Brasil

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