Bactéria é arma contra Aedes

Wolbachia, que impede que mosquito transmita doenças, será testada em BH

Mariana Durães
09/04/2019 às 07:23.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:09

No radar da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde 2012 e testada em áreas do Rio de Janeiro há cerca de dois anos, a wolbachia, bactéria capaz de infectar o Aedes aegypti e, com isso, reduzir a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya, deve começar a ser usada também em Belo Horizonte neste ano.

A nova “arma” é esperança contra surtos de doenças tropicais, como a dengue. Em Minas, só de janeiro a março, já são 81.456 mil casos prováveis, mais que o dobro da soma das ocorrências em 2017 e 2018. Isso significa que em apenas três meses do ano o número de ocorrências já supera toda a estatística dos dois anos anteriores.

Segundo o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue e professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, Mauro Teixeira, a wolbachia é uma das estratégias mais avançadas de controle vetorial.

O método consiste na inoculação da bactéria no ovo do mosquito. Na fase adulta os insetos são liberados. A substituição da população é gradual, a partir da transmissão da bactéria – que tem a capacidade de fazer com que o inseto não transmita doenças – pela fêmea a seus filhotes.

“Estamos em um momento de muito estudo, de avanços significativos. Mas desenvolver uma vacina demora cerca de 15 anos, não é de um dia para o outro. Esperamos poder testar a wolbachia em BH em breve”, explica o professor da UFMG. O especialista afirma não haver risco de infecção para os humanos.
 
ALTERNATIVA
Além das pesquisas com a wolbachia, a imunização desenvolvida pelo Instituto Butantan está na última fase de testes em humanos. “Há possibilidade real de que seja útil, diferentemente da vacina atual, que é pouco eficaz”, ressalta o especialista da UFMG.

A redatora Ágatha Silva, de 31 anos, considera que ainda há muitos dificultadores de acesso à vacina atualmente disponível, vez que, conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a proteção só pode ser utilizada para evitar um segundo quadro da doença. “Além disso, a dose não é disponibilizada no SUS (Sistema Único de Saúde) e é muito cara em clínicas particulares, não sendo acessível a todos. E ainda tem a faixa etária de restrição”, reclama.

Além do pai, do irmão e do cunhado, Ágatha teve dengue. Moradores da Vila Cristina, em Betim, na Grande BH, passaram dias com dores pelo corpo.

Sobre o tratamento contra a doença, há poucas novidades. A principal recomendação é procurar imediatamente o serviço de saúde. Para aliviar os sintomas – febre alta, dores de cabeça e manchas no corpo –, alguns medicamentos podem ajudar. Hidratação também é essencial.

A cada três anos, quadros ‘hiper epidêmicos’
Conforme Mauro Teixeira, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, uma característica observada na dengue é a de que, nos últimos 15 anos, Belo Horizonte e outras capitais e grandes cidades no Brasil têm tido períodos “hiper epidêmicos” a cada três ou quatro anos. Ele explica que não há relação com a quantidade de mosquitos disponíveis, mas com o que chama de “exaustão de susceptíveis”.

“Depois de um período com muitos casos, as pessoas ficam um tempo imunes, ou parcialmente protegidas, e é preciso que um outro vírus se instale para se iniciar outra epidemia”.

Além do surto de dengue, Minas Gerais já registrou neste ano 966 casos prováveis de chikungunya. Em relação à zika, são 319 pacientes possivelmente infectados, sendo 85 grávidas. Onze gestantes já receberam o resultado positivo, por meio de exame laboratorial.
 
CONSCIENTIZAÇÃO
Para a farmacêutica Nayara Medeiros, professora das Faculdades Kennedy e Promove, há também certa negligência das pessoas. A docente, que é mestre em biologia celular e doutora em ciência da saúde, defende maior conscientização da população. “Tanto nas próprias casas, quanto em empresas e lotes não utilizados, as pessoas têm que manter uma rotina de limpeza durante todo o ano, porque os ovos resistem”, recomenda.

Além de esvaziar recipientes, ela lembra ser preciso lavar os itens. A população também deve estar atenta a plantas que acumulam água.

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