Atenção em dobro aos dentes

Grávidas com periodontite têm risco duas vezes maior de parto prematuro

Renata Galdino
04/06/2019 às 09:02.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:57

Consultas ao ginecologista durante a gestação fazem parte da rotina de qualquer grávida. O que muitas das futuras mamães desconhecem é que a ida ao dentista também é essencial para evitar problemas na saúde do bebê. Doenças bucais e a falta de higiene da mulher podem aumentar o risco de a criança nascer antes do tempo ideal e com baixo peso.

Artigo publicado recentemente na revista científica Community Dentistry and Oral Epidemiology, da Nova Zelândia, aponta que a periodontite (infecção dos tecidos que envolvem e sustentam o dente) dobra a chance do parto prematuro.

“Não são todas pacientes que darão à luz antes das 37 semanas, mas existem duas vezes mais possibilidade de isso ocorrer entre as que têm o problema na boca”, explica o dentista Gabriel Politano, diretor do Departamento de Odontologia para Gestantes e Neonatos da Associação Brasileira de Odontopediatria (Aboped).

A periodontite é a evolução da gengivite (inflamação nas gengivas) mal tratada. Mais grave, a infecção não fica restrita à região bucal, mas é disseminada pela corrente sanguínea, contaminando todo o organismo.

No útero, de acordo com Gabriel Politano, a infecção que começou na gengiva estimula o sistema imunológico a produzir prostaglandina que, ao mesmo tempo que combate a bactéria, acelera o parto. Para se ter uma ideia, medicamentos com a versão sintética da substância provocam a expulsão de feto morto da barriga da mulher.

NO PERÍODO
Mesmo quem não manifesta periodontite antes da gravidez pode ser surpreendida com sangramentos na boca nos nove meses após a concepção. Isso acontece porque, na gestação, há alterações hormonais que favorecem a piora do quadro infeccioso, ressalta o cirurgião dentista Adalberto Rosa Pires Junior, mestre em periodontia.

Enquanto aguardava a chegada de Leonardo, hoje com três meses, a webdesigner Janna Palma Waisman, de 35 anos, percebeu sangue na gengiva durante as escovações. Sem perder tempo, procurou um profissional. 

Ela foi informada que a situação era decorrente da quantidade de hormônios liberada na gestação. Orientada sobre os procedimentos a serem adotados, continuou com a higiene bucal e o uso do fio dental. “Meu filho nasceu com nove meses, não foi afetado, até mesmo por causa da busca por atendimento”, diz Janna.

PREVENÇÃO
O recomendável é que a futura mamãe se antecipe a problemas. “O ideal é fazer a avaliação bucal antes de engravidar, pois o tratamento é bem restrito. Há certas anestesias, por exemplo, que não podem ser aplicadas na gestante”, explica Adalberto Junior, que também é professor da pós-graduação em Odontologia da Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte).

Geralmente, é feita a remoção da placa bacteriana, no procedimento chamado raspagem. Por conta do avanço tecnológico, cirurgias dentárias ocorrem cada vez menos. “É muito mais fácil prevenir. A ida regular ao dentista é o mais acertado para diagnosticar a infecção, que é silenciosa e sem dor. Essa condição é a que mais causa perda de dentes e, dependendo do caso, é irreversível”, frisa o especialista.
 
APÓS O NASCIMENTO
O acompanhamento bucal do prematuro deve ser realizado o quanto antes, diz Gabriel Politano, pois a criança pode apresentar má formação do dente de leite. “Ela deveria ter ficado mais tempo no útero”.

Com a falta de calcificação, o dente tende a ser mais sensível por estar desprotegido. Dependendo da situação, é feita uma restauração para proteger a estrutura. “Preferimos evitar. Por isso a necessidade da prevenção”, reforça.

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