À procura de médicos: editais para contratação emergencial não tiveram interessados em Minas

Luiz Augusto Barros
@luizaugbarros
23/03/2021 às 00:34.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:29
 (HC/DIVULGAÇÃO)

(HC/DIVULGAÇÃO)

Faltam leitos, falta oxigênio, falta vacina. E, para completar, faltam médicos e outros profissionais da área da saúde necessários para reforçar a linha de frente de atendimento a pacientes com a Covid-19 nos hospitais.

Durante a pandemia, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) realizou 74 chamamentos públicos para contratações emergenciais de médicos. No entanto, 14 editais não tiveram interessados.

Falta de mão de obra qualificada, desvalorização dos especialistas e afastamento dos que já estão na linha de frente ajudam a explicar o déficit. Além deles, grande parte das vagas disponibilizadas para enfermeiros, técnicos em enfermagem e fisioterapeutas não foram preenchidas.

Em Montes Claros, a prefeitura abriu contratação de médicos. São oferecidas 18 vagas que serão distribuídas no Hospital Alpheu de Quadros (2), UPA Chiquinho Guimarães (10), Centro de Atendimento Covid (2) e as outras quatro vagas são para a Estratégia Saúde da Família (ESF) nos bairros Independência, Vila Tiradentes, Nova Esperança e Jardim Primavera.

O NORTE procurou a assessoria de comunicação da prefeitura para saber como estava o processo, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.

Em Belo Horizonte, a necessidade maior é por intensivistas para atuarem nas UTIs. “Como aumentou muito o número de casos, a equipe fica pequena para atender todo mundo”, afirmou a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Carla Anunciatta. 

O infectologista Carlos Starling, membro do Comitê de Enfrentamento à Covid da capital, lembra que a formação dos profissionais pode demorar até seis anos após a conclusão do curso. Ele diz que os salários são baixos, o que piora a situação em um momento tão grave.

“Trabalhar mais, ganhar o mesmo, se expor a uma infecção e, eventualmente, morrer dela. Agora a situação melhorou um pouco por causa da vacina, pelo menos deu para reduzir um pouco o risco de infecção grave e morte”, avaliou.

Starling reforça que enfermeiros e fisioterapeutas respiratórios são indispensáveis. “São especialidades que, ao longo do tempo, foram sendo muito mal pagas, pouco valorizadas”. Ele ainda diz que depois de um ano de pandemia, muita gente que adoeceu desenvolveu uma síndrome pós-Covid, que gera uma grande fadiga, prejudicando o trabalho.

Apesar das tentativas de contratação, o médico avalia que o déficit ainda vai durar algum tempo, já que a doença está avançando em grande velocidade, principalmente por conta das novas cepas. 
 
FALHAS
Para a médica e reitora do Centro Universitário Funorte, Raquel Muniz, que também gerencia o Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro da Silveira, a falta de recursos humanos é consequência, principalmente, da vacinação não ter contemplado todos os trabalhadores da saúde.

Ela ressalta ainda que, apesar de o governo federal já ter dado o aval para a imunização dos estudantes da área de saúde, Montes Claros ainda não adotou a prática. “Montes Claros é um polo de educação, onde temos três cursos de Medicina, vários cursos na área da saúde e esses futuros profissionais precisam estar vacinados. Há uma completa desassistência aos estudantes da área da saúde, não só de curso superior como os cursos técnicos”, diz Raquel.

Para ela, esses acadêmicos poderiam reforçar o sistema de saúde local, com competência. “Contemplando esses alunos, vamos ter mais pessoas que já estão preparadas e foram treinadas para atender nas unidades de saúde. A palavra de ordem é vacinar tanto os trabalhadores da saúde que não foram contemplados como os estudantes de nível superior e técnico da área da saúde”, destaca.

SAIBA MAIS
Superintendente da Associação e Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde, Wesley Marques diz que muitos dos trabalhadores foram afastados após contraírem Covid ou por conviver com familiares infectados. 

Segundo Leonan Felipe dos Santos, diretor de Gestão de Pessoas da Fhemig, o contexto sem precedentes causa um grande desgaste nos profissionais. Porém, ele afirmou que a demanda consegue ser suprida. “Os afastamentos são previstos e, tendo em vista o porte da rede, são absorvidos internamente, com substituições e remanejamentos entre as unidades e setores”.

O gestor garante, no entanto, que para viabilizar a manutenção dos leitos já habilitados em hospitais com grande rotatividade de profissionais, ocorrem publicações, quando necessário, de novos editais. Na última quinta-feira, por exemplo, o Estado anunciou vagas no Hospital João XXIII e na Maternidade Odete Valadares.

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