Eduardo Brasil
Repórter
Depois de reiterar denuncias de irregularidades na frente de trabalho implantada ao arrepio da lei, em São Francisco, cujo real autor ele desconheceria, e de solicitar a instalação de uma CLI – Comissão Legislativa de Inquérito para apurar o caso, o ex-vereador Ricardo Figueiredo, presidente municipal do PSB, procurou a reportagem de O NORTE afirmando estar sendo ameaçado de morte. Segundo ele, o prefeito da cidade ribeirinha, o ex-padre José Antônio Rocha Lima – PT é que estaria incitando a reação da população contra sua pessoa, na tentativa de miná-lo politicamente – ele é pré-candidato para as eleições proporcionais deste ano, fato que teria ocorrido durante uma reunião com os trabalhadores no dia 22 de abril passado.
- Ele reuniu os garis no Colégio Caic da cidade e disse, com imensa irresponsabilidade, que todos perderiam o emprego por conta da minha denúncia. Denúncia que não fiz, uma vez que a inconstitucionalidade foi anunciada pelo ministério público de Minas Gerais, através da Coordenadoria de Controle e Constitucionalidade, que recomendou ao executivo a revogação da frente de trabalho. Na reunião, o prefeito também me negou o direito de falar aos trabalhadores, que partiram para cima de mim em seguida – informa Ricardo Figueiredo, que teria sido atacado pelos trabalhadores, sendo forçado até mesmo a se ausentar de São Francisco diante das ameaças que sofreu de linchamento a partir do incidente.
- Além da inconstitucionalidade, existiriam outras irregularidades cometidas pelo prefeito, como reduzir a menos da metade o salário dos trabalhadores para que, assim, pagando menos, pudesse empregar mais pessoas, num processo nitidamente político-eleitoreiro visando à sua reeleição em outubro, permitindo despesas não autorizadas por lei.
AMEAÇA DE MORTE
Segundo ele, que denunciou a ameaça de morte à polícia civil, por meio de uma representação criminal, o executivo incorreria em crime de prevaricação e, ao se ver cerceado pela justiça, tratou de imputar a ele a dissolução da frente de serviço, jogando os garis contra a sua pessoa.
- Um deles, logo após a reunião, chegou a me ameaçar de morte com uma enxada, dizendo que, se perdesse o emprego, me mataria. Por várias vezes fui cercado na rua, pelos garis, que ficaram revoltados por conta da mentira do prefeito, e aos quais garanti que ainda traria à tona a verdade dos fatos – acrescenta.
Ainda de acordo com Ricardo Figueiredo, as irregularidades que estariam sendo cometidas pela administração do prefeito José Antônio Rocha Lima não ficariam restritas à implantação ilegal da Frente Produtiva de Trabalho. O executivo e seus assessores também estariam envolvidos em processo de desvio de dinheiro público.
- Também requeri da câmara municipal de São Francisco a instalação de uma CLI para apurar denúncias de desvios de recursos do erário.
COMBUSTÍVEIS
Segundo ele, o prefeito, no início de sua gestão, entre os meses de fevereiro a julho de 2005, teria efetuado contratação sem licitação dos serviços de transporte escolar, na comunidade de Travessão, beneficiando um de seus correligionários, de nome Antônio José Guedes, processo que o teria ajudado no desvio de recursos públicos. Acrescenta (conforme documentos passados à reportagem) que na secretaria municipal de Educação de São Francisco existiria um expediente denominado Controle do consumo de combustíveis e lubrificantes.
- Na cópia desse controle existem provas do eventual crime, como a palavra acerto, que não cabe no contexto, o que caracterizaria fraude, e que corroboram as denúncias, como a seqüência de assinaturas do motorista, Eurípedes Moura, que verdadeiramente trabalhava com o ônibus escolar. De repente, é encontrada nesse controle a assinatura de outro servidor, que seria de Manoel Costa Neto, alheio ao serviço, fato que provaria que foi uma forma encontrada pelo executivo para desviar os recursos municipais.
Ainda de acordo com Ricardo Figueiredo, o prefeito mantinha linhas contratadas e outras linhas sem contratos, usando notas de consumo de combustíveis para proceder ao pagamento.
- Ambas as comissões de inquérito foram aprovadas pelo legislativo de São Francisco e a expectativa é de que a verdade dos fatos seja conhecida, derrubando as acusações levianas que o prefeito faz contra mim.
MONTES CLAROS
Ricardo Figueiredo, que voltou a morar em Montes Claros com a sua família, onde possui também residência, para fugir das agressões em São Francisco, afirma que mesmo assim continua recebendo ameaças de morte através de telefonemas anônimos.
- Continuo sendo ameaçado de morte por pessoas que se identificam como partidários do prefeito, ou não. Eu e meus familiares. Espero que a justiça aja para que a verdade seja conhecida e preserve a minha vida e a minha reputação. Tenho a expectativa de que as comissões legislativas de inquérito também ajudem neste processo em busca da verdade – completa Ricardo Figueiredo, que estaria na mira do prefeito diante da possibilidade de ser candidato nas eleições majoritárias.
- Parte do eleitorado de São Francisco, é verdade, torce para que eu seja candidato a prefeito, mas a minha intenção é voltar a integrar o legislativo, o que preocupa também o atual dirigente municipal já que ele teria, na minha pessoa, um de seus principais adversários na busca pela dignidade no serviço público – encerra o ex-vereador.
O prefeito de São Francisco não foi encontrado para comentar as denúncias.