Vereador de Jaíba insinua ‘golpe’ contra Jimmy

Farrique Xavier diz em gravação que o prefeito foi cassado porque era “ruim de jogo” e nada entendia de política

Jornal O Norte
Publicado em 01/06/2016 às 07:00.Atualizado em 15/11/2021 às 16:02.







Foto: Divulgação

O áudio mostra diálogo entre o advogado e o vereador e então presidente substituto da Câmara Municipal de Jaíba, Farrique Xavier da Silva

 

Uma gravação, sem data definida, chamou a atenção do Ministério Público de Manga e à Promotoria de Justiça Regional de Defesa do Patrimônio Público do Norte de Minas, em Montes Claros.

O áudio mostra diálogo entre o vereador e então presidente substituto da Câmara Municipal de Jaíba, Farrique Xavier da Silva (PSB) e o advogado Wagner Oliveira da Silva. A qualidade da gravação não é boa, mas, ainda assim, pode ser indicação contundente da tese que permitiu ao Ministério Público pedir a anulação do processo em que a Câmara de Vereadores cassou o mandato do agora novamente prefeito de Jaíba, Jimmy Murça (PCdoB), em novembro de 2013. A juíza substituta da Comarca de Manga, no extremo Norte de Minas, Ludmila Linz Grilo, acatou o pedido do MP no início deste mês, quando Jimmy reassumiu o cargo.

À época, Jimmy foi acusado por ex-servidores e ex-aliados de ter montado esquema de corrupção para fraudar licitação do transporte escolar e pela prática de nepotismo, além de pagamentos a supostos servidores fantasmas. Tudo isso em apenas sete meses de mandato. Em sua defesa, Jimmy disse ter sido vítima de conspiração - narrativa que começa a ganhar corpo com a fala do vereador Farrique, ainda que em contexto privado.

Na conversa com Wagner Oliveira, que é cunhado de outro agente público local, o ex-prefeito Enoch Campos Lima (PDT), Farrique diz que Jimmy “nasceu para ser empresário e não político”.

O vereador sugere que a cassação do atual prefeito teria sido em razão da sua recusa de fazer o jogo de pressão dos vereadores para a indicação de apadrinhados na administração. “O bicho é ruim de jogo”, diz Farrique ao seu interlocutor. Na avaliação do vereador, o prefeito Jimmy não soube lidar com os vereadores e outras forças políticas do município, porque “como político ele é um ótimo empresário”.

Investigação do Ministério Público apura denúncias contra Farrique que vieram à luz dos autos no bojo das delações premiadas do ex-prefeito Enoch Lima e do empreiteiro Antônio Carlos da Silva, o Tonin, considerado pelo Ministro Público como o operador utilizado pelo que classifica como ‘esquema criminoso’ montado para desviar recursos públicos durante o curto mandato do prefeito Enoch – entre dezembro de 2013 e janeiro deste ano.

As delações premiadas de ambos, submetidas à 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais para homologação em março passado, mostram que o empreiteiro Toninho Silva tinha contratos com a Prefeitura de Jaíba no valor de R$ 11,5 milhões e que atuava como uma espécie de caixa paralelo para cobrir as despesas não contabilizadas nas prestações de conta do prefeito Enoch – para dizer de modo bem politicamente correto.

Enoch e Toninho Silva contaram aos promotores que o vereador Farrique teria recebido salário dobrado durante os cinco meses em que ocupou a Secretaria da Promoção Social da Prefeitura de Jaíba. Segundo a denúncia, Farrique recebia o salário normalmente da Câmara, mas era remunerado por fora pelo esquema criminoso montado na administração local.

No total, teriam sido repassados R$ 26 mil, o que inclui a quitação de uma dívida sua na Madeireira Pica Pau no valor de R$ 8 mil. O restante era para pagamento do salário adicional. Enoch convidou Farrique para seu secretariado para colocar em seu lugar o suplente de vereador Analgêncio Murilo da Silva (PSB), que era mais afinado com os interesses do grupo.

O OUTRO LADO
Contatado para comentar o assunto, o vereador Farrique Xavier explicou, por telefone, que não tem conhecimento e não se recorda da conversa que resultou no grampo supostamente armado pelo advogado Wagner Oliveira da Silva. Xavier, no entanto, confirma que o prefeito Jimmy Murça tentou imprimir na administração de Jaíba um estilo de gestão mais parecido com o de uma empresa privada, onde o importante fazer resultado financeiro, sem se importar com o social, com as necessidades do povo.

- Ele estava mais focado em cortar despesas por todo lado, sem conversar com ninguém, com os vereadores ou com a comunidade - critica Farrique, que ainda acusa o adversário Jimmy Murça de ter contribuído para denegrir a imagem da Câmara Municipal de Jaíba, no que avalia ter sido o início de uma guerra entre os dois poderes que resultou no atual estagio da crise política local, em que alguns dos 13 vereadores do município entraram na mira do Ministério Público.

- Não poderia ser diferente, depois que Jimmy resolveu arruinar a imagem da Câmara -  reclama.

O vereador nega ter recebido salário dobrado durante o período em que comandou a pasta da Promoção Social do município, a convite do prefeito Enoch. O que aconteceu, segundo sua versão, é que a Prefeitura de Jaíba começou a atrasar os seus vencimentos e a Câmara, por outro lado, alegou que não poderia arcar com a despesa, já que seria obrigada a garantir o subsídio do suplente de vereador Analgêncio Silva.

- Eu optei pelo salário de maior valor, que era o da Câmara, e até hoje ainda tenho a diferença a receber entre o meu subsídio como vereador e o salário do secretário municipal - explica Farrique, que alega ter entrado com ação judicial na Comarca de Manga para resolver o impasse.

Farrique confirma, entretanto, que foi levado para a administração Enoch porque o prefeito não contava com o seu voto na Câmara.

- Eu estava concluindo meu curso de Ação Social e o prefeito mandou uma pessoa me convidar para a secretaria, porque queria contar com o voto a seu favor do Analgêncio - ele diz. Perguntado por que então Enoch e o empreiteiro Toninho Silva resolveram acusá-lo em seus depoimentos à Justiça, o vereador foi rápido na resposta.

- Por que a Câmara iria cassá-lo como já tinha cassado o Jimmy - resume.

Farrique por pouco não ocupou a cadeira do prefeito Enoch. A sessão da Câmara de Jaíba de 20 de julho de 2015 foi suspensa com a chegada da Polícia Militar e de representante do Ministério Público, no momento em que os vereadores se preparavam para votar o relatório da Comissão Processante que investigava o prefeito Enoch Lima desde o mês de abril daquele ano. A expectativa era de que Enoch fosse cassado e que o vereador Farrique Xavier, então presidente da Câmara, assumisse o cargo de prefeito.

Após afastar Enoch, o vereador Farrique chegou se encaminhar para o gabinete do prefeito no dia seguinte, onde pretendia tomar posse, mas foi barrado por uma liminar que suspendia os efeitos da cassação de Enoch pela Câmara. Farrique ocupava a Presidência da Casa porque o presidente da Câmara Municipal, vereador Valdemir Soares Oliveira (DEM), estava afastado em razão de liminar da juíza substituta da Comarca de Manga Roberta de Souza Alcântara. Esse episódio parece explicar porque Farrique entrou na mira a metralhadora de Enoch.

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