Fabíola Cangussu


Repórter

A soma de todos os votos obtidos pelos vereadores eleitos na última eleição corresponde a 35.775, o que representa apenas 10% da população montes-clarense, e 15% do total dos eleitores, número considerado baixo pelos especialistas em políticas.

A professora de Sociologia e Políticas Regina Célia Fernandes diz que o voto é uma garantia de  participação no contexto político.

- Mas ainda temos muito o que avançar. Necessitamos despertar a consciência coletiva que busca desinteressadamente  garantir a soberania da vontade popular. Porém, as pessoas não têm acesso às informações adequadas. No geral são manipuladas por aqueles que tornam o processo eletivo como algo meramente comercial, um produto a ser consumido. Então temos que reforçar e discutir a ética, que no nosso entendimento está ligada a ação, a emancipação  e a reconstrução dessa democracia. Com isso as pessoas terão melhor visão do que realemente desejam de seus representantes. E esses números poderão futuramente ser a representação da maioria – afirma a professora.

Segundo Cláudia Soares, professora de Literatura, o processo de emancipação de um povo acontece gradativamente, e nesse contexto Montes Claros já iniciou mudanças.

Cláudia diz que vai demorar para consegui uma câmara que represente a maioria


(fotos: XU MEDEIROS)

- Uma conscientização não nasce de um momento para o outro. Vai demorar  para termos uma câmara que represente a maioria da população. Pois, antes de tudo devemos amadurecer politicamente, entender a importancia dos legisladores para o desenvolviemento municipal. O que percebemos é que a sociedade tem maior preocupação em escolher seus governantes, como presidente, governador e prefeito, e se esquecem que deputados e vereadores são os principais responsáveis pelas conqusitas de direitos. São eles que irão decidir quais as políticas públicas necessárias para nosso dia-a-dia. Os partidos políticos têm a responsabilidade de divulgar isso à sociedade. Ao que nos parece, eles deixam em segundo plano os representantes nas câmaras. Essa pode ser a principal razão da câmara não representar a maioria do eleitorado montes-clarense – analisa Cláudia.

O estudante Perseu Gonçalves, 20, considera a falta de mobilização popular o maior problema no momento de eleger os representantes do legislativo.

Perseu afirma que ainda é raro a sociedade se reunir para discutir o perfil de vereadores que necessitam

- É raro encontrarmos comunidades que se reúnem para discutir quem melhor as representariam. No geral, as pessoas fazem escolhas baseadas em juízos e necessidades pessoais.  Esquecem que política se faz em favor do coletivo. Falta também por parte dos candidatos e dos próprios vereadores criarem um canal direto com as comunidades, ouvirem suas reais necessidades e em seguida colocarem em prátia. Fazendo isso, o eleitor passa a criar a cultura de analisar realmente quem o está representando de forma correta na câmara – garante Perseu

O grande número de candidatos é apontado pelo vendedor Carlos Alberto Santos, 39. Ele diz que são tantos nomes que acabam confundindo o eleitor.

- Não sei se é papel dos partidos ou mesmo dos eleitores fazerem essa seleção. Penso que cada comunidade precisa discutir quem realmente o está representando e formar uma base de apoio. Temos exemplos de vários candidatos representando um setor, no final nenhum é eleito. Nesse caso quem sai perdendo é a população. É preciso reavaliar nossa participação nesse processo político – afirma o vendedor.

Já a estudante de 15 anos, Samira Serrat, que ainda não exercitou seu papel de eleitora por causa da idade, diz que as pessoas deveriam discutir melhor suas propostas política.

A estudante Samira ressalta que os  candidatos prometem sempre o mesmo, sendo difícil escolher o melhor

- Por não ter 16 anos, não pude participar dessa eleição. Porém acompanhei o horário eleitoral gratuito e percebi que todos prometem a mesma coisa. Investir na saúde, segurança e educação. Como descobrir o diferente? Como saber quem realmente tem as melhores propostas? Lógico que todos querem esses direitos garantidos, mas quem são os merecedores de nosso voto? Acredito que esse seja o real motivo para que os eleitos tenham conseguido somente 15% dos votos dos montes-clarenses – conclui a estudante.

O QUE É CÂMARA MUNICIPAL

Cada câmara municipal pode possuir comissões especiais responsáveis pela discussão de determinados assuntos - com poderes, guardadas as devidas proporções, equivalentes ao da câmara dos deputados.

Apesar da atual organização das câmaras datar da mais recente Constituição do país (de 1988), esta forma de organização política remonta à colonização do Brasil.

CÂMARA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Segundo a Carta Magna brasileira, compete às câmaras municipais:

Fiscalização das contas do município;

Elaborar a Lei Orgânica;

Organizar as funções internas para legislar e fiscalizar;

Nomear logradouros, elaborar leis ordinárias ou apreciar aquelas cuja iniciativa é prerrogativa do Executivo.