Eduardo Brasil
Repórter
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Medida anunciada pela prefeitura de Montes Claros, colocando a folha de pagamento do município sob responsabilidade do Banco Itaú, com a instituição privada abocanhando os serviços que eram prestados pela Caixa econômica federal e Banco do Brasil certamente não será benéfica ao servidor.
Servidores municipais temem levar prejuízos com novo
esquema bancário para pagamento de seus vencimentos
(foto: Wilson Medeiros)
É o que se pode deduzir, considerando os resultados financeiros negativos que a medida teria infringido aos servidores de outros centros, onde eventualmente acordo semelhante foi consagrado. Em Ribeirão das Neves, por exemplo, na região metropolitana de Belo Horizonte, a medida tem causado prejuízo aos trabalhadores municipais.
- É verdade que o servidor, até o ano de 2000, quando era atendido pelo Banco do Brasil não pagava taxas para receber o seu salário, que hoje até oneram seus vencimentos. Mas o serviço prestado agora é de qualidade, o que não ocorria antes, com o Banco do Brasil - observa Rodrigo Augusto, do setor contábil da prefeitura de Ribeirão das Neves, em conversa pelo telefone com a reportagem.
SERVIDOR PENALIZADO
Por outro lado, os servidores em Ribeirão das Neves não escondem insatisfação com o contrato, realizado sem a necessidade de um processo de licitação, sentindo-se lesados pelos impostos que passaram a pagar.
- A agência bancária cobra tarifas exorbitantes e que, ainda neste mês, deverão ser reajustadas - acrescentam fontes que integrariam o SindiNeves, o sindicato dos servidores públicos de Ribeirão das Neves, também ouvidas por telefone e que pediram anonimato.
- As tarifas para que possamos receber nossos pagamentos estão hoje na ordem de R$ 8,50. E este valor vai subir neste mês, é o que estamos sabendo – confirmam.
Segundo eles, de fato, a prefeitura alega que transferiu os serviços para o Itaú por conta do péssimo atendimento que o Banco do Brasil prestava ao município, seu principal cliente.
- Mas o ônus dessa mudança recaiu nas costas do trabalhador municipal. Estamos sendo penalizados e essa situação pode servir de aviso para categorias de outras cidades, como Montes Claros, onde o esquema está sendo montado. Que os servidores fiquem alertas – concluem.
CONTRATOS MILIONÁRIOS
O contrato em Ribeirão das Neves, com o banco privado, envolveu recursos de R$ 1,5 milhão de reais, dos quais somente R$ 1 milhão caiu até hoje nos cofres da prefeitura. O restante ainda está por pagar.
- Os outros R$ 500 mil serão pagos em quatro parcelas, neste e no ano que vem. Foi uma condição do banco e que a prefeitura aceitou – acrescenta Rodrigo Augusto, lembrando que antes do Banco Itaú, o Bradesco também defendeu contrato semelhante.
Em Montes Claros, o valor acertado entre a prefeitura e o Banco Itaú, para que a instituição privada preste os serviços que cabiam às estatais, estaria na ordem de R$ 4 milhões. Dinheiro que a prefeitura ainda não fez nenhuma referência sobre sua localização, se estaria já em conta do município, na sua totalidade, ou se em parte e, sobretudo, como a administração utilizará tais recursos.
ARMADILHA
Servidores municipais, ouvidos pela reportagem na manhã de sexta-feira, no próprio prédio da prefeitura, e que também pediram anonimato, com medo de retaliações, revelaram que a medida não foi bem aceita pela categoria, e que ela teria sido tomada à sua revelia.
- A gente não podia aceitar uma coisa desse tipo. Alguém deve estar levando vantagem nisso tudo. Nós é que não somos – afirma uma servidora com mais de dez anos de serviços públicos.
Para a categoria em Montes Claros, mais uma vez ela ficou a reboque de medidas que lhe dizem respeito, sujeitando-se ao papel de aceitar decisões sem sequer poder reagir.
- Não nos avisaram de nada. Foi tudo de surpresa. O banco vai tomar parte de nossos salários e a prefeitura só procurou informar, e muito pouco, sobre o assunto, depois de firmado o contrato. O servidor foi apanhado numa armadilha.
O Norte procurou contato com funcionários das instituições bancárias citadas na reportagem, mas não obteve sucesso.