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Sábado,17 de Maio

População de rua cresce 70% em MOC

Em vez de acolher esta parcela da população com ações de assistência social, prefeitura dá passagem de volta

Márcia Vieira
Publicado em 12/04/2019 às 07:33.Atualizado em 05/09/2021 às 18:12.

De cerca de 600 moradores de rua em 2017, Montes Claros conta hoje com mais de mil pessoas sem moradia, vivendo em espaços públicos. Os números foram apresentados ontem na Câmara Municipal de Montes Claros que realizou audiência Pública para discutir o problema.

Com plenário lotado, sobretudo de pessoas que habitam as ruas, a reunião proposta pelo vereador Aldair Fagundes (PT) foi palco de reclamações dos participantes, sobretudo em relação à ausência de políticas públicas municipais voltadas para a assistência desta parcela da população.

Participantes da reunião denunciaram que às pessoas que chegam de outras cidades e não têm onde morar, a Secretaria de Desenvolvimento Social oferece passagem de ônibus gratuita para o município de origem, em vez de acolhimento em um abrigo público até que possam conseguir um emprego e um teto.

Devido à ineficiência do município em ações sociais, os moradores de rua de Montes Claros são acolhidos, hoje, por entidades e iniciativas voluntárias da sociedade civil, que ofertam, além de alimento e moradia, assistência psicológica. “A organização da sociedade civil está cumprindo um papel que o município deveria cumprir”, denunciou Júlia Veloso, do Centro de Referência Direitos Humanos Norte.
 
FALTA APOIO
Morador de rua e participante da reunião, Isac Araújo cobrou ações concretas para garantir a inclusão de quem não tem um teto. “Já tentei sair das ruas e quero sair. Falta apoio. Não consigo emprego. Pelo fato de ser um morador de rua, a sociedade não confia. A proposta da reunião é positiva, desde que saia do papel”, disse Isac Araújo.

Ex-morador de rua, Edmílson Ramos também reclamou da ausência de políticas públicas de ação social para esta parcela de população. Quando veio de Ubaí, cidade natal, ele viveu nas ruas, mas foi acolhido há um ano e dois meses na “Casa Amor e Vida”, onde hoje ajuda a receber pessoas na mesma situação vivida por ele.

“Perdi o vínculo familiar, cada um foi para um lado e eu vim parar aqui em busca de emprego. Não consegui. Fui acolhido na casa do Pastor Josemar Xavier e hoje trabalho lá para ajudar outras pessoas”, disse. Questionado sobre ter a passagem comprada para voltar à cidade de origem – uma das propostas adotadas pela Secretaria de Desenvolvimento Social –, ele diz que não é o que pretende. “Na minha cidade a situação de pobreza é maior do que aqui”, declarou.

Coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Samuel Rodrigues criticou a medida da prefeitura de não assistir os moradores e mandá-los de volta para a cidade natal. Ele diz que a solução para a situação do morador de rua ainda é vista como de caráter assistencialista. Ele disse que, apesar da boa discussão, a audiência não teve o resultado esperado. “Foi mais um bate-papo do que uma audiência propositiva”, criticou Samuel.
 
RESTAURANTE
O vereador Valcir Soares (PTB) questionou sobre qual política estaria sendo feita para as instituições da sociedade civil que executam o trabalho de assistência social aos moradores de rua.

“Estão morrendo e não têm mais como atender as pessoas porque não têm apoio do poder público. É muito bonito falar. Precisa colocar em prática”, disse o vereador.

O vereador Valdeci Contador (PMN) questionou o secretário de Desenvolvimento Social, Aurindo Ribeiro, sobre a possibilidade de o Restaurante Popular, que encontra-se em abandono, ceder lugar para um abrigo de moradores de rua.

Aurindo Ribeiro disse que seria inviável, uma vez que não existe esta necessidade em Montes Claros, que conta com Centro Pop, local onde os moradores podem se alimentar. Ele falou ainda sobre o projeto de construção de uma casa de passagem, onde os moradores poderiam morar até que conseguissem um local para viver, mas não citou prazos para que a obra se torne realidade.

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