Para onde a banda toca

Lula e Dilma insistem nos erros de leitura de cenário que levaram o país ao atual impasse

Jornal O Norte
Publicado em 15/04/2016 às 07:00.Atualizado em 15/11/2021 às 15:57.

POR LUIS CLÁUDIO GUEDES










 

Governo e oposição dão como certa suas vitórias na votação sobre a aceitação ou não do afastamento da (ex) presidente Dilma Rousseff no próximo domingo. Vale para o caso o provérbio que diz mais valer uma esperança tarde que o desengano cedo. Dado o ritmo das defecções de partidos da base nestas últimas duas semanas (PMDB, PP, PSD, PRB e PR já desembarcaram), começa a se formar tendência talvez irreversível da vitória do grupo que milita pelo impedimento da presidente.

A turma próxima ao Palácio do Planalto até tenta passar confiança à tropa, mas o governo segue errando nas leituras de cenário que tenta fazer. Em entrevista na quarta-feira, a presidente Dilma acenou com a possibilidade de um pacto nacional caso consiga barrar o impeachment, mas falta-lhe credibilidade após qualificar como golpistas quem discorda do seu governo.

Outro erro crasso dos presidentes Lula e Dilma (sim, nossa República tem essa singularidade do presidencialismo de dois gêneros - por isso o ‘ex’ entre parênteses) foi acreditar que o rompimento com o PMDB daria ao PT a chance para colocar partidos médios e nanicos em postos-chave da Esplanada. Tal manobra foi mera repetição do erro original deste segundo mandato de Dilma. Nunca é demais lembrar que ela tentou derrotar Eduardo Cunha e o PMDB na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, com apoio à candidatura própria do deputado Arlingo Chinaglia.

É esse caldo de cultura, fortalecido até domingo pela pressão vinda do ambiente externo, que indica o provável afastamento da presidente. Ultrapassada essa etapa, Dona (ex) Presidenta terá dificuldades de reversão da situação no Senado, próxima parada no rito do impeachment. Se afastada em futura decisão dos senadores, Dilma dificilmente retorna ao cargo. Lula sabe disso. A iminente derrota significa para os planos de continuísmo do lulo-petismo. Nesse cenário, a hipótese é de definhamento inevitável para o partido que mandou no país nos últimos 15 anos.

No quarto de hotel que ocupa aqui em Brasília, Lula continua atuante na tentativa de reverter a admissibilidade da denúncia contra Dilma. Segundos os bastidores, o clime é de desânimo - sobretudo após o ex-presidente ter recebido negativas de deputados com quem conversou e ter tomado conhecimento da real dimensão da deterioração da governabilidade de Dona Presidenta.    

Vencedora a tese do impeachment, o país terá novo centro gravitacional a atrair as forças políticas. Ao PT, que se não conseguiu estancar a crise política que lhe decepará a cabeça quando tinha a caneta que define cargos e verbas em mãos, restará a alternativa de aceitar o resultado ou optar pelo caminho da radicalização, no que escancara de que somente o dilúvio pode vigorar após sua passagem pelo centro do poder.

Outra possibilidade para o lulopetismo é deixar o tempo correr para, quem sabe, reencontrar seu norte na eventualidade do PMDB enfrentar dificuldades na condução de um País dividido ao meio e em depressão na economia. Certamente Michel Temer não dispõe da fórmula mágica para resolver o quadro de desordem fiscal e crise generalizada que paralisa a economia do país. O clima no país é de terra arrasada e dificilmente vai mudar com a simples saída de cena de uma presidente impopular.

O PT e seu entorno vai precisarão curar as feridas, fazer o necessário mea-culpa e definir que espaço poderá ocupar na vida política do País. Se der a hipótese contrária, a da rejeição do impeachment, o desafio não será menor. Em que pese seu ânimo para o recomeço, Dilma Rousseff perdeu todas as credenciais para retirar o país do atoleiro em que se encontra, em boa parte pela sua teimosia e já conhecida incapacidade de liderar a necessária concertação que se impõe ao País em busca da mínima normalidade.

Dilma e Lula já sabem o som que a banda toca, mas insistem em consertar o que não tem mais remédio. Dilma certamente não vai cair por pedalar fora do ritmo. O que está em julgamento é o conjunto da obra – que de tão conhecido dispensa comentário.

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