
Dados de uma pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2024, apontam que o eleitorado brasileiro é constituído de maioria feminina, sendo 52,47% de mulheres contra 47,51% de homens. Quando se trata da ocupação de cargos eletivos, a realidade mostra que o número de mulheres eleitas é bastante inferior. Em 2025, 727 cidades brasileiras são chefiadas por mulheres, 64 prefeitas a mais do que em 2020. O mesmo se repete em cargos do Legislativo, federal, estadual e municipal.
O sociólogo Luiz Eduardo de Souza Pinto aponta que a falta de paridade tem raízes coloniais e se mantém na estrutura econômica e social do país. Segundo Eduardo, o modelo econômico agrícola consolidou o homem como figura central no Brasil. “Esse dono das terras indicava os magistrados, a polícia e, embora o país tenha se industrializado, a lógica de delegar à mulher o papel de cuidar da casa permaneceu, enquanto o homem é associado à produtividade e força. O modelo se reproduz nos espaços públicos”, afirma. Eduardo diz ainda que, embora a lei determine uma cota mínima de 30% de mulheres na disputa e no máximo 70% de participação de um mesmo sexo, na prática, isso não acontece, pois até a disponibilidade de candidaturas femininas é rara.
Em Minas Gerais, apenas 137 dos 853 municípios têm prefeitas. Entre elas, Alini Bicalho, eleita em 2024 em Francisco Sá, destaca a predominância masculina na política e os desafios que as mulheres enfrentam antes e após a eleição. “Estou no início de um mandato e ouço tanta coisa, tanta referência sobre a possibilidade de dar ou não dar conta, simplesmente pelo fato de ser mulher”, diz. Primeira mulher a comandar o município em 102 anos, ela destaca que uma das primeiras iniciativas do seu governo é a construção de uma creche para crianças de zero a dois anos, visando atender às mães de baixa renda que precisam trabalhar e não têm onde deixar os filhos. “São detalhes que só outra mulher cuida e entende. Foi preciso ter uma prefeita mulher para ter essa sensibilidade, o olhar humanizado. Ter homens no comando é uma tradição, mas a população clama por esse cuidado e sensibilidade. Temos que ter mais gestoras”.
Em São João da Lagoa, Izabel Fonseca é a única mulher entre nove vereadores. Em 29 anos de emancipação política, o município contabiliza uma participação política feminina, tímida, com uma vice-prefeita e duas vereadoras. Chegar lá, ela conta, foi desafiador, representou uma quebra de tabus, mas com potencial para ser uma atuação promissora. “Ser uma mulher em uma posição de poder pode trazer uma perspectiva única e importante para a tomada de decisões”, avalia. Izabel aposta na voz política para promover a igualdade. “É uma oportunidade de inspirar outras mulheres a se envolverem na política e a lutar por seus direitos e interesses”, declara.
DO NORTE PARA O BRASIL
A deputada Leninha (PT), vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pela segunda vez, é a primeira mulher negra na Mesa Diretora. Ela vê o feito como um marco para a representatividade feminina negra na política mineira. “Afirmo que estar na vice-presidência da Assembleia é mais do que um lugar de honra, é trazer comigo milhares de meninas, jovens e mulheres pretas que ousaram romper a sentença que a sociedade impõe. É resistir e persistir no desejo de uma sociedade mais justa e solidária”, diz a deputada. Ela pontua que a sua trajetória confirma a necessidade de políticas afirmativas para mulheres negras na construção de uma democracia plural e inclusiva. “Minha história é um reflexo da luta coletiva das mulheres negras no Brasil, desde os líderes quilombolas até as parlamentares contemporâneas, nós temos desafiado estruturas racistas e patriarcais para ocupar espaços de decisão”.
Eleita para a 55º Legislatura da Câmara Federal, Raquel Muniz foi, até hoje, a única norte-mineira a ocupar o cargo e lamenta que a participação da mulher ainda seja minoritária. “Essa é uma mudança pela qual precisamos continuar trabalhando. O Norte de Minas, atualmente, por exemplo, não tem uma mulher na Câmara dos Deputados, isso entristece, mas sobretudo mostra uma realidade nacional, em que as mulheres têm menos apoio”, disse. Médica e Reitora do Centro Universitário Funorte, Raquel destaca que representar o Norte de Minas foi uma honra e uma oportunidade de trabalhar por uma sociedade mais justa, mais igualitária. “Mais mulheres na política é mais do que um bordão, é uma necessidade real, é uma forma de levar a sociedade a refletir sobre a importância de ter o olhar feminino na construção de leis, de políticas públicas e das decisões que afetam a vida, muitas vezes, cotidiana de todos nós”, afirma.