Ingleses associam empreguismo em Brasília à roubalheira e revelam decepção com Lula

Jornal O Norte
15/07/2005 às 20:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Eduardo Brasil


Repórter


eduardo@onorte.net

Enquanto grande parte da população brasileira guarda dúvidas sobre a idoneidade de Lula, se o presidente da República sabia ou não das falcatruas que seus assessores petistas praticavam surrupiando dinheiro dos cofres públicos, a sua administração já está ganhando manchetes das mais famosas revistas e jornais do mundo não mais pelo empenho do chefe da nação, na sua peregrinação pelo mundo na tentativa de acabar com as desigualdades sociais no planeta, mas por conta da corrupção que grassa no país que governa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a imprensa já publica seguidos editoriais sobre o assunto, sem poupar o ex-torneiro mecânico que ascendeu ao poder, ressaltando que a roubalheira no Brasil atualmente é como uma doença endêmica - e que os brasileiros, diante da lentidão do atual governo para extingui-la deverão levar pelo menos vinte anos até se verem livres do achaque.

Na Inglaterra, a administração petista sofre a mesma discriminação dos norte-americanos e está sendo considerada como uma das mais vulneráveis a ação dos corruptos nas últimas décadas. Para a revista The economist, em edição de ontem, os escândalos das malas, do mensalão, dos Correios, dos bingos fazem o pior momento político do Brasil nos últimos 15 anos. Uma situação que tomou proporções cinematográficas, na opinião da revista.

COISA DE CINEMA

Na reportagem publicada nesta sexta-feira, os ingleses argumentam que o Brasil tem sido menos eficiente do que julgavam, ou esperavam, na guerra contra a corrupção, deixando a dúvida de que tenha sido até mesmo conivente com as irregularidades. Para eles, as anomalias praticadas no coração do governo dariam um bom roteiro de cinema. Também deixam, patente, a mesma imprecisão sobre se o presidente sabia das falcatruas ou se realmente fora enganado pelos seus principais e mais íntimos assessores - incluindo José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, apontado pelo deputado Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB como o principal responsável pelas falcatruas que culminaram, entre outras coisas, no pagamento de propinas a deputados para que votassem aliados com o governo, com dinheiro surrupiado de estatais - embora não cite o nome do ex-homem forte do governo e agora deputado federal.

O texto inglês argumenta que comprar votos não é novidade em Brasília, observando que é comum presidentes precisarem do apoio de parlamentares volúveis, como se aludisse às acusações de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pagou a deputados pela aprovação da emenda que lhe garantiu a reeleição. Retrocede um pouco mais na história da República para lembrar do governador paulista, Adhemar de Barros, que também dispensava cuidados especiais aos aliados e era, pelos adversários, associado ao slogan rouba, mas faz.

PASSOU DA CONTA

Segundo a Economist, no entanto, desta vez a dimensão do escândalo é um golpe duro para o governo Lula. Na opinião da publicação, a crise teria origem no fato de Lula ter inchado a administração pública, principalmente com quadros de seu partido, o PT, aumentando a chance para corrupção ou acusações de corrupção.

A revista se refere aos novos ministérios criados por Lula, e aos 120 mil empregos públicos que o seu governo permitiu em apenas dois anos e meio. Em parte, como resultado, diz a revista, a carga tributária cresceu para 37% do PIB, 25% mais do que há uma década. O dobro da média da América Latina.

Ainda segundo a revista, desde a queda de Fernando Collor de Mello, que sofreu impeachment, o Brasil criou uma das mais eficientes máquinas de investigação e punição de corrupção. Só que no papel. Na prática, porém, os auditores do setor público estão sobrecarregados ou na mão dos burocratas que deveriam inspecionar, e por isso as irregularidades passam em branco - conclui a reportagem. (Com informações BBC)

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