Humberto Souto iniciou sua carreira política em 1962, como vereador em Montes Claros. Foi eleito deputado estadual em 1970. Em 1974, inicia o primeiro de seus três mandatos consecutivos como deputado federal, até ser indicado, por unanimidade, pelo congresso nacional, em 1995, ministro do Tribunal de Contas da União. Ao deixar o TCU, ao se aposentar, Humberto Souto se distanciou da política, mas por pouco tempo, retornando em 2004, ao ser eleito para um quarto mandato em Brasília.
Em entrevista concedida a Eduardo Brasil, ele fala do seu retorno ao congresso nacional, sobre a administração do correligionário Athos Avelino, e sobre o sonho de um dia ser prefeito de Montes Claros
O Norte - Como foi a sua volta à política, depois de um período afastado?
Humberto Souto - Acho que foi um acaso. Eu estava me aposentando do Tribunal de Contas da União, fui convidado a ser candidato a prefeito de Montes Claros e por isso tive de me filiar ao PFL. Mas acabei não sendo o candidato por razões que não interessa agora discutir. Posteriormente me filiei ao partido do prefeito Athos Avelino, o PPS, e o apoiei. Com a vitória de Athos, ele saiu do congresso, veio para Montes Claros e o meu retorno ao congresso nacional ficou quase como um fato natural, porque Montes Claros e a região ficaram sem deputado. Então, acabei aceitando voltar à política.
Humberto Souto ingressou na vida política em 1962 (Foto:Wilson Medeiros)
ON - Quais seriam as suas metas para o Norte de Minas no congresso nacional e como o senhor analisa a nossa bancada em Brasília e em Belo Horizonte?
HS - É complicada essa situação e essa resposta. Primeiro, a bancada federal de Montes Claros e legitimamente da região é muito pequena, ela se circunscreve quase que a mim e a outro candidato federal que ficou na suplência e que deve assumir. Então, não há muita alteração. A alteração que houve, efetiva, foi com relação à bancada estadual. Nós temos uma bancada de deputados estaduais invejável. São oito deputados, quase todos de Montes Claros. Realmente é um potencial político muito importante nessa área estadual. Quanto à área federal, eu tenho a impressão que continua a mesma coisa: Athos saiu e eu entrei. A expectativa é muito difícil de prever, porque eu não sei ainda qual será a orientação do meu partido, que ficou na oposição. Todos os partidos aderiram a Lula e eu tenho a impressão de que o PPS não o fará. Então, se eu ficar na oposição, e fizer um mandato voltado para a fiscalização dos atos do governo, nesse momento difícil que o Brasil vive, vou encontrar obstáculos para conseguir os recursos que precisamos. O que eu tenho certeza é de que vamos lutar para advertir o governo sobre a realidade do Norte de Minas, em relação a estradas, universidades, a fatores fundamentais para o nosso desenvolvimento. Quando deputado, por exemplo, tive aprovado projeto de minha autoria criando uma universidade federal em Montes Claros. Por razões de recursos, o presidente José Sarney vetou o projeto, que ficou capenga. Então, voltamos nossos olhos para a universidade estadual e acabamos lutando pelo reconhecimento da Unimontes, que se tornou uma instituição extraordinária. Pretendo estudar a possibilidade de reviver aquele projeto, até porque Lula acabou aceitando a criação da universidade federal do Vale do Jequitinhonha e de outras regiões carentes do país. Isso proporciona que entremos agora com projeto propondo a criação da universidade federal do Vale do São Francisco. Basta alterar artigo do projeto, passando as despesas da criação da universidade para a União. Vamos observar também outros fatores que são pilares para o desenvolvimento regional. Não sei se vou conseguir – e isso eu já dizia insistentemente na minha campanha, dizia estar com medo, enquanto meus amigos me perguntavam do quê, se eu já estava eleito. Eu respondia que era exatamente por isso: medo de ser eleito, porque a responsabilidade é tão grande, a nossa região passa por um processo de abandono tão grande que eu tenho medo de não ter capacidade, ou de não ter força suficiente para ajudar a minha região como eu gostaria de ajudar.
ON - Para que os grandes problemas regionais sejam superados, não seria necessária uma grande união dos nossos representantes, que deveriam deixar de lado até mesmo o ciúme que experimentariam das ações do outro?
HS - Na política sempre existe isso. Nunca foi o meu forte, eu nunca tive ciúmes em política. Sempre tive um comportamento positivo, a favor da construção, do desenvolvimento. Infelizmente sempre lutei muito sozinho. Mas naquele tempo eu construí uma carreira política com prestígio e alcancei uma importância política que me ajudava a definir as coisas com mais facilidade. Assim, pude ajudar o Norte de Minas. Todos os projetos importantes que Montes Claros e a região têm, têm o meu dedo. Mas, hoje eu não tenho certeza disso. Hoje tenho uma esperança em mim mesmo de que com a minha experiência, idealismo, a minha vontade de servir continuarei ajudando à minha região. Não volto à política por vaidade, para roubar, porque eu não aprendi a roubar e não vou roubar agora. Não vou vender ambulância nem fazer mensalões. Volto a ser deputado exclusivamente para servir à minha região. Agora, não posso garantir nada, até porque na minha campanha eu só prometi trabalhar pelo nosso desenvolvimento, de dar à região o que aprendi de bom na política, unindo forças. União é essencial. Em discurso na Amams apelei pela união de todos nós. As pessoas precisam descer do palanque, terminou a disputa política, vamos cuidar da cidade, da região. Não podemos fazer da política um negócio eterno que atenda a interesses pessoais.
ON - A administração de Athos Avelino tem sofrido críticas negativas e severas de alguns setores da sociedade, incluindo até mesmo denúncias de malversação de recursos, embora não se apresentem nenhuma prova nesse sentido.
HS - Estou curioso para saber qual a razão que levou Athos, a administração de Athos, a um desgaste tão grande. Honestamente, eu não vejo uma razão absoluta. Existem falhas, erros no governo? Sim. Então vamos corrigir. Primeiro, temos de compreender que Athos Avelino pegou uma prefeitura completamente esfacelada, com mais de oito mil funcionários, muitas dívidas. Uma prefeitura sem estrutura, com os projetos parados por falta de recursos. Então, pegar uma prefeitura nessas condições é difícil, porque Montes Claros inchou e já tem 250 bairros. Penso que doutor Athos errou ao assumir a prefeitura, decidido a pagar as dívidas atrasadas, em vez de promover um novo estudo sobre como pagá-las. Depois, ele pegou a prefeitura inchada, com muitos funcionários. Deveria, num primeiro ato, ter recorrido às demissões necessárias. Então, ele começou a melhorar a saúde, a trabalhar na educação, nas áreas de atendimento às pessoas, e não na construção de grandes obras. E foi trabalhar para proporcionar o início das obras de urbanização dos córregos Bicano, Pai João, do Cintra. Com o acúmulo de serviços, com os recursos, parcos, já tendo pagado as dívidas, tudo isso acabou levando a administração a um momento de dificuldade. Tenho a impressão de que é este o problema. Agora, quanto à questão da malversação de dinheiro público, eu acho que é esse o único ponto positivo da administração de Athos Avelino. Não vejo na cidade ninguém fazendo queixa – e essa é uma das razões que me fazem curioso em saber por que determinados setores ficaram contra Athos, sem ter uma razão. Porque, se você falar com referência à honestidade, a honestidade de doutor Athos é inquestionável. Ele é um homem educado, sério, e quer ajudar Montes Claros. Quer fazer em Montes Claros um trabalho diferente, mais humanitário, mais preocupado com as pessoas, com a periferia e assim por diante. Então, eu fico preocupado porque acho na minha conclusão de toda essa discussão, que não deveríamos nos entregar às críticas tão contundentes dos meios de comunicação, dos políticos, principalmente. Penso que esse é o momento de fazer aquilo que você disse: unir nossas forças. Se não for a favor de Athos, que seja a favor de Montes Claros. Se começamos a fazer campanha antes da hora, nas nossas rádios, jornais, na televisão, na tentativa de destruir adversários, teremos então de fazer qualquer coisa para que alcancemos objetivos. Ou seja, teremos efetivamente de destruir pessoas que nos façam sombra. É assim num regime como o nosso, presidencialista. O ex-presidente da câmara dos deputados, João Paulo Cunha, disse, após a eleição de Lula, que tiveram de mentir, de denunciar coisas que não existiam para ganhar a eleição. Estão fazendo em Montes Claros a mesma coisa com Athos Avelino. Não entendo tamanha oposição a Athos, se não temos nenhuma denúncia concreta, real, de malversação de recursos e que ele tenha tomado consciência e não tenha tomado providências. Se houver, eu mudo o meu discurso e ele não terá o meu apoio. Mas isso não acontece. Isso não é verdade. Então, para que criar esses fatos? Para destruir Athos? Estamos destruindo Montes Claros, porque isso reflete lá fora, dificulta a vinda de recursos.
ON - O senhor acalentaria um sonho de ser prefeito de Montes Claros. Como estaria esse projeto?
HS -Candidato a prefeito eu não sou. Acabei de ser eleito deputado. É aquela história que lhe falei: temos de descer do palanque. Não é possível a política profissional. Nós temos de pensar no povo. Eu não posso, antes mesmo de tomar posse, dizer que sou candidato a prefeito de Montes Claros. Não sou. Até porque ser prefeito de Montes Claros não é um ato individual. Agora, quanto ao sonho de ser prefeito, é outra coisa. Todos podem sonhar em ser prefeito de sua cidade. Sei que poderia como prefeito, com a minha experiência, ajudar Montes Claros a crescer com qualidade. Mas isso é apenas um sonho. Temos de trabalhar dentro da realidade. Montes Claros hoje é uma cidade com muitos problemas e que por isso deveria, na verdade, ter muitos prefeitos. Por isso, penso que nós devemos nos unir em torno de um projeto comum, para que possamos construir a cidade de nossos sonhos.